Capítulo 2 - Um encontro na praça

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- Carlos POV -

Já sabendo que Dolores e Camilo estavam juntos, eu comecei a correr através de Encanto procurando por eles, ainda tomando cuidado para não deixar um rastro de poeira para trás pra poupar meus ouvidos das reclamações de todo mundo.

Eu simplesmente não suporto ouvir tantas reclamações sobre mim o tempo todo: "O Carlos bagunçou tudo de novo com a velocidade dele!", "Minha casa ficou imunda por causa da poeira que ele levantou correndo!", "Alma, você tem que fazer algo sobre aquele moleque, ele é um desastre ambulante!", "Ele mais atrapalha do que ajuda!", "Ele é o gêmeo do mal, faz parte de quem ele é."... O último em particular é o pior, mas eu prefiro simplesmente ignorar e aceitar, até porque eu já me acostumei com isso. Pra ser sincero, depois de tanto tempo sendo chamado de gêmeo maligno do Camilo, até que ficou engraçado atormentar as pessoas usando essa desculpa, transformar essa praga na minha vida em uma forma de me divertir um pouco e descontar o estresse que a Abuela e os outros me causam.

De qualquer forma, depois de passar quase um minuto procurando por meus irmãos, o que é muito tempo para alguém como eu, eu finalmente encontro os dois, sentados em um dos bancos da praça de Encanto. A praça não é muito grande, até porque não é a praça central, mas ela tem algumas palmeiras, alguns bancos de madeira espalhados e uma fonte bem no centro.

- Finalmente! -

Eu exclamei com cuidado, não querendo gritar nem falar alto demais por causa da minha irmã, enquanto me aproximava dos meus irmãos.

- Bom dia, hermanito. -

- E aí? -

Eles me cumprimentaram depois que parei bem na frente deles, Dolores, como sempre, falando tão baixo que quase sussurrava. Não posso culpá-la, a Super Audição é um inferno dolorido quando não se pode controlar quando ela está ativada ou não, falar baixo é o máximo que ela pode fazer pra amenizar essa dor.

- Vocês já tão aqui há muito tempo? -

- Eu não. Tava fazendo alguns serviços aqui e ali e decidi dar uma passeada pela praça, aí eu encontrei a Dolores e a gente resolveu se sentar aqui. Uns dois minutos depois, ela disse que você tava correndo por Encanto e falando sobre a mamá. Mas e aí? Quer sentar um pouco? -

Camilo ofereceu, mas antes que eu pudesse aceitar a oferta, eu notei alguns aldeões que estavam me encarando de canto de olho e murmurando as mais diversas coisas sobre mim, a maioria delas extremamente grosseiras e desagradáveis de ouvir. Parece até que eles esquecem que a Dolores tem Super Audição e que ela tá literalmente sentada na minha frente.

- Não ligue para eles, hermanito. Eles não sabem como você é incrível. - (Quase sussurrando)

Dolores me consolou calmamente, seu comentário deixando Camilo confuso por um momento, mas logo ele também notou os olhares e sussurros e também começou a ficar irritado. Com um suspiro pesado, eu respondi:

- Não, tudo bem, não é como se eu já não tivesse me acostumado. Além disso, não é como se não houvesse pelo menos uma pessoa em Encanto que goste de mim, né? -

Dolores e Camilo ficaram em silêncio, se entreolhando enquanto eu os encarava aguardando por pelo menos um "sim" de aprovação, mas essa "sim" nunca veio. Eu não acredito numa coisa dessas. Meu irmão eu sei que é um idiota e por isso não iria conseguir pensar em ninguém, mas Dolores também...? Soltando um suspiro irritado enquanto esfregava os olhos com frustração, eu falei:

¡¿Esto es serio?! Por favor, gente, pelo menos o Seu Zé gostava de mim! Ele enchia minhas mãos de balinhas toda vez que me via! -

- Cara, o Seu Zé gostava de todo mundo! E ele dava balinha pra qualquer que visse, não lembra? Uma vez ele me deu tantas balinhas que eu tive que usar minha ruana de sacola, e ainda assim quase não deu pra levar as balinhas pra casa... De onde é que ele tirava tantas balinhas...? -

O Gêmeo Maligno - PausadoWhere stories live. Discover now