Leonel Or Bryce

Capítulo 2

Nós estávamos deitados na grama, um de frente para o outro. Aaron tinha cinco anos e eu estava prestes a fazer doze. Ansiando pela festa, os balões, os presentes e brinquedos.

- Mana, você acha que a mãe vai fazer festa pra mim também? - perguntou animado, ele sempre ficou mais animado com aniversários do que eu. Pela euforia e pelas crianças da sua idade. Mas principalmente pelos doces. Aaron era um devorador terrível de doces.

- Claro que sim, você é o favorito dela - revirei os olhos. Pois isso realmente parece ser verdade. Mamãe diz que apenas da mais atenção a ele pois é mais novo, porém não acredito nisso.

Aaron sorriu, eufórico. Pude analisar cada detalhe do seu olhar, seus olhos pareciam um imenso mar com ondas. Ou um céu muito azul. Senti meu coração se encher de alegria, sem acreditar que uma pessoa que tive tantos ciúmes, agora estava acabando por virar meu melhor amigo. Pois não há nenhum outro lugar que eu prefira estar do que não seja com ele, cuidando e mimando Aaron como meu filho. Eu seu, ainda sou uma criança, mas é como se ele realmente tivesse todo meu amor. Não entendo bem como é isso, mas quando eu crescer, já imagino nós dois como grandes amigos quero passar os dias de ação de graças na casa dele, todos os natais e anos novos. Principalmente os aniversários.

- Eu amo você, maninho - falei abraçando o pequeno corpinho.

E então a realidade me machucou, eu estava só imaginando isso. Aaron nunca chegou a falar, a fazer cinco anos. Ele morreu com dois anos de idade, nunca tive a oportunidade de levá-lo para passear e mimá-lo, ou de passar mais natais com ele. Ele nunca falou que me amava, mas eu decifrava isso em seu olhar.

Senti meu coração em pedaços, não aguentando mais ficar imaginando e criando cenários em minha cabeça, cenários em que ele ficava vivo. Enquanto no mundo real, eu estava aqui e agora, chorando diante de seu corpo minúsculo, sentindo ele tão frio, com um

cheiro diferente do dele.

- Está aqui há horas demais, vamos, minha mãe vai levar a gente para casa - disse Leonel, tentando tirar-me de perto do meu irmão. Não irei sair daqui. Não vou abandonar ele irá voltar, eu acredito nisso. Talvez só esteja dormindo. Leonel é meu primo, eu fico todas as férias ou dias comuns na casa da minha tia. Ela tem mais duas filhas fora Leonel, e nós sempre ficamos brincando juntos. Nós praticamente somos como irmãos, mas agora... eu só queria o meu irmão.

Ok, eu tenho mais dois irmãos por parte de pai, mas eu os odeio. Preferia que eles dois estivessem mortos agora. Qualquer um deles, eu não ligo. Só queria meu menino de volta em meus braços, pegá-lo no colo e fazê-lo dormir como de costume. O que aconteceu? Ainda não entendo. Como Deus faz isso? Coloca anjos no mundo para depois tirá-los? Pedir para que retornem para o lado dele? Minha mãe sempre disse que quando morremos, vamos para o paraíso, e lá encontramos nossos entes queridos. Será que Aaron encontrou nossa tia e nossas avós?

O tempo foi se passando, e agora minhas pernas já estavam tão fracas que eu sentia uma pessoa me segurando para que eu não caísse de joelhos. Minhas lágrimas já não desciam mais, eu havia passado 12h chorando, e mais 12h chorando sobre um corpo morto e gelado. Aquele deitado era meu irmão, mas não estava como eu me lembrava. Não pude ver a cor de seus olhos por uma ultima vez, não pude me despedir do grande amor da minha vida.

- Vai ficar tudo bem - Leonel sussurrou, então eu deixei que ele me segurasse. Pois no momento que começaram a jogar terra em cima do caixão, eu não me contive. Não tive forças. Eu quero ir com ele, quero ser enterrada junto a Aaron. Eu prometi que seria nós dois até o fim. Não estou cumprindo com minha promessa.

- Leva ela pra casa, Margot - pediu minha mãe a minha tia, mãe dos meus primos. Kelsey já viu demais, ela não era nem para estar aqui.

- Ela vai ficar lá o tempo que precisar, minha amiga. Irei cuidar da nossa menina - disse minha tia, beijando o topo de minha cabeça. Logo abraçando minha mãe. E enfim, nós fomos para casa. O carro estava em silencio, Leonel e Laila são os gêmeos, eles tem 15 anos mas vivem brigando, pois ela é mais madura que ele e já virou uma moça. Agatha e eu, temos 12, nós nascemos com um mês de diferença, ela é minha prima e melhor amiga. Eu não sei como aguentaria essa noite sem eles ao meu lado.

Acho que eu nunca pensei que perderia Aaron, achei que ele estaria ali, para sempre. Para quando eu precisasse ou quisesse ter um momento com ele. Sinto como se não tivéssemos aproveitado o tempo que passamos juntos. Como se eu tivesse desperdiçado tanto tempo com coisas fúteis enquanto poderia estar com ele. Eu fui uma idiota, não lhe dei a atenção que merecia. E por tantas vezes eu não queria estar ao seu lado ouvindo seus choros e tendo que aguentar seus gritos. Mas agora, a única coisa que eu queria era acordar desse pesadelo recebendo um beijo babado dele ou até mesmo com ele chorando ao meu redor. Como já me acordou diversas vezes.

Meu coração está doendo, não consigo pensar direito, quero dormir para anestesiar a dor. Ou melhor, acho que preferia morrer agora. Não estou conseguindo juntar os pedaços sem ele aqui para me ajudar. Eu quero meu irmão de volta.

- Ei, deita ali com a Aggy, amanha nós vamos fazer algo em divertido. Okay - minha tia beijou minha testa, levantando o lençol rosa, com estampa da Barbie. Para que eu me acomodasse na cama de solteiro junto a minha prima. E então, deitei. Sabendo que não conseguiria pegar no sono esta noite. Acho que não vou conseguir dormir por um bom tempo.

Agatha me abraçou, fazendo carinho em meus cabelos. Ela é a irmã que eu não tive. Pois meu sonho sempre foi ter uma irmã da minha idade para brincarmos juntas.

- Ei! O que acha de esperarmos Leonel dormir, e maquiarmos ele? - perguntou ela, extremamente animada. Não quero ser a pessoa que vai estragar sua alegria contagiante, balancei a cabeça em afirmação, forçando um sorriso aparecer em meu rosto. Ela ficou feliz, então acho que isso basta. Não estou afim de fazer nada, apenas dormir e não existir por algum tempo, depois eu acordaria e tentaria entender tudo o que aconteceu em minha vida no dia de ontem.