Capítulo 32

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O poste de luz que pende acima do portão range, apagado na
chuva.
O que estou fazendo aqui? O cemitério tem mais de cento e
sessenta hectares de terra aberta. Olho para cima e vejo
quilômetros de lápides enfileiradas. Não sei quanto tempo levaria
para encontrá-lo nem por onde começar. Meus pés ficam
congelados no concreto molhado. Não posso entrar. Não consigo
me forçar a fazer isso. Sam não está aqui. Não há nada para ver, a
não ser um lote de terra recém-coberto onde é para ele estar. Mas
não quero que essa seja a última imagem que vou ter dele. Não
quero essa lembrança. Não quero pensar nele tendo que passar o
resto da eternidade enterrado em algum lugar no alto dessa colina.
Eu me afasto alguns passos do portão, me perguntando por que
vim aqui. Isso foi um erro terrível. Sam não está aqui. Não quero
que esteja.
Quando menos espero, já estou de costas para o portão e quase
escorrego quando começo a correr novamente.
A névoa da noite já se transformou em pancadas de chuva
quando os muros de tijolos que percorrem o cemitério vão
desaparecendo atrás de mim. Não sei nem para onde estou indo
desta vez. Quero ir o mais longe possível. O mundo está caindo
quando entro na floresta. Continuo correndo até que a vista das
casas e das ruas fique muito para trás.
A chuva amoleceu o chão e o encheu de poças. Enquanto corro,
começo a me imaginar surgindo num mundo alternativo em que tudo
ainda está bem, e desejo poder viajar no tempo para voltar atrás e
mudar tudo. Mas não importa o quanto eu tente, não sou capaz de
controlar o tempo e o espaço para me desvencilhar de suas forças
que me puxam e me prendem.
De repente, meu pé fica preso em alguma coisa e caio no chão.
Meu corpo arde em um milhão de lugares antes de ficar dormente, e
então não sinto mais nada. Tento me levantar, mas não consigo
mover um músculo. Então, não me dou ao trabalho. Simplesmente
fico deitada no chão de pedras e folhas enquanto o céu continua a
desabar.
Sinto falta do Sam. Sinto falta do som da voz dele. Sinto falta de
saber que ele sempre ia me atender se eu ligasse. Não sei nem

Você ligou para o Sam Where stories live. Discover now