Cap 3

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— Esse lugar parece pior cada vez que venho aqui.
— Nem me fale.
Ouvimos sons de outro cavalo, e antes mesmo de virarmos, eu estava apontando a flecha, e Georg as facas.
— Bom dia – diz Gustav, comandante Real – imaginei que fossem estar aqui.
— Como aconteceu? – pergunto.
— Os 3 bebês estavam amontoados ali — ele aponta para a parede — sem uma gota de sangue.
— Palpites? – pergunta Georg.
— Rei Alastir acredita que seja o clã Kaulitz no vilarejo.
— Faz dezenas de anos que eles não vem. Todos sabemos que eles ficam em Berk, no continente.
— Não é o que parece — Gustav desce do cavalo e ilumina o outro lado da gruta com o lampião. A imagem me choca.
— "Estamos entre vocês"? — a frase escrita com sangue escorre, formando uma pequena poça — qualquer um pode escrever isso – completa Georg. Desço de Fergus e ponho as mãos na parede, sussurrando as palavras "que as deusas Devika e Antheia as façam encontrar seus jardins". E aí eu percebo.
— Espera. Se os bebês não ficaram com uma gota de sangue, de quem é esse na parede? Quer dizer, se fosse dos bebês teriam rastros ao chão.
— Você sempre observadora, não é, Florence? — diz Gustav e algo em sua voz me faz arrepiar — é o que queremos descobrir. Vamos.
    Subo em Fergus e seguimos atrás de Gustav. Fico em silêncio o restante do caminho, enquanto Gustav e Georg conversam sobre as tavernas na cidade. A temperatura parece ter caído, e a névoa se forma sob nossos pés.
— O rei e a rainha desmarcaram seus compromissos. Vamos direto ao castelo – diz Gustav.
     — Se for o clã Kaulitz envolvido...
    – São os Kaulitz. – interrompe Gustav.
    — Se for, como faremos? Eles não são vistos há anos — falo com Georg.
    — E aí, teremos que encontrar um jeito.
     Chegamos ao castelo. Deixamos nossos cavalos e seguimos aos portões. Um guarda abre as portas para o salão real, onde há os tronos e o rei Alastir e a rainha Morgana estão.
    — Georg Listing e Meridia Florence, do clã Florence, majestade — diz Gustav.
    — Majestades — eu e Georg dizemos uníssono nos curvando.
    — Meridia. Pode tirar o capuz agora, querida – diz a rainha.
    — Com sua permissão, majestade – digo e tiro o tecido.
    — Como vocês sabem, sofremos outro atentado ontem à noite. Três bebês foram mortos e deixados na gruta — começa o rei — Não temos dúvidas de que seja Bill Kaulitz por trás disso.
    — Perdão, majestade — interrompo e Georg me olha arregalando os olhos — mas como tem certeza de ser o clã dos vampiros? Eles não estavam desaparecidos?
    — Deveriam, Meridia. Mas claramente não estão.
    — Certo.
    — Continuando... Os três...
    — Então é só dedução? – pergunto.
    — E o que mais seria, querida? – o rei parece cuspir a última palavra.
    — Alguma criatura que tenha voltado? Lupinos?
    — Então está apenas deduzindo?
    — Mas não acusando.
    — Certo. Estamos perdendo o foco – diz a rainha — Gostaríamos da ajuda de vocês para ficarem ao lado do comandante Gustav. Vocês conhecem as terras, como lidar com essas situações. Gostaríamos da colaboração de vocês.
     — Sim, senhora, majestade — diz Georg.
     — Claro, majestade — digo e abaixo a cabeça. Sinto o olhar de Alastir sobre mim.
— Estão dispensados – disse o rei.
Cubro novamente meu rosto, fazemos a reverência e saímos.
— Tu enlouqueceu?
— Eles não podem culpar alguém sem ter certeza. É injusto.
— Cara, mais um furo desse e o rei te manda pro continente.
— Ele não gosta de mim. Aposto que se eu não fosse necessária, ele teria mandado empalar uma adaga no peito — Georg fica em silêncio. Ele também concorda.
     — Amanhã vamos vasculhar o Bosque da Orquídea pra procurar alguma coisa. Algumas pessoas aconselharam irmos lá — assenti.
Montamos nos cavalos e vamos pelas ruas principais. As pessoas chorando e seus rostos aterrorizados me chocam. O rapaz dos avisos grita, anunciando a Noite das Luzes e o toque de recolher às 20h. Os burburinhos e sussurros quando passamos me incomoda. Eles sabem quem eu sou. Nunca me viram, mas sabem que sou uma Florence.
Georg continua à minha frente. Me coloco à seu lado.
— O que você acha disso tudo?
— Não quero tirar conclusões sem ter ao menos uma base. — digo.
— E se for os Kaulitz? O que sabemos sobre eles?
       — Nada – suspiro — não sabemos nada.
Chegamos à cabana. Georg guardou os cavalos e entrei no quarto pra pegar o mapa do continente. Abri o mesmo sobre a mesa.
— Descobriu alguma coisa? – Georg diz e me sobressalto com a voz.
— Não, nada. A última vez que foram vistos, foram em Berk. Mas isso faz anos.
— É a nossa única pista. Não acho que o Bosque da Orquídea vá ajudar em algo também.
— Considerando que seja o clã Kaulitz. Como faremos? Bill Kaulitz é uma das criaturas mais antigas que existem.
— Adaga de Neith?
      — Não podemos arriscar. E se não funcionar? É uma chance que daria muito, muito errado.
      — Certo. Qual o plano?
      — Se infiltrar.
      — Como é?
      — Entrar no forte do clã, fazer amizade, apunhalar por trás.
      — Uh, durona.
      — Tem ideia melhor?
      — Na verdade não.
      — É a única maneira de descobrirmos se são eles. Ganhar confiança.
      — Tudo bem. Partimos quando?
      — Amanhã, depois do Bosque da Orquídea. Pegaremos a Floresta Negra e seguiremos o Rio de Keres.
      — Rio de Keres? Você sabe o que significa Keres, né?
      — Sei.
      — E vamos beirar o rio que o nome literalmente é espíritos de morte?
       — Aham.
       — Isso vai ser intenso.
       Traço a rota no mapa, pego a bolsa e coloco as facas, adagas, algumas frutas.
      — Amanhã pegaremos mais comida. Mas agora, vamos, a Noite das Luzes vai começar.
      — Ok.

                                       *

O vilarejo está quase todo escuro. Há apenas poucas luzes acesas dentro das casas, e até as iluminações da rua foram apagadas. As pessoas estão acendendo suas velas, uma a uma e caminhando em direção à praia. Algumas pessoas choram, outras abraçam seus filhos. Parou de nevar, mas ainda está frio. As pessoas caminham formando uma pequena multidão. Não vejo Alastir e Morgana.
      Assim que chegamos à praia, as mães que perderam seus filhos colocaram flores na areia. Outras que já perderam os seus anteriormente, colocam mais flores também. A cena toda é triste. Desvio o olhar e percebo que Georg, ao meu lado, faz o mesmo. De repente, tenho a sensação que estamos sendo vigiados.
      – Mary? – Georg pergunta — Você também tem a sensação...?
      — De estar sendo vigiada? Sim e não gosto nem um pouco.
    Olhamos ao redor e sinto a mão de Georg em meu cotovelo. Um sinal silencioso. Acompanho seu olhar que mira as árvores próximas de nós.
       – Você também está vendo?
       — Sim.
       — Ele é...?
       — O Bill Kaulitz. O próprio líder do clã.


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Pain Of Love - 1ª TEMPORADAWhere stories live. Discover now