Cap 15

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Acordei em meu quarto, em Velour. Minha nova casa. Trocaram minhas roupas e estou completamente limpa. Meus pulsos estão enfaixados e doloridos. Minha costela está roxa, mas já não dói tanto. Estou sozinha no quarto e tento me recordar de como vim parar aqui. Lembro de estar nos braços de Bill, a fogueira com corpos. Será que vim nos braços dele até aqui? Deuses.
Me levanto lentamente sentindo as pontadas de dor, abro as cortinas e o dia está claro. Lindo. Saio do quarto, procurando por Georg. Passo pelos quartos de Xylia e Dante, a de Hannes e Carmilla estavam abertos. Tinha dois quartos a mais, um estava trancado, e o segundo, finalmente encontrei Georg. Ele estava sentado na cama comendo
— Oi – ele diz se ajeitando — como você está? Não pude ir até seu quarto.
— Estou bem. Quer dizer, melhor. E você? — digo, me aproximando e me sentando devagar na cama.
— Bem. Quase não sinto as dores.
— Eu vou querer saber o que fizeram com você? — pergunto, segurando sua mão e sentindo meus olhos encherem de lágrimas.
— Mary...
— Eu vou matar Alastir e Morgana. Eu juro. Eu tenho que fazer.
— Depois vemos isso, tudo bem? — ele diz, beijando minha mão cuidadosamente e ignoro a dor no pulso.
— Sabe onde está Bill?
— Ele disse que iria pro jardim. Talvez ainda esteja lá.
— Tudo bem. Eu volto daqui a pouco.
   Saio do quarto encostando a porta e dou de frente com Dante.
   — Ei — digo — como você está?
   — Com certeza melhor que você.
   — Obrigada.
   — Você foi capturada.
   — É, mas me ajudou com Georg. Obrigada.
   — Você é o par de Bill. É nosso dever. — ele diz, pisca e sai. Sorrio. Vou em direção ao jardim devagar por conta das dores. Um grande vitral separa o hall em mármore, onde estou, do jardim lá fora.
Vejo Bill andando entre as estufas e caminho até ele.
   — Ei, você não devia se esforçar tanto. Precisa se recuperar. — ele diz assim que me vê, segurando meu rosto — você está bem?
   — S-sim, estou — digo, desnorteada com a beleza de Bill tão perto de mim agora — eu queria falar com você.
  — Sim? — ele olha em volta — vamos sentar ali, não fique muito tempo em pé.
  Fomos até o pequeno banco embaixo de uma salgueiro vermelho.
   — Bill — pigarreio — Dante me contou.
  Bill me olha sem compreender.
   — Meio corações. Os pares.
   — Ah. Eu sinto muito.
   — Não sinta — digo e pego sua mão cuidadosamente e coloco sobre meu colo — Você me salvou.
  — Eu tenho algo pra você. — Bill pega a minha adaga e me entrega.
   — Deuses, como encontrou?
   — Tom a encontrou. Não eu. Mas ele ficou com receio de você ameaça-lo de novo.
Rio, e sinto a costela doer e levo a mão até a mesma.
— Ainda dói muito?
— Um pouco — digo e Bill semicerra os olhos — ok, talvez um pouco mais que um pouco.
— Deixe-me ver.
Relutantemente, levanto parte da túnica e Bill examina.
— Está bem melhor do que estava.
— O quê? Estava pior que isso?
— Bem mais — ele diz, um pouco constrangido e ficamos em silêncio por um tempo.
— Você está quieto demais.
— Eu... desculpa, Mary. Pelo que fizeram.
— Você não teve culpa.
— Eu escondi as coisas sobre você. E querendo ou não, Alastir é...
— Você não precisa dizer isso. Não foi da sua responsabilidade. O que você quer fazer?
— Eles fizeram isso com você, não comigo. Você deve escolher.
— Mas...
— Se você não fizer, eu farei. O que seria um desperdício já que a vingança é sua.
  Encaro Bill por um momento.
   — Você deveria saber que qualquer pessoa que ousasse te ferir é alguém morto.
  Suas palavras fazem meu coração disparar e um arrepio corre por minha espinha. Eu tenho certeza que ele faria.
   — Certo. Eu quero fazer isso.
   — Vem, vamos para o salão. Dante tem uma ideia.
  Bill me olha antes de começar a andar e eu sigo atrás do mesmo, segurando sua mão. O gesto faz com que ele olhe nossas mãos entrelaçadas e desvie o olhar pra mim. Ele segura minha mão com mais força e então seguimos o forte à dentro.

                                    *

    – Não acho uma boa ideia — Hannes diz — entrar de modo à caralh0? Sem um plano? Que merda é essa?
     – É, Tom, a ideia foi uma bosta. Fique quieto. — Xylia diz — Explique seu ponto, Dante.
   — Obrigado, flor. Então — Dante abre o mapa sobre a mesa — eu fiz esse caminho com Mary para encontrar Georg. Eles nos pegaram aqui, e os túneis, é nessa direção.
   — Tá, e o plano? — Bill diz.
    — Mary, quer falar sobre?
    — Alastir tem guardas por todo o castelo. Gustav é um aliado lá dentro, eu espero. Podemos ir pelas masmorras até estarmos perto o suficiente para usar a persuasão com Gustav. Eu adentro e vocês ficam em posição, até eu chegar no salão real, ou nos aposentos, dependendo da hora que formos. O que aconselho ser a noite, já que há o revezamento de turnos. Sei onde fica os aposentos — Olho pra Bill, que entra em minha mente e vê as imagens. Penso exatamente nos lugares e corredores. Sinto o fio que liga meu pensamento e o de Bill sumir, que é quando ele sai. Bill mostra o castelo para cada um na sala.
    — Não parece tão difícil – Carmilla diz.
    — E que horas saberemos que há a troca de turno? — Tom pergunta.
    — São às 19, 00 e às 4 — digo e todos me encaram — O que foi? Meu pai trabalhava para Alastir.
    — Posicionamos em cada beiral dos corredores. Entraremos assim que houver a troca, e apagamos as tochas — Bill diz.
    — Mas e eu? — Georg pergunta e aproximando de nós.
— Verdade, esquecemos de você — Dante diz e ri, fazendo todos acompanharmos.
— Não devemos ir logo. Precisamos nos recuperar completamente — Bill diz e segura minha mão na frente de todos, fazendo seus olhares irem em direção à nossas mãos — mas em breve.
    Os curativos em meu pulso mancham aos poucos com sangue, e Georg sussurra em meu ouvido me fazendo prestar atenção nos meus pulsos.
    — Ah... com licença. — digo e saio com as mãos na frente do meu corpo.
    – Ainda deveria estar sangrando assim? — ouço voz abafada de Carmilla.
    — Certamente não — Tom diz. Ando pelo corredor até chegar em meu quarto. Meus pulsos estão encharcados de sangue. Que merda é essa?
    Estou pegando as coisas para refazer o curativo, quando Bill entra no quarto.
    — Posso entrar?
    Faço que sim com a cabeça.
    — Quer ajuda com isso?
     – Eu... eu não entendo. Por que sangra tanto assim?
    — As correntes são justamente pra isso. Mesmo que saia, os cortes são feitos de modo que demorem pra cicatrizar. Posso? — ele diz e começa tirar as faixas.
   — Deuses — digo, ao ver a carne ralada profundamente em meus pulsos. Bill fica em silêncio e vejo seu maxilar se contrair. Cuidadosamente ele passa a mistura sobre a pele ferida, o que me faz recuar. Solto um gemido.
   — Desculpa...
   — Tudo bem, pode continuar — digo e mordo as bochechas até sentir um gosto metálico na boca.
   Bill começa a enrolar as faixas no meu pulso e a dor finalmente começa a diminuir.
   — Bill?
   — Hm.
   — Me conta sobre os meio corações?
   Bill me olha e parece que há vagalumes em seu olhar.
   — O que quer saber?
   — Tudo — respondo rapidamente e Bill sorri.
   — Tudo bem. O primeiro caso foi Devika, Hayes e Antheia.
   — Devika?
    — Pois é. As lendas são diferentes. Antheia e Hayes eram meio corações um do outro. Mas Hayes amava Devika. O laço não pode ser negado. Pode se recusar, mas por motivos de força maior, não porque ama outra pessoa.
    — Mas... e Antheia?
    — Hayes ascendeu Antheia em uma deusa, e por isso, se transformou na deusa do paraíso e jardins. Que, mesmo que não pudesse ficar com ela, ele criou os jardins para seu amor.
   Sinto um nó em minha garganta.
    — Como o laço acontece?
    — Só acontece.
    — Isso significa...?
    — Não... não é de seus costumes... não precisamos ficar juntos.
    — Você me ama...?
    — Mary...

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Pain Of Love - 1ª TEMPORADAWhere stories live. Discover now