As entranhas da terra

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   Eu me lembrava das noites onde os pesadelos vinham me assombrar, sempre estava frio, os ventos uivavam como lobos e o céu era cinza, caminhava sozinha por um tapete branco que cortava meus pés enquanto o silêncio gritava em meus ouvidos. Eu estava sozinha, perdida em um inverno sem fim.

Mas dessa vez era diferente.

   O céu estava escuro, não havia tapete branco machucando meus pés, apenas lama e pedras. Não havia silêncio, apenas gritos e acusações. Mas ainda continuava frio. Eu não sabia ao certo onde estava, ou o que tinha acontecido, a última imagem que vi foi o rosto de Rafael e o ódio que seus olhos emanavam antes de tudo se banhar em uma escuridão profunda até que inúmeras árvores surgissem junto de uma pequena multidão com tochas e foices nas mãos.

O que está acontecendo?s

   Meu corpo estava molhado e sujo, havia lama para todos os lados, de joelhos buscava pelo semblante das pessoas que por muitas vezes vi nas ruas do comércio, mas a única coisa que encontrei foi a indiferença e o desprezo em seus olhares. Com um pequeno esforço para me colocar de pé senti um peso extra em minhas mãos, eram cordas, grossas e escuras que apertavam meus pulsos.

O que é isso? — minha voz estava fraca — O que é is-

—Calada feiticeira!

   Não contive um grito ao sentir um forte puxão de cabelos que me obrigou a olhar para cima onde um rosto familiar estava contorcido em fúria.

—Carla?

—Já falei para ficar quieta!

   Outro puxão.

—Como ousa falar meu nome com essa boca suja?!

   Mal podia reconhecê-la, suas roupas estavam ensopadas com a chuva assim como o cabelo, os olhos brilhando de raiva e medo enquanto sua mão se mantinha firme nos fios que saiam da minha nuca.

—Por favor me solte, eu não fiz nada...

—Nada?!

   Olhei em direção a outra voz reconhecendo Rafael.

—Você chama de nada o que fez?!Eu vi a luz!Vi suas mãos ensanguentadas e o brilho que vinham delas assim que tocou na garota!

—Eu não fiz nada, por favor acredite em mim! — Olhei para o restante da multidão — Por favor, vocês me conhecem, sabem que não fiz nada disso.

   Insultos e vaias começaram a ecoar de todos os lados.

Parem...

   Minha cabeça girava.

Parem por favor!

   De repente um silêncio profundo e espesso caiu sobre todos enquanto uma figura barbuda em roupas de seda se aproximava lentamente, ao seu lado oito homens com máscaras o seguiam em silêncio abrindo espaço entre a multidão, demorei um pouco mas os reconheci, eram os carrascos do reino, responsáveis pelas execuções dos considerados criminosos, e pelo grande número deles aquilo só poderia significar uma coisa.

Não...

   Olhei assustada ao redor onde tiras de panos brancos estavam amarradas, cada uma bordada com símbolos diferentes mas inconfundíveis. Eram as Icolis, conhecidas por demarcar o caminho até o poço.

—Caros habitantes de Jowery!

   Ouvi a voz do grande líder ecoar alto pelos troncos da floresta, mas minha atenção ainda estava nos tecidos espalhados pelo lugar.

Corpo e alma, a pior das maldições (Projeto em fase de criação)Hikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin