Capítulo 23

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— Você quer? — ela pergunta, pegando minha mão de novo. —
A gente pode ir agora. Juntas.
Eu puxo a mão de volta.
— Eu… eu não posso agora…
— Por que não?
— Tenho umas coisas para fazer — respondo vagamente.
— Tipo o quê?
Não sei o que dizer. Por que eu tenho que me explicar?
Mika se inclina na mesa e abaixa o tom de voz.
— Julie, eu sei que tudo isso foi terrível pra você. Tem sido
terrível pra mim também. Mas não dá pra evitar isso pra sempre.
Você deveria vir, se despedir dele. Especialmente agora. — Depois,
quase num sussurro, ela diz: — Por favor, é o Sam…
Sua voz falha ao dizer o nome dele. Ouço um choro se formar
em sua garganta enquanto ela dá um jeito de segurá-lo. Vê-la desse
jeito machuca meu peito, fica impossível falar. Não acredito que ela
usaria isso contra mim. Não consigo pensar direito. Preciso me
controlar.
Aperto minha xícara vazia.
— Eu já te disse, não quero falar sobre isso — digo de novo.
— Pelo amor de Deus, Julie — Mika me repreende. — O Sam ia
querer que você viesse. Você não esteve ao lado dele a semana
inteira. Não apareceu nem quando ele foi enterrado.
— Eu sei, e tenho certeza de que todo mundo tem muito a dizer
sobre isso também — rebato.
— Quem liga pro que todo mundo está dizendo? — Mika grita e
seu corpo meio que se levanta do assento. — Tudo que importa é o
que o Sam diria.
— O Sam está morto.
Isso silencia nós duas.
Mika me encara por um bom tempo. Seus olhos procuram os
meus em busca de sinais de culpa ou arrependimento, como se
estivesse esperando que de alguma forma eu corrija minhas
palavras, mas tudo que tenho a dizer é:
— Ele está morto, Mika, e minha visita não vai mudar nada.
Sustentamos nosso olhar pelo que parece um longo período de
tempo antes de Mika afastar os olhos. Pelo silêncio dela, sei que

Você ligou para o Sam Where stories live. Discover now