[01] Vida que floresce no vento e na chuva

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Onde existe uma flor que desabrocha sem balançar?

Neste mundo, até mesmo as flores mais bonitas

Todas desabrocham durante esse agito

E, enquanto isso, os seus caules crescem mais firmes

— Do Jonghwan



Aquela era uma cena atípica na vida de uma mulher como Bae Joohyun.

Até então, dias de verão como aquele costumavam ser os seus favoritos. As monções traziam consigo uma chuva melodiosa, em que o som do choque dos pingos d'água lhe chegava aos ouvidos como uma bela canção de ninar, acolhendo-a na solitude noturna enquanto se preparava para mais uma noite de sono tranquilo.

Pouco antes de chegar ao corredor, tudo em que pensava era em tirar os sapatos e deixar que a sua playlist reverberasse no apartamento enquanto preparava o jantar, apreensiva pelo momento em que leria até que as pálpebras pesassem. Uma rotina consistente há tantos anos que nem mesmo se lembrava de quando tudo havia começado, mas tudo bem, pois a estabilidade era reconfortante.

Entretanto, algo dentro de seu peito dizia que aquela noite seria o começo do fim das normas do cotidiano.

Joohyun observava a sua vizinha com uma curiosidade cintilante no olhar. Ela conseguia contar nos dedos de uma mão a quantidade de vezes que havia encontrado aquela mulher em sua vida, de tal forma que, se a perguntassem sobre a aparência da outra, teria dificuldades de descrever até o tom de pele daquela que dividia o andar do apartamento consigo.

Por isso, ela sentiu uma fisgada incomum em seu coração ao se deparar com uma situação de intimidade iminente. A tal vizinha, de rosto escondido sob tantos fios de cabelo, estava sentada sobre os próprios calcanhares no corredor, deixando com que um choro baixo e tão sôfrego soasse como um canto triste em meio ao som da chuva.

Impulsionada por um sentimento que era incapaz de caracterizar, Joohyun se aproximou, o barulho do salto alto se fundindo com o farfalhar de sua bolsa e criando um eco incômodo naquele lugar. Os pés latejavam, mas isso não a impediu de se agachar e analisar com inquietação a mulher à sua frente.

O que deveria fazer?

— Ei? — sussurrou em hesitação. Quando inspirou, o odor acre de álcool dominou o seu olfato e a enjoou por um momento. — Está tudo bem?

Contudo, não recebeu resposta alguma. Ao invés disso, a vizinha ergueu a cabeça com lentidão, os inúmeros fios castanhos escorrendo para ambas as laterais do rosto abatido. Ela sustentava um sorriso entristecido, toda a feição adornada por uma maquiagem que, antes, deveria ter sido algo muito mais gracioso do que aqueles borrões desconexos e escorridos.

Joohyun hesitou, mas tomou a liberdade de tocá-la com sutileza, os dedos trêmulos colocando o cabelo dela atrás da orelha.

— Como posso te ajudar? — inquiriu em um tom sereno. Sob o som da chuva, apenas elas podiam escutar uma à outra. — Consegue se levantar?

A mulher acenou negativamente e, então, abaixou a cabeça outra vez, parecendo estar prestes a apagar. Já trêmulos, talvez pelo tempo em que ela estava naquela posição tão desconfortável, os pés falhavam em lhe dar o equilíbrio necessário para se levantar, fazendo-a cambalear até mesmo quando tentava executar movimentos mínimos.

Joohyun, por um momento, paralisou. Nunca havia passado por uma circunstância como aquela, mas que tipo de ser humano seria se simplesmente ignorasse a situação? Em um suspiro, pôs-se ao lado de sua vizinha e a deixou envolver o braço em seu pescoço, abraçando-a de forma desajeitada pela cintura. O peso colocado era significativo, fazendo os próprios pés tremularem de cansaço, mas decidiu não se importar.

Contos de Apartamento | SeulReneWhere stories live. Discover now