Capítulo 11 - O caco que brilha em vermelho

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- Mas o quê? -

Eu caminhei até o caco de vidro e me abaixei para pegá-lo, o analisando cuidadosamente. Ele com certeza não pertence aos ingredientes da tia Julieta, eu pelo menos não vi nenhum pote vermelho brilhante enquanto corria, mas parece que ele estava em cima de uma das prateleiras e acabou caindo quando elas balançaram.

- Avá, é mesmo, Carlos? -

Eu perguntei pra mim mesmo com sarcasmo após dizer o óbvio. De qualquer forma, talvez seja melhor botar esse caco de volta no lugar, senão a tia Julieta vai me repreender por pegar o que não é meu. Não que isso seja ruim ou algo do tipo, me repreendem por muito menos e eu nunca dou a mínima pro que falam pra mim.

Eu estava prestes a guardar o caco de vidro brilhante e misterioso de volta na prateleira, mas foi quando algo atraiu minha atenção, pois eu percebi que havia algo no caco de vidro: uma espécie de silhueta bem turva, mas reconhecível. Eu olhei o caco mais de perto e semicerrei os olhos pra focar minha visão na tentativa de reconhecer a silhueta, que se tornou cada vez mais nítida conforme eu a encarava, até que se tornou nítida o suficiente para eu conseguir reconhecê-la.

Meus olhos se arregalaram, meu queixo caiu e um turbilhão de pensamentos e emoções causado por espanto e confusão explodiu na minha mente quando eu reconheci o dono da silhueta presente no caco: era eu!

- Narrador -

Carlos sentiu como se tivesse sido atingido por um raio, sua mente pensando em mil coisas e em nada ao mesmo tempo enquanto ele tentava processar a informação de que ele era a figura presente no caco misterioso. Ele está surpreso, espantado e confuso acima de tudo. "Por que eu tô nesse caco?", "Porque a tia Julieta tem isso?", "O que isso significa?", esses são alguns dos pensamentos de Carlos neste instante. Depois de raciocinar por três segundos, algo estalou em Carlos e uma memória antiga, de mais de 10 anos, resplandeceu em sua mente com a força de um farol: ele estava conversando com sua irmã mais velha, Dolores, sobre Bruno após ouvir Abuela repreendê-lo por causa de mais uma de suas visões desastrosas.

||Flashback||

- Dolores, você já viu uma visão do tio Bruno? -

O pequeno Carlos perguntou para sua irmã, que o encarou rapidamente e o respondeu logo em seguida:

- Já, hermanito. Uma vez. -

Ela respondeu com um tom melancólico, sentindo-se angustiada ao lembrar do futuro que seu tio Bruno lhe mostrara.

- Mas como é que se vê uma visão? -

Carlos perguntou inocentemente, pois não sabia como o Dom de Bruno funcionava e não sabia como as pessoas podiam "ver" a visão que, na cabeça de Carlos, só Bruno podia ver. Dolores deu duas risadas leves por causa da inocência doce do irmão mais novo e respondeu mais uma vez:

- Quando o tio Bruno tem uma visão, ele cria uma placa brilhante que mostra a visão dele para todos. É desse jeito. -

||Fim do Flashback||

Um sorriso leve se desdobrou no rosto de Carlos quando ele se lembrou de sua infância, quando sua vira era muito mais simples. Após isso, ele finalmente se deu conta de que estava segurando um caco de uma das placas que Bruno criava ao ter suas visões, mas algo ainda o incomoda: a cor. Carlos não se lembra de ter visto uma das placas de Bruno anteriormente em sua vida, e também não se lembra se perguntou a Dolores a cor das ditas placas, e se perguntou, não lembra da resposta. Entretanto, a cor vermelha do caco que ele segura o incomoda por alguma razão que ele desconhece, era quase como se ele soubesse no fundo de sua mente que havia errado com aquela visão específica. Foi quando algo estalou novamente em Carlos, e então sua mente concebeu a ideia mais louca possível:

- É por isso que todo mundo me odeia! -

Ele gritou em choque total enquanto formulava cuidadosamente essa possibilidade em sua cabeça, ditando-a em voz alta ainda espantado:

- Se o tio Bruno me viu em uma das visões dele antes de eu receber o meu Dom, e o povo de Encanto de alguma forma ficou sabendo, então todos passaram a me odiar por temerem o pior... Já que todo mundo só espera o pior do tio Bruno, e, por consequência, de mim também. -

Conforme falava, o espanto de Carlos desapareceu e foi substituído por uma melancolia com a qual ele já está acostumado. De repente, inúmeras memórias ruins brilharam na mente de Carlos, insultos e mais insultos vindos dos aldeões de Encanto após ele ter feito algo ruim, intencionalmente ou não. Não importava na verdade, apenas por ser o Carlos já era motivo para os aldeões soltarem suas línguas para insultá-lo.

"Moleque mal-educado, aprenda a respeitar as pessoas!", "Acha que é melhor que os outros por causa de seu Dom Mágico? Qualquer Madrigal é melhor com o próprio Dom do que você!", "Você é apenas um Bruno piorado, apenas outra mancha na família Madrigal!", "Você não vale nada, moleque cretino!".

Uma dor aguda perfurou o peito de Carlos, um nó se formou em sua garganta e seus olhos começaram a lacrimejar, Carlos, no entanto, lutou contra tudo isso.

- Não importa. -

Ele disse com a voz embargada, usando as costas da mão direita para limpar as lágrimas acumuladas em seus olhos e então respirando profundamente antes de guardar o caco em um dos bolsos traseiros de sua calça, o caco não é afiado e não possui bordas pontiagudas, então não há tanto risco de ele rasgar a calça de Carlos.

- É melhor eu voltar agora antes que a tia Julieta estranhe. -

Ele disse para si mesmo enquanto corria de volta para a cozinha usando sua Super Velocidade, não notando que sua irmã mais velha estava espiando da porta do quarto de Antonio e tinha ouvido tudo que ele disse atentamente com uma expressão triste no rosto.

- Carlos... -

Ela chamou por seu irmão com pesar na voz, tendo completa noção de que Carlos havia encontrado o caco e que ele havia descoberto algo muito, muito ruim, e saber o significado disso fez Dolores ser engolida por uma onda de culpa que a machucou profundamente.


Olá. Sabem, eu tava escrevendo umas coisas pessoais até que decidi usar o POV do Narrador pra mostrar um flashback, e aí eu pensei: "Ei, posso usar na fanfic do Wattpad também.", e sinceramente, eu até que gostei do resultado. Eu acho até que posso usar isso em Capítulos futuros caso seja necessário. É, me parece uma boa ideia.

Não tenho muita coisa a falar sobre esse Capítulo em específico, apenas que gostei de trabalhar um pouco com o quarto da Julieta. Eu queria muito fazer pelo menos um Capítulo específico para cada um dos quartos dos Madrigal para poder explorá-los, e eu acho que  eu poderia colocar o Carlos e o Camilo nessa juntos. Eu acho que seria bem interessante fazer o Carlos procurar pelos outros cacos em cada um dos quartos e puxar o Camilo pra isso contra a vontade dele.

Bem, eu acho que isso é tudo o que tenho a dizer. Se você tiver alguma sugestão, uma dica, uma pergunta ou qualquer outra coisa em mente, comente, ficarei grato em ler todos os comentários.

Dito isso, passar bem, caro leitor, e até a próxima.

O Gêmeo Maligno - PausadoWhere stories live. Discover now