Capítulo 26 - A forma sólida da palavra "casa".

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— Ok, me dê dez minutos – eu concordo, e encerramos a chamada em seguida. Volto a me apoiar no carro, enquanto procuro no GPS o endereço que Lauren havia me encaminhado. Não era muito distante, embora também não seja muito perto. Uns vinte minutos, talvez.

Busco algumas rotas alternativas, e, após oito minutos, Sofia está saindo da porta de casa, com uma blusa de moletom preta, sem estampas ou detalhes e uma calça jeans de lavagem escura. Seu cabelo ainda estava molhado, porém, agora, bem penteado e repartido para o lado. Ela tinha uma mochila pequena nas costas, e um sorriso enorme no rosto enquanto quase saltitava ao atravessar a rua.

— Estou tão animada! – Ela deixa um beijo rápido na minha bochecha, e já começa a contornar o carro. – Vamos!

Eu rio de seu entusiasmo, e adentro o carro em seguida. Sofia não parecia estar nervosa, como quando foi apresentada a Rogério na noite da convenção. Suas mãos não tremiam ou aparentavam soar, seu lábio não era torcido e sua perna tão pouco estava inquieta. Ela apenas digitava algo freneticamente no celular, bom um meio sorriso nos lábios que eu conseguia ver toda vez que achava seguro desgrudar os olhos das ruas para olha-la de soslaio.

— Com quem você tanto conversa, hein? – Eu pergunto o que quero a mais de uma semana, visto que esses sorrisinhos começaram nesse período.

— Você prefere rosas ou tulipas? – Sofia pergunta, aleatória, como se nem tivesse escutado o que eu havia dito. Ou só ignorado.

— Rosas ou tulipas? – Eu repito, para ter certeza, e a vejo concordando com a cabeça por soslaio. – Acho que Rosas. Mas não entendi a pergunta.

— Fiquei curiosa – ela da de ombros, digitando algo em seu telefone antes de bloquea-lo. – Estava conversando com sua namoradinha.

Eu emito um resmungo nasal, voltando a prestar atenção no trânsito e no som da mulher do GPS, que me mandava virar à esquerda.

— Pare de falar isso – não que eu não estivesse gostando, claro. Mas me deixava sem graça.

Nunca tive conversas sobre os meus relacionamentos com Sofia, logo, nunca alcançamos a fase em que ela brinca chamando alguém que estou me envolvendo de "namoradinho", e Dinah está velha demais para fazer esse tipo de piada. Não é uma novidade dizer que Sofia detestava todos os meus outros envolvimentos, sejam eles homens ou mulheres, então, não discutiamos sobre eles –a não ser as vezes que ela me dava motivos sem nexo para terminar. E, quando eu estava Lauren, ela era muito nova para se interessar.

— Estou curiosa sobre outra coisa, Kaki – ela apoia a cabeça na janela do carro, me olhando.

— Sobre o quê?

— Como anda você e a Laur? Sei que as coisas estão bem quentes porque me lembro de você usando essas blusas de gola alta quando voltava da casa dela para esconder os chupões – minhas bochechas coram violentamente quase que de imediato, e eu a olho por um segundo ou depois. – Mas não é isso que estou perguntando.

— Sofia, pelo amor de Deus – limpo a garganta, sem graça. – O que você está perguntando, então?

Ela não se abala com meu constrangimento, e inspira fundo, pensativa.

— Quero saber como anda a relação de vocês – ela diz, por fim. – Eu digo, você ainda gosta dela o suficiente para voltar a ter um relacionamento?

Eu tento me concentrar apenas naquela pergunta e esquecer o fato recém-descoberto de que minha irmã sabe o motivo de eu estar usando essa blusa.

— Claro que gosto – sou honesta. – E sobre a questão de voltar a ter um relacionamento, isso não me assusta mais. Digo, voltar para ela visto a forma que terminamos. Ela mudou demais.

Em Outra Vida, Talvez?Where stories live. Discover now