Cap 14

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   Dois meios. Laço. Um coração inteiro. As palavras martelavam em minha cabeça. Dante dormiu, me deixando de vigia. Separei umas ervas quando chegamos aqui e misturei para colocar nos pulsos de Georg. Passo novamente nos pulsos de meu primo e ouço gemer. Meu estômago se retrai com o barulho.
     Dante acorda depois de um tempo, sendo a minha vez de descansar. Pego facilmente no sono, como há tempos não fazia. Durmo tranquila.

       
                                      *

Ouço um barulho, abro um dos olhos e vejo que Dante está mexendo em um dos cavalos um pouco mais a frente de nós. Georg ainda está dormindo. Mudo minha posição e é quando alguém tapa a minha boca, abafando o meu grito, não alcanço minha adaga a tempo. Uma dor atrás da minha cabeça me faz arrepiar. Apago logo em seguida.

*

Acordo com um cheiro putrefato invadindo minhas narinas. Sinto o chão molhado abaixo de mim. Pedras. Tento me levantar mas as correntes, como as mesmas que Georg usava, cortam aos poucos meus pulsos. Quando mais me mexo, mais fundo são os cortes. Não alcanço minha adaga, e quando tento ver, ela não está na bainha. Estou na masmorra. Na masmorra do Castelo de Lanark. A minha casa. Apago novamente batendo a cabeça no chão.

*

Uma dor reverbera na minha costela depois de um chute. Gemo, e recebo outro.
— Levante-se. — um guarda diz.
Levanto aos poucos sentindo a ardência em meus pulsos fazendo meus olhos lacrimejarem.
— O quê...? — um tapa no meu rosto faz com que eu sinta o gosto metálico na boca. Olho para o guarda. Não o reconheço, mas vejo o brasão de Lanark.
— Alguém quer ve-la.
Me encolho, ignorando as dores.
— Você sempre me deixou um pouco excitado, Meridia. Acho que Morgana sabia disso. — reconheço a voz de Alastir e estremeço. — mas deuses, você nesse estado é uma coisa muito mais interessante.
— Vai se fud3r — digo e recebo outro tapa no rosto, sorrio — você é um escroto do car4lho.
— Eu ainda sou seu Rei, Meridia.
— Os Kaulitz vão me salvar. Você é um homem morto. Se não eles, eu vou te matar.
— Querida... – ele disse, andando de um lado para o outro — eles não vem. Não deixamos rastros. Além disso, meus guardas estão indo até Velour. Matarei um por um.
A bile sobe pela minha garganta. Penso em Dante. Céus, em Georg.
     — Onde eles estão?
— Seu priminho... — ele começa e avanço contra o mesmo ignorando os vidros cortando meus pulsos. — Isso está feio. Deveria parar com isso. Está mexendo demais comigo.
— Velho nojento. Se alimenta de crianças inocentes. Não assumiu os próprios filhos. Miserável.
— Sabe — ele continua, me ignorando — foi fácil achar você. Venha aqui, rapaz. – ele chama — Pode vir.
Gustav sai das sombras e se recusa a olhar pra mim.
— Foi tão fácil...
— Eu não tive escolha, Mary! Eu juro! — Gustav grita e chora, quando Alastir manda retira-lo de sala.
— Não o machuque. — ameaço.
— Ah, eu não vou. Já Pearl... não é, querida?
— Olá, Florence — ela diz e as sombras em seu rosto a deixam com uma aparência de me fazer estremecer — o sobrenome é como um doce na minha boca.
— Filha da put4.
Ela ri e me encolho mais um pouco.
— Não tente fugir, querida. Precisamos do seu sangue para fazermos mais de nós.
Eles saem me deixando sozinha no escuro. Quanto tempo faz que estou aqui? Horas? Dias? Olho em volta e não vejo nada que poderia me ajudar. As feridas queimam em meu pulso, me dando arrepios. Há uma pequena abertura gradeada no alto da parede de pedra, a única fonte de luz é a lua prateada que invada a cela. Faz tempo que não como ou bebo, e minhas costelas doem diante dos chutes.
     De repente, uma canção surge em minha cabeça, e começo a canta-la baixinho, como um sussurro. A música que minha mãe cantava.

vetus lignum rubrum in ventum
vetus carmen in corde meo
bruma favilla
pectore ardet
flores virent in me

   Sinto uma lágrima escorrer e me encolhe. Que Ophelia me ajude.

                                      *

   Acabei adormecendo em algum momento, acordei com a barriga doendo de tanto tempo sem comer. Ainda está de noite, mas ao invés da luz prateada da lua, uma cor avermelhada viva brilha através da pequena janela, invadindo o lugar. Um cheiro de queimado e fumaça entram e eu tento tampar meu nariz. A porta do corredor se abre.
    — Mary? — ouço a voz de Bill. Devo estar alucinando — Meridia! — Bill me chama mais alto.
    — Bill? — pergunto — Bill, é você?
   Ouço mais de uma pessoa correndo e vejo Bill e Tom do outro lado. Deuses. Vejo o maxilar de Bill trincar, é quando ele segura as barras de ferro e entorta como se fosse um galho de uma árvore seca. 
    — Bill, é você mesmo.
    — Sou eu, caçadora — ele diz passando a mão em meu rosto — deuses, o que fizeram com você?
    — E aí, princesa — Tom diz e eu não consigo não sorrir, e quando faço, sinto a ardência na ferida da minha boca.
   — As correntes tem espinhos, não consegui tirar — digo olhando meus pulsos em carne viva. Tom se ajoelha ao meu lado também. Quando ambas as correntes são soltas, Bill olha para meus pulsos e não diz nada. Um olhar frio passa por seus olhos.
    — Vem, precisamos sair — Tom diz.
    Levanto mancando um pouco, com a mão na costela.
    — Tá tudo bem aí? — Tom pergunta e vejo o olhar de preocupação de Bill.
   — Deixe-me ver — Bill manda.
    — Está tudo bem.
    — Agora.
   Bill caminha até mim e levanta a túnica o suficiente para ver o roxo em minhas costelas. Ele dá um soco tão forte na parede que algumas pedras deslizam. Deuses.
    Bill me pega no colo facilmente e nós seguimos atrás de Tom. Vejo guardas decapitados e degolados, as roupas manchadas de sangue. Desvio o olhar e apoio no ombro de Bill, sentindo seu corpo retesar.
    Ao sairmos dos calabouços, vejo Hannes. Mais distante, ouço as risadas de Xylia e Carmilla. Estavam tacando corpos na grande fogueira.
    — Onde está Georg?
    — Em Velour. Dante está cuidando dele. — Bill responde. Os outros andam à nossa frente
   — Como você me encontrou?
   — Sua música. Eu a ouvi. Senti. Estávamos próximos mas foi o suficiente pra te encontrar.



tradução:
latim - português

uma velha árvore vermelha ao vento
traz uma velha canção em meu coração
brasas no inverno
meu peito queima
surgindo flores em mim

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Pain Of Love - 1ª TEMPORADAWhere stories live. Discover now