Depois de cumprir todos os meus requisitos médicos eu fui liberada finalmente para sair do quarto, a cena foi a mesma de quando soltam o touro raivoso e ele sai correndo pra cima do cara com o pano vermelho.
A rua era o meu pano vermelho.
Gente o tanto que eu andei não estava escrito, nem parecia que eu já conhecia Paris.
Eu fui em vários lugares, fiz as comprar que eu queria fazer, comi o que eu queria comer e quando eu voltei para o quarto meu braço parecia uma salsicha.
-Você só vai andar agora no dia do desfile,estamos conversadas Ana Carla?-minha mãe BR disse pelo tablet.
-Sim mãe-eu que já estava de banho tomado e deitada respondi.
-Como que você conseguiu fazer isso?- minha mae Kim disse com o meu fisioterapeuta na ligação também.
-Andou com a tala para baixo como se fosse nada-ele disse e todas nós concordamos.
Depois que a minha seção de esculacho foi feita, fui deixada sozinha até o Marcus voltar.
Como ele já havia recebido uma foto do meu braço, quando ele chegou no quarto a cara dele de decepção foi tão grande que eu queria só chorar.
-Eu tinha planejado um jantar para a gente, era no seu restaurante preferido com a seu macarrão preferido-ele que estava sentado do meu lado esquerdo (lado do braço ruim) olhou para a minha mão e olhou para mim e levantou andando até a janela do quarto.
-Me desculpa, eu estava tão animada que eu só fui- eu olhei para ele e ele ainda continuava olhando pela janela.
Ele veio até mim e me deu um selinho longo.
-Você está deixando a conversa de lado de novo- eu disse olhando nos olhos dele-Pode colocar tudo para fora.
-Você não tinha pensado que eu teria planejado algo?- ele falou sério- Estamos na sua cidade preferida no mundo, você ama até o açúcar daqui, você estava falando a semanas sobre como você queria poder também usar esse tempo que teria aqui comigo.
Meu coração quebrou em vários pedaços diferentes, eu tinha dito para ele o quanto eu queria passar as poucas horas de calma aqui com ele, especialmente aqui, em Paris porque é o lugar que sempre me deixam mais livre e eu posso até comer onde eu quero.
-Me desculpa-eu disse olhando para ele mas ele já não estava mais olhando para mim.
-Eu sei o quanto você estava animada pra vir aqui e finalmente poder colocar tudo de meses para fora, mas eu esperava que também você pudesse dividir comigo as coisas- ele levantou e foi até a sua mala e abriu- Eu tinha comprado para você a pulseira que você queria muito-ele me entregou a caixa da Cartier- e esperava também poder te entregar hoje no jantar, a gente nunca saiu em um jantar assim como nos filmes.
-E eu sempre disse que queria ir em um-eu disse sussurrando.
-Todos fizeram alguma coisa para que a gente saísse hoje sabia?- ele sentou de volta perto de mim e pegou a caixa na mão- Sua mãe conseguiu o restaurante, Mabel o dia de folga, até o pete ajudou indo comigo na loja deixando as pessoas acharem que ele iria comprar alguma coisa para a sua mãe.
Ele tirou a pulseira da caixa e colocou no meu braço e estava escrito "para a minha princesa do mundo real".
-A gente já passa tanto tempo longe que eu queira que estar aqui na semana mais importante para você, e fazer com que você também tivesse uma semana mais leve.
Eu puxei ele para mais perto e ele se aninhou em mim como se fosse um filhotinho querendo carinho.
-Você é uma pessoa tão doce que as vezes eu acho que não te mereço sabia?- ele em olhou com cara feia-É verdade, você é tão diferente de mim, você é calmo, paciente e compreensivo mesmo quando tem todo o direito de não ser assim. Me assunta ter alguém como você comigo, eu tenho medo sempre de quebrar você, de fazer algo tão forte para você que eu não vou te ter mais- ele limpou uma lágrima que escorria- Me desculpa, me desculpa ter te machucado, me desculpa por ser um furacão na sua vida.
Ele me beijou do jeito mais doce que tem e ficou uns dois minutos me olhando no fundo dos olhos.
-Eu te amo, amo seu jeito, amo o fato de voce ser assim- ele respondeu rindo.
-Obrigado por me aceitar do jeito que eu sou- eu disse e ele se aninhou de novo para ficar de um jeito que ele poderia ficar sem me machucar.
[...]
No dia seguinte, eu tive que acordar cedo para colocar minha vida de volta aos trilhos porque estávamos a 24 horas do desfile.
As 9 da manhã a Mabel já estava me esperando no lobby do hotel para irmos até ao local do desfile.
-Estou meio nervosa sabia?-disse dentro do carro.
-Porque?- ela perguntou.
-Eu sempre tenho medo das pessoas não gostarem do desfile, das músicas etc.
-Mas Anna se estamos aqui é porque as pessoas gostam do seu trabalho, já é o nosso quinto ano aqui e todos os anos somos um dos desfiles mais comentados da temporada além de que você se prova todos os anos que deve e pode estar aqui.
-Todo o ano eu curto como se fosse o último, até porque pode ser o último mesmo-disse rindo.
-Estamos bem longe do fim minha querida chefe-ela respondeu rindo e segurando a minha mão.
Fomos colocando as fofocas em dia até chegar na locação.
O desfile desse ano seria em uma casa. Sim uma casa, com um jardim enorme e bastante espaço para uma festa.
Uma coisa que meus desfiles são conhecidos é o tema, todo desfile meu tem meio que uma vibe diferente e a desse ano vai ser festa em casa, mas não é qualquer festa. É A FESTA. Vai ter de tudo um pouco, desde pagode até meu pai usando uma máscara que ele mesmo fez.
Assim que eu desci do carro meu telefone tocou e eram as minhas mães juntas querendo ver a casa e as preparações.
Para esse desfile, foi preciso de uma força tarefa para trazer algumas coisas do Brasil tipo uma churrasqueira com grelha.
Sim, vai ter churrasco. O verdadeiro churrasco, não esse ruim que o Estados Unidos acha que é bom.
E quem vai fazer é meu primo, que veio lá do Brasil para Paris especialmente para isso. Foi um rolê danado trazer ele para cá mas deu certo.
-Anna você já foi ver se o seu primo tem tudo o que ele precisa?- minha mãe BR perguntou.
-Eu mandei entregar tudo aí ontem-minha mãe Kim que estava vindo também disse dentro do carro.
-Eu acho que sim porque vocês não sabem o cheiro de carne e tempero que está nesse lugar.
Eu e a Mabel fomos em direção a cozinha onde meu primo estava rodeado pela produção falando em português sobre churrasco.
-O que está acontecendo?-eu disse e todo mundo que estava aí virou com uma carne na mão para mim.
-Eu não sei se eles estão entendendo mas estamos aqui falando a horas sobre o churrasco-meu primo disse rindo da situação.
-Vai sobrar carne para o desfile?-perguntei na língua que todo mundo entendeu.
-Mal podemos esperar para o desfile começar e a gente comer-Joshua um dos montadores disse e todo mundo riu.
-Eu também não-respondi rindo.
Eu falei com o meu primo e minhas mães, resolvemos o que precisava com a comida, experimentei mais das comidas que iria ser servidas depois do desfile e fui para a ala das modelos para ver se todo mundo estava bem.
Meus desfiles são conhecidos por ser um lugar divertido e polêmico porque as modelos podem comer o que desejarem antes de passar na passarela e depois também, e eu também escolho modelos que representam melhor a realidade das pessoas.
-Bom dia galera tudo bem por aqui?-disse para as modelos.
Todas responderam que sim juntas e eu sai para falar com os maquiadores. Esse ano quem iria assinar a beleza seria a mulher do meu primo, ela é uma maquiadora incrível e iria brilhar aqui em Paris.
Nós passamos a manhã toda no lugar ajustando todos os detalhes e voltamos para o hotel a tarde para nós arrumar e eu não surtar.
