Medo, receios e frutas

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   Passei um bom tempo caminhando a esmo pela floresta, quando meus pés acertavam algum galho eu podia ouvir o ruído seco ecoar pela escuridão fazendo meus músculos retesarem. Se não fosse pela figura que ainda mantinha a barra do meu vestido presa eu já teria abraçado o medo e o desespero mas, por algum motivo, eu me sentia calma na sua companhia.

Ele não é humano...

Essa certeza fazia meu estômago doer.

Tentando não pensar muito no assunto continuei em frente até que o peso extra em meu vestido sumisse e o chão de terra se tornasse firme e irregular.

—Que lugar é esse?

Ele não respondeu, em silêncio acompanhei o som dos seus passos até que os ruídos se tornassem ecos e uma queda repentina da temperatura fizesse meu corpo tremer. Estávamos em uma caverna, só podia ser isso. O chão rochoso, o som distante de gotas se chocando contra pedras e a umidade que fazia o ambiente ser frio, sem contar a escuridão mais densa. Com certos receios, me afastei da grande mancha escura até avistar as cores vibrantes das plantas que brilhavam no meio da floresta, mais aliviada por conseguir ver alguma coisa além da escuridão me acomodei nas rochas respirando fundo.

Que dia...

Minha cabeça latejava, minhas pernas doíam assim como o corpo inteiro. Eu precisava de um descanso mas minha mente não permitia que eu fechasse os olhos.

Que lugar é esse?Ou melhor...que mundo é esse?

A imagem de dois peixes flutuando no vazio preencheu minha memória.

Talvez eles fossem os responsáveis, afinal, foi graças a eles que saí do poço...

Sem que eu quisesse me lembrei da visão horrenda de uma criatura esquelética, foi então que me dei conta do óbvio.

Olhos prateados...

Arquejei.

Como eu não percebi isso antes?!

Aquela imagem só podia ser da figura misteriosa do monstro do poço. Os olhos eram iguais, os mesmos, cheios de raiva e amargura inundados de uma tristeza profunda capaz de invadir a alma de quem os visse.

Então sua verdadeira aparência...

Engoli em seco.

É realmente a de um monstro.

Com uma nova onda de adrenalina percorrendo minhas veias estava prestes a fugir dali quando um brilho prateado surgiu na direção oposta. No mesmo instante senti meu corpo congelar. Ele estava me encarando, duas estrelas atentas e silenciosas em meio a escuridão.

Não sei quanto tempo se passou, mas assim que ouvi sua voz irromper o silêncio senti uma lágrima perdida cair pela minha bochecha.

—Seu silêncio é tão irritante quanto sua voz.

Apertei os braços em volta do corpo. Sua fisionomia decadente ainda estava nítida na minha memória e imaginar seu corpo magro e mutilado, cheio de feridas e cicatrizes oculto pela noite só aumentava meus receios.

Preciso fugir...

Era a única coisa que conseguia pensar. Respirando fundo o máximo que podia fechei os olhos pronta para correr em direção às luzes da floresta quando, sem que eu percebesse, algo frio tocou minha perna. Assustada, abri os olhos me deparando com duas íris pratas a poucos centímetros de mim. Um grito de pânico começava a tomar força dentro da minha garganta, mas antes que eu pudesse abrir a boca fui surpreendida por um toque suave de unhas sobre a minha pele.

Corpo e alma, a pior das maldições (Projeto em fase de criação)Where stories live. Discover now