Capítulo 30

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A feira está chegando ao fim quando corto caminho por ela —
um lampejo de produtos caídos e pães derrubados. As pessoas se
viram para me olhar. Não me importa em quem esbarro à medida
que percorro as ruas do bairro na direção de casa. Pelo ângulo do
sol e o trânsito parado, deve ser fim de tarde. O caminhão de lixo
provavelmente passou horas atrás. Mas os horários mudam com
frequência e as coisas atrasam, e em algum lugar perto do meio-fio
a caixa com os pertences do Sam pode ainda estar por lá.
Assim que dobro a esquina e vejo minha casa, procuro pelo
meio-fio e percebo que ela sumiu. Tudo. Todas as coisas do Sam.
Quase tropeço quando uma sensação de peso e ansiedade toma
conta de mim, como se meu peito se enchesse de água, e esqueço
como respirar.
Corro para dentro de casa e dou uma olhada na cozinha. As
bancadas estão vazias. Procuro pela sala na esperança de que
minha mãe tenha me salvado de tomar uma decisão horrível e
trazido algumas das coisas do Sam para casa. Mas não tem nada
aqui.
Pego meu celular. Minha mãe está no escritório, mas ainda
consegue atender no quarto toque.
— Mãe, cadê você?
— Por quê? Julie, está tudo bem?
Eu me dou conta de como pareço sem fôlego. Mas não consigo
me recompor.
— A caixa com as coisas do Sam de hoje de manhã. Aquela que
eu deixei lá fora. Você trouxe de volta?
— Julie, do que você está falando? Claro que não.
— Então você não sabe onde está? — pergunto em desespero.
— Desculpa, não sei — ela diz. — Você está bem? Por que está
com essa voz?
— Estou bem. É só que eu… Eu tenho que ir.
Desligo antes que ela possa dizer mais alguma coisa. Meu
estômago afunda. É tarde demais. Tudo que tinha me restado do
Sam se foi.
De repente, lembro que faltei a todas as cerimônias realizadas
em sua memória — memórias que eu abandonei. Não me dei nem
ao trabalho de visitar seu túmulo. Não consigo ficar parada. Ando

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