Capítulo 39

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— Não esqueci. Eu não sabia muito bem para onde ir.
— Aonde você foi parar?
Viro a cabeça e olho para o vitral acima da porta sem pensar. De
dentro do café, o letreiro do mosaico é refletido de trás para a frente
nas luzes douradas e azuis.
— No Sun and Moon.
— No café onde eu trabalhava? — ele pergunta. Eu quase
esqueci. Já fazia um tempinho que não vinha aqui. Sam fica em
silêncio por um instante, e eu o sinto ouvindo os ruídos de fundo
através do celular. De repente, também tomo consciência deles: o
som dos bancos se arrastando pelo chão de madeira, o tilintar de
uma colher num prato de cerâmica, os murmúrios baixinhos de uma
conversa do outro lado da sala. — Foi aí que falei com você pela
primeira vez. Você estava sentada nos fundos do café. Você se
lembra?
Minha mente viaja para aquele dia. Um avental preto, o vapor de
um latte quentinho, um lírio de papel em cima do balcão. Sam serviu
minha bebida antes que eu pudesse fazer o pedido e nós
conversamos por horas. Isso aconteceu há quase três anos. Estou
na mesma mesa, não estou? A dos fundos, perto da janela. Quase
não me dei conta.
— Você costumava pedir um latte com mel e lavanda. Eu ainda
me lembro. Mas você não pede mais isso. Agora bebe café. Pelo
menos tenta — ele diz com uma risada.
Parece que foi ontem que estávamos sentados juntos aqui. Mas
não posso pensar nisso agora.
— Sam… — digo para trazê-lo de volta para o presente.
— Lembra aquela vez em que você queria um café expresso pra
terminar seu trabalho, mas eu disse que era tarde demais pra isso?
— ele continua, quase saudoso. — Você não parou de insistir, então
eu preparei a bebida, e você não conseguiu dormir a noite inteira.
Você ficou tão brava comigo…
— Eu não fiquei brava com você. Só estava mal-humorada.
— Lembra do show, naquela noite em que consegui um
autógrafo no meu violão? Nós também fomos parar no café, não foi?
Dividimos um daqueles cookies meia-lua… com cobertura branca,

Você ligou para o Sam Where stories live. Discover now