Capítulo 19

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Sinto uma leve friagem conforme avanço pela cidade. Ellensburg
fica a leste de Cascades, então rajadas de vento da montanha nos
atingem de vez em quando. É uma cidade pequena feita de prédios
históricos de tijolinhos e um amplo espaço aberto. É uma cidade
onde nada acontece. Meus pais e eu nos mudamos de Seattle para
cá três anos atrás quando minha mãe conseguiu um novo emprego
na Central Washington University, mas só nós duas ficamos depois
que lhe ofereceram uma vaga de tempo integral. Meu pai voltou
para o antigo emprego em Seattle e não olhou para trás. Eu nunca o
culpei por ter ido embora deste lugar. Aqui não era o lugar dele. Às
vezes também sinto que aqui não é o meu lugar. Minha mãe
descreve Ellensburg como uma cidadezinha antiga que ainda está
se descobrindo numa era em que todo mundo quer estar na cidade
grande. Por mais que eu mal veja a hora de ir embora deste lugar,
admito que ele tem seu charme.
Cruzo os braços ao chegar no centro da cidade e noto as
mudanças que a primavera trouxe nas últimas semanas. Cestos de
flores desabrocham sob os postes de luz. Uma fileira de tendas
brancas se estende pelo quarteirão principal para a feira livre
semanal. Atravesso a rua para evitar a multidão, na esperança de
não encontrar ninguém. O centro de Ellensburg costuma ser bonito,
especialmente nos meses mais quentes. Mas, ao caminhar de novo
por estas ruas, me lembro dele. Sam me espera sair do trabalho e
compramos falafels na barraquinha de comida. Vamos ao cinema
assistir a um filme nos “domingos por cinco dólares” e depois
passeamos pela cidade juntos. Quando o sinto parado na esquina, à
minha espera, meu coração dispara e penso em voltar atrás. Mas
não há ninguém ali, a não ser uma mulher entretida com seu celular.
Eu passo sem que ela perceba.
Minha amiga Mika Obayashi e eu marcamos de nos encontrar
para um café na lanchonete do outro lado da cidade. Há várias
cafeterias na região, mas ontem à noite mandei uma mensagem
para Mika dizendo que não estou nem um pouco a fim de encontrar
ninguém. “Nem eu”, ela respondeu. Dentro da lanchonete, estou
sentada a uma mesa ao lado da janela, perto de um casal de idosos
dividindo um cardápio. Quando a garçonete se aproxima, peço uma
xícara de café, sem creme nem açúcar. Costumo colocar um pouco

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