— Não funciona enquanto seguramos as facas, lembra? - O garoto disse divertido, em uma tentativa de tirar a tensão quase palpável do pânico crescente da garota. Seu braço direito musculoso foi levantado acima de sua cabeça, acenando com a faca para a câmera que deveria estar filmando pelo sensor de movimento, no entanto, nada acontecia.

— Onde estão os outros? Ele já apagou? - Ignorou a tentativa de distração do garoto, indo direto ao ponto enquanto ajeitava sua camiseta sobre a calça jeans. Seus olhos furtivos observaram o quão escuro estava o corredor no qual se encontravam naquele momento, tendo somente algumas lâmpadas acesas para que não ficassem no completo breu.

— Sim, acredito que só acordaria amanhã, se fosse o caso. - Ele confidenciou com seu tom ameno, esperando o tempo da garota de começar a caminhar até o encontro dos outros. Sentia a vontade de abraçá-la por observar o quão frágil sua amiga estava, todavia, sabia que contato físico não seria de bom grado no momento, portanto, estabeleceu seu apoio moral apenas com sua presença.

— Por que veio até aqui? Achei que iria me ligar quando terminassem. - Seu tom era baixo, em uma crescente tentativa de tirar a sensação horrível de seu peito. O nó em sua garganta só crescia a cada segundo que chegava mais perto de precisar, finalmente, cometer o horror que a tirava de órbita.

— Instinto. Senti que precisava da minha presença para encorajá-la. - O garoto respondeu com sinceridade, sorrindo de forma curta e compreensiva para a loira que apenas assentiu lentamente.

Mesmo que não fosse admitir naquele momento, sabia que a presença do loiro ali consigo era de suma importância; sentia que, de fato, se ele não fosse buscá-la, não teria a coragem necessária para caminhar e terminar o que iria fazer. Se sentiu orgulhosa por manter aquele garoto de cabelos bem cortados em seu ciclo de amigos, entendendo o quão incrível ele era para si e para uma grande parcela de pessoas.

Um porto-seguro. Tristan era exatamente isso desde que chegara àquela instituição anos antes.

Sem perder mais tempo que o necessário, ao sentir uma súbita sensação de mal-estar, a loira iniciou sua caminhada pelo corredor, sendo acompanhada automaticamente pelo garoto ao seu lado. O silêncio reinou no lugar, já que ambos sabiam que as palavras não eram necessárias a partir daquele ponto. Apesar de andarem em uma velocidade média, a brisa fresca que somente a primavera concedia à região batia contra seus corpos, dando uma sensação mesclada entre a liberdade e o pânico.

Após virarem à esquerda em direção ao corredor dos Seniores e seguirem o caminho até o hall de entrada onde a bifurcação da escadaria se fazia presente, a estátua de Leland Stanford ali parecia uma grande ironia na cabeça da loira, que fez questão de estacionar seu corpo por alguns segundos bem à frente da escultura de pedra do homem que fundara o lugar onde ela agora pisava.

— É tudo culpa sua! Espero que esteja orgulhoso. - O rancor em sua voz era palpável, assim como a súbita sensação de raiva que crescia em seu corpo. Ela sabia que, no fundo, não sentia raiva e nem nada do tipo sobre Leland, muito pelo contrário; entretanto, inconscientemente, o que aconteceria nos próximos minutos era, de fato, culpa do homem eternizado na escultura esplendorosa.

Tristan sabia que Dinah precisava de um tempo para si, e foi exatamente por saber disso que preferiu se manter em silêncio ao ouvir o que havia sido proferido por sua boca. Sua mão esquerda se elevou gentilmente até a cintura da loira, em um gesto silencioso de que deveriam seguir o caminho. Quando passaram para o corredor sob a escadaria e seguiram em direção ao largo corredor cheio de portas, o pensamento de Dinah foi ágil em perceber aonde estavam os outros.

Pretend Where stories live. Discover now