Capítulo 2

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Esse era o tipo de coisa que eu tentei evitar nesse início de ano, sabe? Aliás, sempre. Pouca gente sabe disso, mas estou constantemente fazendo muito esforço para não explodir. É algo que, muitas vezes, está fora do meu controle, apesar de tomar a medicação certinho – não que adiantasse de algo, por conta do metabolismo de lobisomem e essa coisa toda. Já passei por um bocado com minha família, inclusive, por conta do TEI, e logo agora que sinto que estou finalmente melhorando: boom! "Liam surta de novo".

Sei lá. Eu, genuinamente, acho que evoluí muito só pelo fato de ter conseguido impedir a transformação. E até que os 3 caras nem ficaram tão arrebentados assim. Mas, de qualquer forma, não me arrependo nem um pouco. Eles que mexeram com as pessoas erradas, e isso é um fato.

A questão é: eu finalmente estava em uma relação muito boa com minha mãe sobre isso, e a última coisa que queria era, tão cedo, fazê-la se preocupar comigo. Ela já faz muito e, sinceramente, eu até que estou me virando bem.

Logo, preciso encher muito o saco da Mrs. Martin para a convencer de não ligar para minha casa. Disse que faria o que for e chegaria todo dia 10 minutos mais cedo à detenção, seja lá o que isso significasse. Ela hesitou um pouco mas acabou aceitando, desde que eu realmente fizesse tudo certinho e não me metesse em mais nenhuma briga. Quanto ao último não posso prometer nada, mas claro que não falei isso em voz alta.

Corey e Mase ficaram preocupados, mas eu já disse que faria tudo por eles e não tinha sido da boca para fora. A diretora falou que ia fazer o que pudesse para impedir tal comportamento dentro da sua escola, mas todos sabemos que essas palavras não iriam mudar nada. Às vezes, o mundo era mesmo uma merda.

Isso tudo já havia me estressado num nível que precisei pegar meu journal e escrever alguma coisa – algo que aprendi a fazer em uma sessão de terapia uns anos atrás. Exceto que eu não sou nada bom com palavras e quase sempre acabo rabiscando um desenho qualquer. Acho que ainda vale, porque, assim, eu conseguia me expressar, de alguma forma. Me expressar e não surtar. "Porque o Liam sempre surta".

Na terça, já tinha que ficar depois da aula para o primeiro dia desse ótimo compromisso. O que mais me irritou nem foi a uma semana de detenção, em si, mas sim que teria que ser com aqueles três filhos da puta. Seja como for, essa não era minha primeira vez na detenção. Detesto que essa seja minha imagem. Eu realmente queria ser um bom aluno e ter um bom histórico para atrair faculdades, mas é o que é. Mando uma mensagem para minha mãe:

Mãe, vou chegar mais tarde hoje e o resto da semana, tenho uma atividade extra. Até de noite <3

Quando abro a porta da sala, vejo os três no fundo - e, nossa, como eles estavam acabados. Não posso dizer o mesmo sobre mim, pelo menos não fisicamente. Preciso até segurar uma risada vendo seus olhos roxos.

Também estavam lá uma menina com o cabelo mais escuro que já vi na vida, um cara 2x maior que eu e a professora de espanhol na frente, mexendo no celular. Esperava ver mais gente, até que me toquei que era só o segundo dia de aula e, o estranho é, na verdade, estar na detenção nessas condições. Me sento o mais longe possível do fundo, para evitar problemas, mas quase não haviam cadeiras livres na sala. Pego um livro sobre história da arte na mochila e fico submerso na leitura das análises das obras, até que surge uma voz do meu lado:

-- Olá, Dunbar. Lendo, de novo?

Já sabia que era Theo antes mesmo de me virar e me deparar com ele sentado na carteira ao meu lado, com o mesmo sorriso idiota de sempre.

-- É sério que você podia sentar em qualquer outro lugar e sentou aqui para encher meu saco?

-- Primeiro que quem traz um livro pra detenção?

-- Ah desculpa, esqueci que você nem deve saber ler algo que não venha com imagens. – debocho.

Ele encara meu livro e solta uma risada.

-- Esse é literalmente um livro sobre imagens.

-- Vá a merda, Theo.

-- Já fui, não estamos na detenção?

Ok, isso me deu uma minúscula vontade de rir. Ele não estava errado.

-- Mas, respondendo a sua pergunta: prefiro, até mesmo, a companhia de Liam Dunbar a me sentar com aqueles babacas. – diz e olha para os mesmos três babacas que me colocaram aqui.

Nem era preciso ter os sentidos de lobisomem para saber que ele tinha, talvez, tanta raiva deles quanto eu.

-- É por culpa deles que tô aqui. – conta.

-- Também.

Qual seria a história por trás? Nunca pensei que tivéssemos inimizades em comum, além de caçadores.

Então, a Mrs. López finalmente abandonou o Facebook e decidiu se pronunciar:

-- Boa tarde. Bem, chegou a hora de pagar pelo o que fizeram.

-- Até mesmo se a pessoa merecia ter tido o carro arranhado? – Theo pergunta, com um olhar desafiador para Greg (depois acabei descobrindo seu nome).

-- Sem gracinhas, Raeken. Ou quer ficar aqui mais uma semana? – ela ameaça com sua voz estridente.

Ele dá de ombros e Greg aponta o dedo do meio para Theo.

-- Como eu ia dizendo, - ela ajeita os óculos e ignora a cena. – vou separar vocês em grupos para fazerem a tarefa da semana. – ela faz uma pausa e parece pensar. – Na verdade, quem está sentado do seu lado será sua dupla, e no caso ali, um trio. – aponta para o fundo da sala.

Tenho certeza que ela só teve preguiça de separar o grupinho e decidiu deixar como estava. Só sei que era oficialmente um pesadelo. Uma semana vendo Theo Raeken, depois da aula, todos os dias. Antes só que mal acompanhado nunca fez tanto sentido.

***

Espero que tenham gostado dos dois primeiros capítulos! Ainda tem muito mais por vir ;)
Até segunda!

Do Outro Lado da Porta de Uma Camionete EnferrujadaOnde histórias criam vida. Descubra agora