Capítulo 41

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Kelsey Weber

5 meses, 17 dias e 10 horas. Foi o último dia em que vi Leonel. E Hellen. Em que estive no chá de casa nova deles.

Quando você enfrenta o inferno, você acha que nada mais irá te abalar. Acha que é à prova de tudo. Nada no mundo seria capaz de te colocar de joelhos novamente. Era isso o que eu pensava, até meia hora atrás. Antes de tudo acontecer.

As paredes brancas ardem meus olhos, eu já estive aqui algumas vezes. Já estive aqui com Aaron. Já passei pelo inferno nesse lugar. Eu já quis morrer da última vez em que coloquei meus pés aqui. E agora, parece que está doendo mais do que da última vez. Parece que está queimando de dentro pra fora.

Quando atendi o telefone, eu esperava qualquer coisa. Afinal, era Agatha quem estava ligando. Eu fiquei ignorando suas ligações, mas quando eu li "pelo amor de Deus, me atende", eu soube o que havia acontecido.

E então as palavras saíram de sua boca, e mais uma vez eu senti minhas pernas fracas demais para ficar em pé. Senti um frio na barriga, de medo. Senti meu coração parar de bater por alguns segundos, eu conseguia ouvir cada batimento meu.

Então eu corri, atordoada, sem conseguir dizer nada a ninguém. Eu apenas corri. Porque se eu ficasse lá parada, se eu caísse de joelhos de novo... Seria igual a última vez. Igual quando perdi Aaron.

— Eu peguei um café pra você — murmurou Agatha, então eu saí de meus pensamentos. Limpando as lágrimas.

— E-eu... Eu não consigo mais — minhas palavras saíram em tom de sussurro. Ela me abraçou, mas quem deveria estar abraçando-a agora era eu. — Eu não conseguia respirar. Não conseguia falar. Apenas tremia e sentia o gosto amargo da morte. Achei que tínhamos perdido ele. Eu quis morrer — abracei ela, deixando meus olhos liberarem as lágrimas assim que os fechei com força.

Eu quis morrer. Porque não conseguia imaginar um mundo sem Leonel. Porque tudo o que vivemos passou pelos meus olhos e eu lembrei do dia em que eu disse que não amava ele. Lembrei das vezes em que deixei ele ir embora. E também lembrei que eu não o escolhi. Eu queria tê-lo escolhido.

Eu quis morrer no momento em que Agatha disse que Leonel havia colidido com um carro, que ele estava inconciente e estavam levando-o para o hospital. Eu quis morrer porque eu achei que ele havia morrido. E eu só conseguia pensar "qualquer um, menos ele, qualquer um, menos ele... Por favor, qualquer um".

— Kelsey, para! Leonel está bem! Claro, ele se ralou todo, quebrou o pulso e perfurou uma veia... Mas está bem! Ele está vivo!

Leonel está vivo, então eu estou viva.

— Ele já acordou? — questionei. Eu saí de casa tão rápido que não avisei ninguém, nem minha mãe e nem Bryce que estava tomando banho. Eu apenas sai correndo e peguei um táxi. Paguei os olhos da cara porque não atinava a chamar um Uber, a esperar o Uber e a tentar me acalmar.

— Ainda não, mas tenho medo de quando acordar e saber que a moto dele está em pedaços... Mas pelo menos ele está inteiro — ela riu, o que me deixou mais tranquila. Ainda estou tentando convencer minha cabeça de que está tudo bem, de que ele está bem. O susto foi enorme, preciso me recuperar.

— Acho que vou embora, já pedi pra Bryce me buscar — murmurei, tomando o café que ela havia pegado para mim.

— Você não quer esperar ele acordar? Chegou aqui quase primeiro que eu, deve querer ver ele — eu levantei, pegando meu celular e colocando o copo descartável em um lixo. Balancei a cabeça em negação, prendendo meus cabelos com um elástico rosa. Não, eu não quero que ele saiba que estive aqui, não quero que saiba que me importo com ele. Eu sei, quase o perdi. E talvez eu tenha perdido Bryce. Se fosse ao contrário, Bryce teria me perdido.

— Não fala nada, por favor. — Abracei Agatha e sai do hospital, esperando no estacionamento. Imagino meu estado deplorável, olhos vermelhos e inchados. Estou com um short e top branco com vários pandas espalhados por ele. Ainda estou de chinelos, e somente agora amarrei meus cabelos revoltos.

Bryce parou o carro e eu entrei, olhei brevemente para ele. Mas seu olhar estava no volante. Eu sei, eu fiz merda. Eu não falei nada pra ele. Eu não consegui, pois nem lembrava que ele existia. E quando ele me mandou mensagem, pediu para eu voltar pra casa. Pediu para que eu tivesse calma. E eu apenas o xinguei, falei que ficaria aqui até que Leonel acordasse. Bom, estou indo embora antes disso, mas ele não precisa saber. Acho que seria mais doloroso vê-lo machucado, mesmo que não seja nada grave.

— Ele tá bem, foi só um susto. Quer dizer, ele quebrou o pulso e provavelmente vai morrer quando ver a moto dele toda destruída — eu ri, tentando imaginar a cena. — Mas foi só um susto. Agatha disse que o cara cortou a frente dele e por sorte ele não estava muito rápido. Mas caramba, Leonel podia ter morrido. — Aconcheguei meu corpo ao banco, ligando o rádio pois o silêncio era insuportável. Ele sabe, ele sabe que amo Leonel mais do que amo ele.

— Eu não me importo, Kelsey — murmurou, ainda sem olhar pra mim. 

— O que?

— Eu não me importo se Leonel está vivo ou morto. Eu sempre estou em segundo plano, de qualquer jeito. Eu já entendi em qual posição estou na sua vida, e você me lembrou isso hoje quando saiu correndo para os braços dele.

— Você só pode estar maluco, Bryce. Apesar de tudo ele é meu...

— Seu primo? — Bryce riu amargurado, e foi a primeira vez que olhou pra mim desde que entrei no carro. — Você é tão egoísta e sonsa. A quem está tentando enganar dizendo que só se importa com ele por ser seu primo? Acha que sou idiota? Acha que vou aturar isso de novo? — eu consigo sentir a dor em suas palavras. Eu não posso julga-lo, mas preferia que ele não tivesse tocado nesse assunto hoje.

Leonel Or BryceOnde histórias criam vida. Descubra agora