Restraints

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Narrador POV

"15 de fevereiro de 2021 - Palo Alto, Califórnia

Os pássaros pareciam cantar mais alegremente naquela manhã de segunda-feira na Stanford High. O clima entre os alunos, apesar de instável desde a construção do Olimpo em agosto de 2020, parecia mais ameno e agradável. Era óbvio que o sexagésimo nono título da equipe de torcida - ganhado dois dias antes - tinha a ver com a forma como o ar da escola se estabelecia de uma boa forma.

A vitória das CashCats em mais um campeonato estadual não era mais uma surpresa para os alunos da instituição, apesar de que o país inteiro ainda ficasse abismado com a facilidade esmagadora que apenas a Stanford tinha de ganhar títulos. O intervalo daquela manhã se passava tranquilo, da mesma forma previsível de sempre, em que os integrantes da Pangeia se sentavam no Olimpo e o restante da escola se esgueirava entre as mesas comuns.

Bom, tranquilo para todo mundo, menos para quatro pessoas.

Enquanto a mesa dos alunos mais populares e cobiçados da escola se encontrava animada em uma conversa sobre o campeonato ganho, o grupo seleto de pessoas não conseguiu acompanhar o quão monótonos e taciturnos estavam os Originais. Camila comia em silêncio, lançando sorrisos curtos - assim como Dinah sentada ao seu lado - quando percebia que estava estranhamente quieta demais. Troye tinha seu olhar vago para o prato à sua frente, mantendo o foco de seus pensamentos bem longe de onde estava. Tristan, por sua vez, estava mais pálido que o normal, proveniente do início da anemia que o atleta estava adquirindo.

Tristan não se alimentava, mal dormia, passava grande parte de seus dias chorando e, no restante deles, torcia para que morresse logo. Seu olhar de ódio mortal para Troye chegava a ser palpável, tendo quase um delírio consigo mesmo em que - em seus melhores sonhos - matava o loiro de olhos azuis sentado na mesma mesa em que estava naquele momento. A força absurda com que o widereceiver apertava o garfo de metal entre seus dedos só não era maior que o sentimento de rancor e raiva que nutria pelo rapaz que ainda encarava o prato em silêncio.

Precisar fingir que nada aconteceu era o que o matava aos poucos.

A sensação da falta que Maya fazia era abrasante. A angústia se debruçava em um martírio entre as vértices mais escuras de sua alma; trucidando sua mente de dentro para fora, como um aviso prévio do padecimento em que fora colocado. O sentimento da culpa de não ter chegado dez minutos antes nunca sairia de sua mente, carregaria aquele fardo até o dia de sua morte.

— Vocês viram a cara da Harvey quando ganhamos mais uma vez?! Impagável! Aquela baranga não cansa de perder. - A voz de deboche e diversão vinha da garganta de Gigi, essa que já tinha terminado seu prato do dia e apenas ria entre os assuntos do campeonato estadual.

— Perder se tornou um hábito para elas, Hadid, por isso sempre tentam nos desestabilizar. Do que adianta? O que vem de baixo não me atinge. - Alice respondeu com a prepotência escorrendo por entre seus lábios, ajeitando a saia verde escura lisa que subia de acordo com suas movimentações enquanto estava com as pernas cruzadas.

— Como assim 'o que vem de baixo'? - A co-capitã voltou a dizer depois de alguns minutos quieta, franzindo as sobrancelhas para a declaração da loira a alguns centímetros de onde estava, do outro lado da mesa redonda.

— Uma escola pública de São Francisco?! Por que a intimação de pobres me atingiria...? - Alice voltou a dizer com escárnio na voz, arregalando levemente os olhos enquanto levantava as sobrancelhas em uma expressão de que estava falando algo óbvio.

Pretend Where stories live. Discover now