Capítulo 9 - Mesmo problema, soluções diferentes

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- Carlos POV -

Enquanto a chama da Vela do Milagre enfraquecia, quem estava quase apagando agora era eu. Minha visão ficou turva e eu comecei a ficar tonto, tendo que me apoiar no parapeito pra simplesmente me impedir de cair e desmaiar. A tosse já passou e a dor diminuiu, mas ainda tô com dificuldade pra respirar, cada respiração ainda parece atear fogo na minha garganta e nos meus pulmões, minha cabeça ainda tá latejando de dor e eu tô ainda mais cansado do que antes.

- Eu só queria ter uma conversa normal pra variar... Mas parece que é pedir demais. -

Eu disse com um tom desdenhoso enquanto largava o parapeito e ficava em pé sozinho, mesmo que tivesse que reajustar a posição dos meus pés pra manter o meu equilíbrio. Eu olhei de relance pra Mirabel, ela ainda estava assustada com as rachaduras e com a magia aparentemente enfraquecendo e ainda estava processando toda essa informação. Eu coloquei minha mão no ombro dela gentilmente pra acalmá-la e então perguntei:

- Você tá bem? -

- Eu que devia fazer essa pergunta. Você tá bem? -

Eu fiquei em silêncio por alguns segundos, resistindo contra a vontade de grunhir e responder grosseiramente: "E por acaso parece que eu tô bem?", mas eu não tô com força o bastante pra fazer isso e nem com vontade de dizer isso pra ser sincero, então eu simplesmente abaixo minha mão e respondo:

- Não... Eu não tô nada bem, nem com a minha situação aqui... Ou com todo o resto. -

Eu olhei novamente pra Vela do Milagre, sua chama ainda fraca e as rachaduras ainda cercando a janela onde ela fica. Isso é real, muito mais real do que eu gostaria que fosse. Ver tudo isso me deixa ansioso e agoniado, como se eu estivesse debaixo de um teto prestes a desabar sobre minha cabeça, mas a parte mais estranha é a sensação de déjà-vu que estou sentindo agora. Não, não é déjà-vu, é mais como se eu soubesse que isso ia acontecer, um pressentimento de que algo daria errado nesse nível em algum momento, mas não sei ao certo o motivo.

- O que nós vamos fazer? -

Mirabel perguntou preocupada e assustada enquanto também olhava pra Vela. Eu suspirei, olhei pra baixo e fiquei em silêncio por alguns segundos antes de responder:

- Você talvez vá correr desesperada pro quarto do Antonio, onde tá todo mundo, pra pedir ajudar, mas eu... Eu vou pra cozinha arranjar um pouco de comida da tia Julieta. -

- Você não vai fazer nada?! -

Mirabel perguntou indignada e um pouco irritada, mas eu apenas a encarei com um olhar cansado e então respondi calmamente:

- E o que eu posso fazer? Não é como se eu pudesse estalar os dedos e então fazer a magia voltar ao normal magicamente. Além do mais, chamar os adultos também não vai servir pra nada, o que eles vão poder fazer afinal de contas, hein? -

Agora foi a vez de Mirabel de ficar em silêncio, frustração tomando de conta do seu rosto enquanto ela abaixava a cabeça com dúvida, não sabendo o que fazer e nem como me responder. Na verdade, eu também não faço a mínima ideia do que fazer, e isso me deixa frustrado também, mas admitir isso pra Mirabel ou ficar reclamando sobre isso em pensamento não vai servir pra nada.

- Olha, talvez avisar todo mundo realmente seja nossa melhor opção no momento, mas mesmo que todo mundo acredite em nós, o que eu duvido muito, sobre a casa e a magia estarem em perigo, nós ainda teríamos que lidar com a Abuela, e com certeza absoluta ela iria arranjar algum jeito de botar a culpa em nós dois. -

Mirabel continuou em silêncio por mais alguns instantes, talvez pensando no que eu tinha acabado de dizer. Ela então ergue a cabeça e me encara com uma expressão séria antes de me responder:

O Gêmeo Maligno - PausadoWhere stories live. Discover now