Capítulo 6

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LEONEL WEBER

Meu coração parecia querer saltar pela boca. Só Deus sabe tudo que fiz para evitar sentir isso que estou sentindo agora. Essa sensação de que a tenho, mesmo sabendo que não é possível tê-la para mi. Não não mais a pessoa que ela conheceu, não sou mais quem ela quer que eu seja. Todos estes anos passei evitando ela, para não me apaixonar, pois a cada vez que eu olhava para ela ou ouvia seu nome, era como se eu precisasse dela. Como se fosse um erro me afastar por saber que isso é errado. Que ela acharia loucura e se afastaria de mim, poderia até mesmo me odiar. E eu não suportaria seu olhar de reprovação. 

É normal que crianças comecem a se apaixonar a medida que vão crescendo. É normal que comecem a descobrir e se encantar por coisas do mundo dos adultos. Mas eu percebi que meu desejo e paixão estavam sendo depositados na pessoa errada. Pois nós crescemos como irmãos, fomos criados juntos, praticamente abaixo do mesmo tempo. Então quando eu passei a me sentir atraído por Kelsey, vi que estava com defeito. Nasci com defeitos. Poderia ser qualquer garota... menos a garota que foi criada comigo. Nós temos um longo histórico de memórias, e passar por cima disso seria imprudente. Destruiríamos tudo o que construímos ao longo destes anos.

Sem contar que seriamos a vergonha da família. E eu nunca estarei pronto para desapontar minha mãe e minha tia. Elas são as mulheres que sempre cuidaram de mim, prometi que seria o orgulho delas. E é isso o que irei fazer. Eu já me alistei, vou virar militar. E principalmente vou me afastar de Kelsey. Um tempo longe será o suficiente para fazerem o sentimentos morrer. Afinal, nunca nem tivemos nada. Nada além de troca de olhares, provocações e muitas conversas jogadas fora durante as madrugadas. Ela se tornou tudo na minha vida, quase a odeio por isso. 

 — Acho que não deveríamos estar tão perto assim — diz ela, quando me aproximo mais. Lutando contra mim mesmo. Não quero me afastar, quero sentir seus lábios uma primeira e ultima vez. Apenas para saber o sabor, a sensação de ter o mundo explodindo dentro da minha boca ao sentir a língua dela dançando com a minha. 

— Meu Deus, você não sabe o quanto isso parece certo agora — murmurei, engolindo em seco. Olhando sua boca rosada, como se estivesse me chamando. Ela abriu devagar seus lábios, como se fosse falar alguma coisa. Mas desistiu de imediato, fitando o chão, não conseguindo sustentar meu olhar. 

Kelsey tomou a iniciativa, puxando-me para ela. Ficando nas pontas dos pés para me beijar. Selando nossos lábios calmamente. Virei a cabeça para o lado devagar, sentindo sua língua adentrar devagar. Tranquei minha respiração, o ar parece pesado para mim neste momento. Caramba, estou realizando o maior sonho da minha vida. Poderia morrer feliz agora, sabendo qual o sabor de seus lábios. Ela tem um gosto de morango, um cheiro doce e delicioso de morango. Porra, se soubesse que isso seria tão perfeito teria beijado-a mais vezes. 

Sem ar, nos afastamos. Mas nossas testas permaneceram grudadas. Nossas respirações ofegantes nos entregava. Ela sorriu, ainda sem olhar para mim. Meu mundo desmoronou nesse momento. Ela é uma obra de arte, poderia admirá-la por muitas horas a fio.

— Deveria ter feito isso antes... — disse ela, jogando seus braços ao redor do meu pescoço. Ah, isso não pode ser real. Acho que estou sonhando ou então delirando apenas. Tenho medo de ela querer estar comigo apenas por causa do álcool estar em sua mente. Pois eu a quero muito para me iludir assim. Procurando qualquer vestígio de que isso seja reciproco e não uma paranoia. 

— Eu tive medo, medo de me odiar, eu nem sei direito.

— Eu jamais poderia odiar alguém como você, Leonel — murmurou, selando nossos lábios. Porra isso é real, mais real do que qualquer coisa que eu já tenha vivido. Ela está aqui diante de mim, em meus braços, beijando meus lábios. Não posso descrever o quanto estou em choque, em êxtase, alucinado.

— KEEL! — chamou Agatha, e a amaldiçoei mentalmente por isso. Por ter feito nossos mundos desmoronar tão rapidamente quando o feitiço quebrou e percebemos o que estávamos fazendo. Ela encarou o chão, engolindo em seco. Sussurrando um "desculpas".

Ela saiu do meu campo de visão, senti meu corpo todo arder em reprovação. Parece que a perdi novamente, ou, como se eu nunca a tivesse antes. Como se tivesse sido apenas um sonho bom.

Acho que podemos fingir que nada aconteceu. Pois sei que se assumimos algo, começaremos a viver em um caos. Entre nós mesmos, um caos em nossa família, um caos interno e o caos por sermos idênticos. Mesma personalidade, mesmos pensamentos, mesmo desejos e ambições. Somos mais parecidos do que realmente queremos admitir. E o ditado é que os opostos se atraem, não os iguais. Não temos chances alguma.

Senti meu coração se partir por imaginar que tudo aquilo poderia ser real em algum momento. Que poderia existir um nós. Mas tudo o que somos impede isso.

Peguei uma bebida, virando-a rapidamente. Ingerindo mais o quanto mais rápido, apenas para esquecer dessa noite. Pois não quero carregar essa dor, não quero criar expectativas e pensar que um dia eu quase a tive para mim. Quero ficar bêbado e esquecer quem é Kelsey Weber. É isso o que vou fazer, vou mudar totalmente.

Eu sei que ela não tem culpa de nada, e eu nem poderia odiar ela, ela parece um anjo, está em um pedestal tão elevado que mal consigo a alcançar. Então preciso que ela me odeie o suficiente para que eu não sinta mais nada, para que eu não me aproxime mais. Preciso fazer com que ela seja feliz, mesmo que não seja comigo.

Nem que eu tenha que me transformar na pessoa que ela mais odeia, com as atitudes que ela menospreza. Preciso que ela não sinta nada por mim, para que eu também não sinta mais nada por ela. Para que eu consiga assumir o controle da minha própria vida.

Leonel Or Bryceحيث تعيش القصص. اكتشف الآن