Capítulo 13 - Madrugada no telhado

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Será que Dolores sabe algo sobre tudo isso? É provável que sim, dificilmente há algo em Encanto que escape dos ouvidos da irmã de Camilo, principalmente se fosse um pedido secreto para esconder algo.

Camilo teme que ela até mesmo tenha um caco escondido no quarto dela, mas não sabe o porquê. Talvez seja porque essa é a única maneira lógica de fazer ela manter um segredo: torne o segredo dela também. Se for esse caso, então pelo menos há um caco com cada adulto da casa, o que pode dificultar um pouco as coisas na hora de procurá-los.

- Eu tenho que dizer isso pro Carlos amanhã, mas como vou fazer pra contar sem a Dolores ouvir? -

Ele se questionou enquanto colocava a mão no queixo pensativamente. Ele se lembrou de como Carlos parecia desanimado antes de ir dormir, ele lembra de como os olhos dele estavam vermelhos e marejados.

Feito de ferro. Essa é a impressão que Camilo tem de seu irmão gêmeo, pois ele não consegue imaginar alguém de carne e osso aguentando o que Carlos teve que aguentar todo dia durante os últimos 10 anos. Insultos, ofensas e xingamentos silenciosos e barulhentos, implícitos e explícitos, olhares aterradores e dedos julgadores que apontavam para o "gêmeo maligno" mesmo quando ele não tinha feito nada. É escusado dizer que Camilo não suportaria o que seu irmão suporta, ele já se sente péssimo quando alguém grita com ele, o que dirá se a vila inteira o odiasse por nada.

Camilo admira Carlos por sua resiliência, mas sabe que seu irmão tem limites como qualquer humano comum, e por isso ele quer ajudar. Ele apenas não sabe como. Não tem como levantar no meio da madrugada para olhar a Vela do Milagre de perto para tentar descobrir o que tem de errado com ela ser um bom plano, não é?

- Que droga! -

Camilo exclamou enquanto tirava o lençol de cima dele e começava a correr por seu quarto. Na parte de trás do teatro há um camarim com as coisas do Camilo, é lá onde ele dorme, então ele tem que andar um pouco apenas para sair do próprio quarto.

Chegando na sua porta, Camilo a abriu com o máximo de cautela possível para fazer o mínimo de barulho possível, colocando apenas a cabeça para fora do quarto para olhar o arredor para garantir que ninguém o veja. Depois de se certificar de que não havia ninguém por perto, Camilo saiu de seu quarto e fechou cuidadosamente a porta atrás dele e então começou a caminhar entre os corredores dos quartos, sempre atento e ocasionalmente olhando para trás para certificar-se de que não havia ninguém o vendo, mas em uma dessas olhadas ocasionais, quando ele se virou, ele se deparou com Mirabel, que estava fazendo o mesmo movimento que ele. Ambos, ao se encontrarem repentinamente, gritaram assustados, mas rapidamente tamparam as próprias bocas para não fazer mais barulho.

- Camilo? O que você tá fazendo aqui? -

Mirabel perguntou quase que com um sussurro, não querendo que ninguém a ouça conversando com seu primo.

- Eu que pergunto. O que que você tá fazendo aqui? -

Camilo perguntou de volta com o mesmo tom de voz, preocupado não que Dolores os ouvisse, mas que Carlos os ouvisse conversando, pois o quarto dele, diferente do quarto da Dolores, não é a prova de som.

- Eu tô indo ver a Vela do Milagre pra ver se eu descubro alguma coisa. -

- Eu também. O Carlos me contou tudo mais cedo e eu não consigo dormir com isso na cabeça! -

- Tá bom, então vem, mas faz silêncio! -

- "Tá bom, então vem, mas faz silêncio!". -

Camilo repetiu o que Mirabel disse em tom de zombaria enquanto transformava seu rosto no rosto dela, o que aborreceu sua prima.

- Vem logo! -

Mirabel exclamou em voz baixa enquanto puxava Camilo pela orelha, o metamorfo voltando para sua forma original enquanto diz: "Tá, já parei!" com um pouco de dor.

Já no telhado, a dupla dinâmica de primos caminhou cuidadosamente em cima das telhas da Casita até chegarem à janela do quarto da Abuela, onde a Vela do Milagre sempre ficava. Os dois encararam a Vela com curiosidade e confusão, nem uma ideia sequer do que poderia estar acontecendo com a magia se passando pela mente deles, mas antes que pudessem realmente divagar em pensamentos, o par de primos se puseram contra a parede quando perceberam Abuela se aproximando. Ela está com um olhar apreensivo em seu rosto enquanto segura cuidadosamente em suas mãos um pingente com a foto de seu falecido marido, Pedro.

- Ai, Pedro, preciso de você. Rachaduras na nossa Casita? -

Alma Madrigal questionou o que Mirabel alegou mais cedo durante a festa com medo e pesar em sua voz, sua testa franzindo-se numa expressão de tristeza e preocupação.

- Se nossa família soubesse como nós somos frágeis. Se nosso Milagre está morrendo... -

Alma não completou sua frase, memórias de 50 anos atrás voltando à sua mente com o fervor de uma guerra. O tinir de espadas banhadas em sangue, o craquelar de chamas consumindo casas inteiras, os gritos de horror e tristeza das vítimas e dos sobreviventes da Guerra dos Mil Dias. Alma ofegou com dor e tristeza, oriundos de feridas e cicatrizes que marcam seu coração já faz 50 anos. Uma única lágrima ríspida escorreu por seu rosto enquanto ela respirava profundamente e recuperava sua compostura.

- Nós não ficaremos sem casa de novo. O que está acontecendo, Pedro? Abra meus olhos. Se a resposta está aqui, me ajude a encontrá-la. Me ajude a proteger a nossa família. Me ajude a salvar nosso Milagre. -

Alma então beijou o pingente com a foto de Pedro e se virou para deitar-se e enfim dormir.

Camilo não sabia o que pensar, ele sempre viu Abuela como uma figura rígida, uma rocha inamovível e inabalável. Vê-la em um estado tão fraco o deixou confuso e até mesmo o fez sentir-se um pouco mal por ela. Ele conhece um pouco sobre a Guerra dos Mil Dias, mas apenas conhecê-la não o faz ter noção do quão horrível ela foi e de como os mais velhos se sentem em relação a ela, e isso o fez perceber que talvez seu irmão se sinta muito pior do que deixa transparecer para ele. Isso fez Camilo se decidir: ele vai ajudar Carlos, ele vai ajudar Mirabel, ele vai ajudar a magia.

- Eu vou salvar o Milagre. -

Ele e Mirabel disseram em uníssono, ambos inconscientes de suas companhias enquanto processavam o que acabaram de ouvir de Abuela, o que até mesmo os espantou um pouco e fez os dois se encararem rapidamente, finalmente lembrando de que estavam juntos. Depois disso, Camilo e Mirabel desceram do telhado da Casita e foram para seus respectivos quartos, ambos determinados a se ajudarem para salvar o Milagre custe o que custar. O que Camilo não esperava era que Carlos estava sentado em sua cama o esperando ainda vestido em seu pijama, que consistia em uma calça de linho azul-petróleo e uma camisa vermelho-vinho folgada, com as pernas cruzadas uma por cima da outra e os braços cruzados sobre o peito.

- Pode começar a falar, e não poupe um único detalhe sequer. Eu quero até transformações! -

O gêmeo mais novo ordenou com raiva, sua testa franzida em uma expressão aborrecida e irada. Ele havia acordado pouco antes de Camilo se levantar para averiguar a Vela, e quando tentou pegar no sono mais uma vez, se assustou com o grito de Camilo e Mirabel quando eles se encontraram nos corredores, ele está esperando Camilo para explicar tudo desde então.

- Então... Por onde começo? -

Camilo perguntou com um sorriso nervoso enquanto coçava a nuca, sabendo que seu irmão estava irritado pelo grito de mais cedo. Contudo, sem que ninguém pudesse perceber, um fulgor resplandecente explodiu da porta de Carlos, quase como a porta de Antonio mais cedo, porém, tão rápido quanto surgiu, o fulgor da porta de Carlos minguou e então ela voltou a emitir o seu brilho mágico comum, como se nunca tivesse resplandecido.

Olá. Para compensar que levei mais de um mês para postar o último Capítulo, decidi usar 100% do meu poder para escrever, revisar e postar esse Capítulo hoje. E eu acho que vou passar a postar os próximos Capítulos apenas de noite a partir de agora, ou apenas por enquanto para testar uma coisa. De qualquer forma, espero que tenham gostado desse Capítulo focado no Camilo, talvez o próximo Capítulo conte a visão de Carlos e conte o porquê de ele ter acordado no meio da madrugada.

Dito tudo, passar bem, caro leito, e até a próxima.

O Gêmeo Maligno - PausadoWhere stories live. Discover now