Capítulo 36

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KELSEY WEBER

O tempo está passando rápido demais, já estamos no começo do ano mais uma vez. Okay, acho que estou feliz agora. Sim, ainda tudo acaba se tornando Leonel no final do dia. Seja nos livros que escrevo, seja em uma mensagem ou telefonema as quatro horas da manha. Ele me liga e eu não atendo, ou as vezes quando Bryce está ferrado no sono, eu atendo apenas para ouvir sua voz. Acho que não sinto mais tanta falta dele assim. Sinto mais falta de como era tratada, como se não houvesse algo além de mim. Não para ele. Já Bryce, tem tantas outras prioridades, tem tantas coisas que ele quase me obriga a fazer junto a ele. Como visitar sua família, sair para cinema, shopping, campos de futebol apenas para vê-lo jogar. Ele é diferente de Leonel, ele se mostrou diferente depois que eu fiz a minha escolha. Acho que se sentiu seguro demais. 

Abri o notebook, comecei a escrever qualquer coisa apenas para ficar inspirada. Precisava terminar logo estes livros, havia tantos leitores me cobrando. Até eu mesma estou me cobrando. E não sai nada. Nada que não seja Leonel, histórias de amor com finais tristes. Amores proibidos que tentam resistir a qualquer custo. É sempre a mesma coisa, já virou uma temática batida em meus livros.

Coloquei os fones de ouvido, liguei a música no último volume. Aproveitando que estou sozinha em casa. Meus dedos começaram a deslizar pelas teclas, palavras e mais palavras. Leonel, Leonel e mais de Leonel.

Quando a criatividade acabou, deixei o texto pela metade e comecei a ler ele.

"É tão estranho ler tudo o que escrevi sobre você, é estranho lembrar que um dia eu fui completamente apaixonada por você. E agora eu mal consigo olhar para você e pensar que tudo o que aconteceu foi um erro. Nós fomos um erro, querido.

É impressionante como as pessoas são substituíveis, já parou para pensar nisso? Ontem, era pelo seu sorriso que eu era apaixonada, era pelo seu jeito de falar e tudo em você me encantava. Nossa, eu perdia o ar quando você olhava para mim. Meu corpo se arrepiava ao seu toque. Ainda não entendo como uma pessoa pode ter tanto efeito sobre outra. Ontem era tudo sobre você, hoje, é sobre ele, tudo nele é perfeito aos meus olhos. O sorriso dele é quase mais bonito do que o seu. Os olhos dele me deixam inebriada, mais do que os seus deixavam. O perfume faz meu coração acelerar agora. É como se você nunca tivesse existido. Você se sentiria triste com isso? Por não ser mais sobre você?

Isso me assusta, porque eu sinto que é real, exatamente como senti com você. Eu sentia que precisava de você, e eu sinto que preciso dele. Eu sentia que te amava e daria a minha vida pela sua, mas agora, esse sentimento é por ele. Os momentos, as lembranças, os sonhos e planos... tudo isso é real? As pessoas realmente amam umas as outras? Se apaixonam de verdade?

Parei de escrever, sentindo como se um vazio tivesse sido preenchido. Eu amo essa sensação, colocar toda a angústia que sinto nos meus textos, nos livros. Eu desabafo sobre tudo apenas com palavras. Essa é a minha válvula de escape.

— Bom dia, amor — Bryce se escorou no batente da porta do banheiro, com um sorriso malicioso e a toalha enrolada na cintura. Os cabelos loiros quase brancos molhados e bagunçados. O corpo definido, ainda com gotículas de água. Meus olhos passearam por seu corpo, seguindo para a linha em V na sua cintura, que segue para um lugar mais perigoso.

Nós já transamos algumas (muitas) vezes. Depois que começamos não paramos mais. Nós temos paixão, tesão, acho que fazemos realmente com vontade. Não é como se fosse algo da rotina, já que agora praticamente moramos juntos.

Bryce fica aqui na segunda, quarta, quinta, sábado e domingo. Pois são os dias em que minha mãe fica na casa do namorado. Antes ela não nos deixava dormir juntos, mas depois que eu contei a ela que não era mais virgem, ela começou a deixar.

Não, eu não falei a pior parte. Não falei que havia perdido minha virgindade com Leonel... Mas ela não precisava saber disso também. Eu já estava sendo uma boa filha não escondendo isso dela. Não deixando que ela pensasse que sou uma santa imaculada. Deixei bem claro para ela que tomei anticoncepcionais, usei preservativos — com Leonel não — e foi totalmente consensual.

Minha mãe não ligou muito para isso, disse que é algo natural da vida e já esperava isso. Uma hora ou outra eu iria fazer sexo. Então apenas me orientou, dizendo todos os dias para tomar os remédios contraceptivos, dizendo todos os dias que se eu engravidar, vou me arrepender para o resto da minha vida.

Acho que ela não se arrepende de mim, apenas passou muito trabalho me criando e, não quer que eu passe pela mesma coisa. Não quer me ver com um filho nos braços sem saber o que fazer com ele, sem saber o motivo de estar chorando e sem conseguir fazê-lo parar. Então eu entendo sua preocupação.

— Bom dia, amor — falei, sorrindo. Fechei a tela do notebook rapidamente quando ele se aproximou. Não deixo Bryce ler nada sobre o que escrevo. Já que na maioria das vezes, nada é sobre ele. E os meus livros são um pouquinho obscenos e ilícitos.

Meu último e mais famoso livro foi sobre dois irmãos, que se apaixonam ao passar dos anos. Eles fazem um acordo de terem relações sexuais, mas sem sentimentos mais profundos. São apenas dois adolescentes que querem sexo e, começam a desfrutar um do outro por curiosidade. Mas já tem paixão envolvida, porém eles fecham os olhos para isso.

É claro, eu não consegui deixar o livro tão pesado. Então coloquei eles como irmãos adotivos. Para não deixar tão pesado, e também para os leitores não me crucificar, já que todos julgam antes de ler o livro. Falei para minha mãe sobre o que era meu livro, apenas para saber o que ela achava sobre isso e sua reação foi horrível.

Ela disse que isso é tão nojento que jamais vai ler meu livro. Mas também disse que não há limites para o talento. Pelo menos ela me acha talentosa. 

Leonel Or BryceOnde histórias criam vida. Descubra agora