CUIDADOS DE UMA BÊBADA

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"Estou esperando pelo dia
Quando essa voz vem dizer:
'Não há nada de errado no que você fez, p
or ser apenas uma criança'"

Waitin' on The Day — John Mayer

Waitin' on The Day — John Mayer

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THOMAS:

Isabelle está sentada em sua mesa com uma garrafa de cerveja em suas mãos e olhando para o nada com um brilho melancólico por uns cinco minutos seguidos. Confesso que eu odiava isso todas as vezes em que a via dessa maneira.

Porque, para mim, aquilo era perigoso. Eu sabia que ela estava se sentindo solitária e, por mais que tivesse mil pessoas ao redor, nada era capaz de tirá-la daquele transe circunspecto e ardiloso que a consumia desde criança. E eu não gostava.

Não gostava justamente por saber que, durante tantos anos da minha infância eu fui igual a ela, porém, de uma maneira forçada pela maneira que vivia.

Eu não podia fazer barulho, e eu não fiz do momento em que nasci até um pouco antes de me mudar para cá, quase aos dez anos de idade.

E, por não poder fazer barulho e querer, mais do que qualquer coisa nesse mundo poder fazer, vivia da maneira que eu queria dentro da minha imaginação.

Logo que me mudei para cá, meus pais prometeram-me que minha vida seria diferente. E foi. Nada de estudar em colégio militar. Nada de não poder ir à casa dos meus colegas de escola. Eu iria poder ter quantos amigos quisesse, fazer todas as atividades que desejasse e ir a uma festa de aniversário com outras crianças! Isso havia me animado tanto naquela época que quase consigo sentir a mesma sensação boa que o Thomas de nove anos sentiu ao chegar aqui. Foi libertador.

Porém, quando conheci a Isabelle, soube imediatamente que ela sofria o mesmo que eu e vivia mergulhada dentro de seus pensamentos solitários. Contudo, achava que ela não precisava ser assim, e logo tratei de invadir a sua vida e puxá-la para a realidade — na qual eu jurava que era maravilhosa e estava apenas esperando que nós dois viéssemos a explorá-la.

Foi assim que começamos nossa amizade. Achava que ela precisava de companhia para sair de lá, e por entendê-la, pensava que seríamos um par ideal.

Contudo, eu a amei por cada segundo desde então. A culpa de tudo é minha. Eu devia tê-la deixado em paz, não devia? Não tê-la forçado a sair da sua bolha.

Isso me desanima. Mas, ao mesmo tempo, me faz achar que, por um lado, eu estava correto. Temos memórias incríveis, de coisas incríveis que fizemos juntos, de tempos incríveis que passamos ao lado um do outro... de um tempo que não volta mais.

Agora sei que posso estar como ela: mergulhado profundamente nas nossas lembranças de um passado amoroso, no qual eu era estupidamente feliz ao seu lado. Possivelmente, também estou parado, olhando para o nada e melancólico dentro da minha própria imaginação.

𝑪𝒂𝒓𝒕𝒂𝒔 𝑷𝒂𝒓𝒂 𝑻𝒉𝒐𝒎𝒂𝒔Onde as histórias ganham vida. Descobre agora