Claredon

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23

 Depois da conversa Eylef voltou a se fechar no seu próprio mundo ficando em silêncio o restante do caminho até que finalmente vários telhados de cor vermelha surgiram na paisagem.

—Não se anime.

A voz da raposa calou qualquer ânimo que eu pudesse ter.

—Só vamos sair durante a noite.

—Ainda está claro, assim vai ser mais fácil encontrar pessoas para nos dar informações — Eudora falou olhando para mim — Seria bom dar ao menos uma volta.

—A noite — a voz de Eylef era firme.

—Por favor Sophie...

Encarei o olhar suplicantes da garotinha sentindo o peso dos olhos prateados sobre mim.

—Alguns minutos não vão fazer mal...

Ouvi um longo e pesado suspiro.

—Inconsequente.

Encolhi os ombros.

—Se quiser pode ficar.

—É o que pretendo.

—Então nós duas vamos.

Mesmo com a máscara consegui ver um revirar de olhos.

—Faça como quiser.

—Farei.

Dei as costas à raposa me voltando para Eudora.

—Quem sabe não encontramos alguém lá que possa te ajudar?

A garotinha sorriu, nitidamente animada com a ideia.

—E não se preocupe Eylef, volto antes do anoitecer.

Ignorando seu ar de desdém puxei o cabelo para frente dos ombros garantindo que minhas orelhas não estavam à mostra. Pude sentir um par de olhos prateados me encarar atentos, até arriscaria dizer que senti preocupação vindo deles.

Assim que terminei afastei alguns galhos que ocultavam nossa visão encarando a máscara branca com uma rosa desenhada na testa.

—Volto logo.

Sem esperar uma resposta, Eudora e eu saímos da floresta em direção a cidade.

Casas e mais casas se erguiam à nossa frente, a maioria de tijolos queimados com telhas de barro vermelho, algumas com dois andares e outras tão altas quanto torres. O vidro das janelas refletiam o sol do fim de tarde enquanto lamparinas com um estranho fogo amarelo flutuavam pelas ruas.

Incrível...

Parei próximo a estranha fonte de luz encarando a caixinha de metal com curiosidade.

—Veja Sophie! — Eudora apontou em direção ao final da longa rua de pedras — Acho que o centro da cidade é por aqui, vamos!

Tentei acompanhar o ritmo da garotinha me esforçando ao máximo para não deixar o vento balançar meu cabelo. Por ali as pessoas não andavam com capas ou mantos, e por sorte, a única diferença marcante eram seus fios de um vermelho tão intenso que nasciam sobre suas cabeças. As mulheres usavam coques com adornos de pedras coloridas enquanto os homens possuíam longas tranças amarradas com tiras de couro. Suas roupas eram opacas mas elegantes onde os tons palha, verde e marrom se sobressaiam.

—Vêm Sophie!

Fui alcançar Eudora próximo a uma grande estátua onde um homem brandia uma lança em direção ao céu, o olhar rente ao horizonte e as feições endurecidas, no alto da sua cabeça havia uma coroa enquanto uma longa trança descia a altura dos seus pés. Ao redor alguns arbustos de flores vermelhas enfeitavam a praça enquanto lojas e quitandas se espalhavam aos montes. Eram tantas que não sabia para onde olhar. Por ali muitos feéricos andavam com cestas de compras, alguns conversando alegremente enquanto outros iam e voltavam apressados, a maioria com a mesma característica marcante, cabelos vermelhos e olhos amarelos, mas outras pessoas também passeavam entre as lojas, provavelmente viajantes, porém, as orelhas continuavam as mesmas, sempre pontudas. Fascinada com o lugar me aproximei das bancas de frutas e tecidos seguindo Eudora, alguns dos comerciantes nos olhavam com um ar estranho mas a maioria parecia fingir que não estávamos ali, ou, ficavam atentos a cada movimento nosso.

Corpo e alma, a pior das maldições (Projeto em fase de criação)Where stories live. Discover now