Como o badalar de um sino

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Depois do encontro inusitado com aquelas crianças, ainda consegui pegar mais algumas frutas antes de procurar novamente o caminho até a caverna, por algumas vezes pensei ter tomado a direção errada, mas assim que avistei a boca escura em meio ao aglomerado de terra e rochas suspirei. Pelos menos Eylef não poderia me provocar dizendo que me perdi na floresta.

Eylef...

A pronúncia do seu nome parecia algo tão surreal quanto sua própria existência.

Se eu tivesse me perdido ele teria vindo atrás de mim?

Fechei a cara imaginando a resposta.

É claro que não.

A passos firmes atravessei o chão coberto de raízes até meus pés alcançarem as rochas deixando outra fruta no mesmo lugar de sempre, e, para minha surpresa, não havia nada ali.

—Por nada — falei de forma ríspida dando as costas à escuridão e indo me enroscar nas raízes da floresta.

Eu podia contar a ele o que aconteceu, o encontro com as crianças, as várias perguntas sobre esses impérios na qual eu não conseguia mais lembrar os nomes, sobre o vilarejo e o aspecto estranho dos dois irmãos mas, decidi guardar aquilo para mim, pelo menos por enquanto.

O dia tomou forma e cansada demais por não ter nada para fazer me afastei um pouco da caverna catalogando os tipos de plantas que encontrava no caminho, algumas eu conhecia como ervas medicinais para emplastros e chás, mas outras eu nunca tinha visto antes, fiquei me perguntando se possuíam alguma propriedade importante que eu seria capaz de usar em remédios ou eram apenas mato. Decidida e com uma nova ideia martelando na minha cabeça, voltei em direção a caverna pronta para conseguir, ou ao menos tentar obter alguma ajuda com os misteriosos olhos prateados.

—Ei, Eylef! — gritei assim que cheguei perto da entrada da caverna, minha voz criando ecos audíveis por longos segundos antes de sumir.

E como imaginei, ele não respondeu.

Direta e reta Sophie...

—Sabe se há uma fonte de água por perto?

Silêncio.

—Olha, eu imagino que se você comeu as frutas então é porque provavelmente sente fome e, se eu estiver certa o mesmo vale para a sede — avancei mais um passo ficando frente a linha da escuridão — Então seria muito legal se me ajudasse a conseguir água.

Nada. Tinha a impressão de estar falando com as paredes, mas eu sabia que ele estava ali em algum lugar.

Ok, foi você que pediu.

Irritada agarrei uma pedra solta e fui em direção a parede batendo por várias e várias vezes, como imaginei as rochas não eram comuns e o som que produziram ecoou alto dentro da caverna como o badalar de um sino. Dessa vez não demorou muito para que um par de olhos irritados surgisse me encarando da escuridão.

—O que pensa estar fazendo?!

—Te chamando — larguei a pedra e cruzei os braços — Se alguém não responde a gente bate na porta, nesse caso na parede.

Vi aqueles olhos se estreitarem, mas não me importei, de agora em diante eu o chamaria daquele jeito e por sorte ele pareceu ter percebido isso.

—Eu não sei onde conseguir água, então suma daqui e me deixe em paz!

—Então me ajude a procurar.

—Não.

—E por quê?

Corpo e alma, a pior das maldições (Projeto em fase de criação)Unde poveștirile trăiesc. Descoperă acum