Capítulo 21

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(Esse capítulo foi inspirado nessa música anexada, que também está na playlist thiam do spotify!)

***

-- Ketchup? – pergunto e passo o sachê.

Estávamos apoiados em umas almofadas que Theo ainda tinha em sua camionete.

-- Sinto que você já fez isso outras vezes. – digo e me viro para ele.

-- Vir aqui? É, você tá certo.

-- Mais um truque de Theo Raeken? Pra conquistar gatinhos? – falo mas no mesmo segundo já me arrependo.

-- Você acabou de se chamar de gatinho? Que convencido.

-- Cala a boca. – reviro os olhos.

-- Mas, não. Eu já vim muito aqui, sim, mas sozinho.

-- Quando? – me deito virado para ele.

-- Quando me sentia perdido e sozinho. – ele faz uma pausa. – Nossa, isso foi meio dramático.

-- Não é drama se é o que você sente. – digo e ele dá um sorriso fraco.

-- Sentia.

-- O que mudou?

-- Você.

Me sinto ficar vermelho.

-- Você não... – começo.

-- Você sempre pareceu o único disposto a me ver com olhos diferentes. A me dar uma segunda chance. Não sei se você sabe, mas isso significou muito.

-- Não sabia. – pego sua mão e entrelaço nossos dedos. – Desculpa, sabe... se a gente já te excluiu e te fez sentir sozinho. Fomos muito egocêntricos. Eu vejo isso agora.

-- Tá tudo bem.

Nos sentamos de novo, para terminar os sanduíches. Dou uma mordida que faz espirrar ketchup no meu nariz e lambuza minha boca. Quando estou pegando guardanapo, para me limpar, percebo ele me encarando, sério.

-- Você é tão lindo. – diz.

Dou uma engasgada e seguro uma risada.

-- Isso não é engraçado. – digo.

-- Não foi uma piada.

Olho para ele, de novo, e noto seu olhar. Ele não estava rindo. Não tinha sido uma piada. Seu olhar era genuíno. Ele só pode ser louco, porque eu estou todo desengonçado e sujo de ketchup.

-- Você não é normal. – digo.

-- Obrigado. – ele sorri.

Vai se fuder. Limpo meu nariz, com um papel, e me aproximo para lhe dar um beijo. Apoio a cabeça em seu peito e ficamos em silêncio admirando as estrelas por um tempo, enquanto comíamos batata frita.

-- Theo?

-- Eu.

-- Você já ficou bêbado?

-- Não. Você já?

-- Uma vez. Obviamente antes de eu conhecer o Scott.

Rimos.

-- Como é? – pergunta.

-- Não lembro muito bem, mas sei que eu fiquei falando sem parar, até o que não devia.

-- Você? – implica.

Olhamos as estrelas mais um pouco.

-- Já me perguntei como seria agora. Tipo, será que faria algum efeito pro T.E.I.? Será que me acalmaria ou só pioraria tudo? Sinto falta dos remédios, essa é a verdade. Eles acabavam ajudando em alguma coisa. – penso em voz alta. – Tô cansado de me sentir assim e não poder fazer nada. Odeio a ideia de que eu seja mesmo uma bomba relógio.

-- Ei, você não é uma bomba relógio. – ele se inclina para que eu possa ver seu rosto, que era iluminado pelo brilho da lua. – Sinto muito que se sinta assim.

Ele se abaixa e me dá um beijo na testa. Nunca me senti assim, como me senti agora. Também nunca imaginei que estaria vivendo um momento assim com Theo. Nunca foi algo consciente, pelo menos. Agora, vendo seu rosto iluminado pela lua e seus lábios curvados em um sorriso, percebo que não é de hoje que ele me faz sentir coisas – só que antes parecia fazer mais sentido socar sua cara que beijá-la. O universo funciona de formas misteriosas (e engraçadas).

-- Além do mais, eu gosto de fugir dos lugares com você. – confessa.

-- Acho muito louco como ninguém sabe que você é assim. – digo.

-- Eles não precisam saber.

-- Eu queria que soubessem.

Do Outro Lado da Porta de Uma Camionete EnferrujadaOnde histórias criam vida. Descubra agora