Daila

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As estrelas brilhavam alto no céu e o vento frio sacudia as bandeiras cravadas no chão, algumas rasgadas, outras chamuscadas, e ainda haviam aquelas pesadas demais para se moverem. O sangue vermelho tingia de carmesim o brasão em forma de lua minguante.

—Parece que o trabalho aqui está feito...

Olhei para a criatura que batia as asas membranosas mantendo-o acima do chão, longe das inúmeras poças de sangue.

—Avisarei o futuro Imperador.

O corpo esguio subiu em direção às nuvens sumindo de vista.

—Por...q...

Em meio a montanha de asas, braços e cabeças, alguma coisa se arrastava até mim.

—P.or...

Uma mulher de cabelos compridos cravava as unhas na lama. O corte em seu pescoço fazia com que o sangue jorrasse aumentando ainda mais a poça carmesim onde estávamos.

—P...

Observei seus olhos se tornando opacos enquanto refletia pela última vez a imagem de duas estrelas brilhando na escuridão.

Acordei com o gosto de sangue na boca.

Onde eu estou?

Uma fraca luz irradiava pelo quarto fazendo com que a sombra de Eylef se estendesse até mim.

—Vamos logo preguiçosa!Ou vou te deixar aí.

Tive vontade de ignorar sua voz, me virar de lado e continuar dormindo, porém, o som dos seus passos me fizeram pular da cama.

Eu estou indo...estou indo...

Vestida na minha capa nova segui Eylef pelo corredor até sairmos pelo fundo da taverna.

O céu continuava escuro mas já conseguia ver um leve tom rosa tingir a linha do horizonte. Eylef e eu atravessamos a praça principal, viramos esquinas e mais esquinas até que uma placa de madeira anunciasse o fim da cidade.

—Para onde vamos?

Espiei Claredon uma última vez antes dos telhados vermelhos ficarem para trás.

—Em frente.

Contive a vontade de revirar os olhos.

—E o que vamos encontrar seguindo em frente?

Eylef ficou quieto por um tempo.

—Se eu estiver certo...

Porém, antes que ele pudesse terminar, ouvimos o som de alguma coisa correndo pelos arbustos até que um cachorro de pelagem azul saltasse na minha direção.

—Ei!

O animal era grande, muito grande; sua cauda sacudia de um lado para o outro incessantemente como um espanador felpudo.

—Oi!Está perdido rapaz?

—Já terminou com a brincadeira?

A voz de Eylef alcançou meus ouvidos.

—O que vamos fazer com ele?

—Deixá-lo aí.

—Mas...

—Sem mas — os olhos da raposa brilharam — Toda vez que você decide ajudar alguém ou qualquer coisa que se mexe algum problema surge!

Acariciei o pelo macio admirando a cor azul.

Corpo e alma, a pior das maldições (Projeto em fase de criação)Where stories live. Discover now