Como conquistar Victor Summer / Vol. 3

Capítulo 19: Vampirinha.

Millie Benson

Entrei em casa, escutando os gritos da vizinha porque o gato de alguém havia invadido a cozinha dela e devorado uma torta que ela haviam deixado sobre a mesa. Não tenho gatos e também não gosto de me envolver em confusões com os vizinhos, então apenas fechei a porta para afastar os berros dela.

—O que a senhora Cooper está reclamando de novo? —Minha mãe indagou da cozinha, enquanto eu suspirava ao sentir o cheiro delicioso da comida dela.

—Um gato invadiu a casa dela e comeu uma torta. —Dei de ombros quando minha mãe riu, colocando umas mechas de cabelo castanho atrás da orelha, enquanto mexia algo que estava dentro da panela com uma colher. —Pensei que estaria no restaurante.

—Meu dia de folga. —Ela sorriu e deu de ombros. —Eu pensei em ir assistir uma aula sua. Você se incomodaria? —Meu sangue gelou e eu olhei pra ela com a respiração presa na minha garganta. —Faz tanto tempo que não vejo você dançando balé.

—Eu não tenho aula hoje. —Falei, rápido demais, vendo ela murchar como se estivesse realmente decepcionada. —Desculpa, mãe.

—Tudo bem. Quem sabe outro dia. —Ela sorriu de leve, enquanto meu coração se apertava.

Ela tinha absoluta certeza que todos os dias além de trabalhar naquele estúdio de dança, eu tinha aulas de balé também. Era assim no começo, até a mensalidade começar a se tornar cara demais. Não tínhamos dinheiro o suficiente. Parecia egoísta da minha parte continuar pagando aulas enquanto tinham coisas mais importantes para se preocupar.

Então um dia eu disse a ela que meu salário iria cobrir as aulas, que ela não precisava mais se preocupar com isso. Mas eu menti, porque eu cancelei minha matrícula. Eu sabia que se contasse que queria parar, para que poupássemos o dinheiro, ela não iria aceitar. Ela sempre colocava meus desejos em primeiro lugar e ao mesmo tempo que isso me deixava feliz, me deixava mal também.

—O que é isso? —Ela indicou a sacola que eu segurava, fazendo algo se aquecer dentro do meu peito.

—Uma fantasia pro baile de Halloween do colégio. Consegui emprestada. —Dei de ombros, vendo ela abrir um sorriso pra mim. —Um amigo me convidou pra ir.

—Que amigo? —Ela pareceu surpresa e ao mesmo tempo feliz. —Quase nunca vejo você com ninguém.

—O pessoal do colégio é complicado. —Falei, porque na verdade 90% deles eram simplesmente insuportáveis. Prefiro viver me iludindo com os livros do que com a vida real. —É o Victor. O garoto que consertou meu notebook.

—Oh, sim, eu lembro quando me falou. —Ela assentiu com a cabeça, ainda sorrindo. —Ele é gentil com você?

—Eu sou leitora, mãe, não ia aceitar alguém que não fosse pelo menos gentil comigo. —Afirmei, arrancando uma risada dela.

—Ok, você tem um ponto importante. —Ela ergueu as mãos pra cima como se estivesse se rendendo. —Devo me preocupar se ele for parecido com... Como é o nome daquele personagem que você ama mesmo?

—Aaron Warner, mãe. —Eu ri da expressão curiosa dela. —E não, ele não se parece com ele. Eu não fico caçando um Warner na vida real. Ele é ruivo, inclusive.

—Ruivo? Hmmmm, isso está ficando interessante. —Ela exibiu uma expressão presunçosa que me fez rir e revirar os olhos ao mesmo tempo.

Victor não se parecia nem um pouco com meu personagem literário favorito, mas isso não o deixava menos interessante do que era.

[...]

Comecei a apagar as luzes das salas de dança e trancar as portas, sabendo que hoje estava fora de cogitação praticar balé, porque Victor havia mandando uma mensagem mais cedo dizendo que iria passar aqui. Ele não falou, mas eu sabia que Julian estava vindo junto, porque da última vez que eu entrei no Instagram ele havia postado um vídeo de Victor caindo de skate na rua, o que fez Julian cair na gargalhada e o celular tremer até o vídeo acabar.

Eles eram engraçados quando estavam juntos. Era uma amizade um pouco peculiar. Acho que foi isso que me deu coragem de ir sentar com os dois no refeitório hoje, quando normalmente eu me escondo na biblioteca que é menos cheio e agradavelmente silenciosa.

—Oi, vampirinha. —Levei um susto quando Victor apareceu do nada no meu caminho quando me virei no corredor.

—Ei! —Levei a mão ao peito, sentindo meu coração disparado, enquanto ele soltava uma risada. —Acho que o vampirinho aqui é você, chegando sem fazer barulho.

—Talvez eu seja. —Ele deu de ombros, tombando a cabeça de lado. —Como acha que eu invadi esse lugar várias vezes sem ser pego?

—E por que você invadia esse lugar, hein? —Eu passei por ele para seguir o corredor, vendo ele me seguir. Já havia perguntado aquilo outras vezes, mas ele nunca me dava uma resposta concreta. Ao mesmo tempo que Victor parecia um livro aberto, ele também parecia um enigma e isso despertava minha curiosidade.

—Você sabe a resposta pra isso, só não se ligou ainda. —Ele passou por mim, chegando naquela sala onde pulamos a janela o outro dia antes de mim, me lançando um olhar carregado por cima do ombro. —Quem é a única pessoa que está depois que o lugar fecha?

—O segurança. —Falei, soltando uma risada quando ele estalou a língua, mas ao mesmo tempo meu coração parecia ter parado de bater, porque eu estava com frio enorme na barriga.

—Eu não me interesso por homens. —Victor deu um peteleco na ponta do meu nariz quando cheguei até ele. —Não finja que não entendeu.

Ele entrou na sala e pulou a janela sem esperar por mim, enquanto eu olhava para aquele corredor escuro e vazio, começando a me perguntar o que havia feito pra chamar a atenção de alguém como ele. Victor Summer era bonito, inteligente, popular e está sempre se metendo em confusão. Eu sou quieta, solitária e não tenho um dólar no bolso. Não temos absolutamente nada em comum, mas ainda sim ele está aqui falando e fazendo essas coisas.

A melhor coisa de se viver entre páginas de livros são todas as sensação que a história e os personagens despertam em você. Eu estava sempre transbordando em vários sentimentos quando lia alguma coisa. Ninguém na vida real deveria ser capaz de me fazer sentir essas mesmas coisas por personagens que não são de papel. Mas Victor conseguia e ao mesmo tempo que isso era assustador, era incrível também.

Continua...