Remember That Night?

7 | Ciúmes?

E no último segundo do segundo tempo, Lisa se machucou feio. Não só ela, uma outra garota do time também acabou se machucando, mas a notícia boa é que elas conseguiram ainda sim terminar de jogar e venceram. Acho que em todo nosso tempo de amizade eu nunca vi Lisa tão feliz, ela estava soltando fogos de artifício pelos olhos, de tanto que brilharam enquanto algumas meninas a erguiam para comemorar a vitória. O time adversário ficou arrasado, não que eu me importe, elas mereceram a derrota de tanto machucarem as meninas do time do colégio. Lisa está coberta de hematomas escuros pelo corpo, não sei como as meninas estão, mas aposto que iguais a ela. Lisa sempre consegue se superar quando o assunto é resistência, porque quando ela se machucou hoje eu achei que não daria certo, mas aí ela levantou, deu a mão para a outra menina do time para ajudá-la a levantar e elas foram até o fim sem desistir. Estou impressionada, eu no lugar de qualquer uma delas sairia chorando e ainda pediria aos enfermeiros para ligarem pra minha mãe. A queda da Lisa conseguiu chocar até mesmo os avaliadores, como fiquei na base de baixo para fugir dos ruídos, fiquei escutando a conversa deles e vi como ficaram preocupados quando ela deslizou até as redes e bateu com força as costelas ali. Não sei como ela estava conseguindo andar, mas agora que me arrastou até a casa dela, estou percebendo sua dificuldade.

Nós estamos deitadas no ofurô que ela tem na varanda do quarto, e ela está cansada, ofegante, rangendo a cada movimento mínimo que seja. Ela não está bem, amanhã não aguentará de tanta dor, mas é teimosa e não me deixou lavá-la ao hospital quando saímos do colégio, ela disse que queria relaxar em casa e me pediu de pés juntos para que eu viesse junto com ela. Eu não sou fã de dormir fora de casa... sendo bem sincera, é uma das situações que eu mais odeio, mas ela insistiu tanto que acabei cedendo. Fiquei ainda mais tranquila quando ela disse que a casa estaria vazia porque os pais tinham levado a avó dela a casa de uma tia. Graças a Deus.

— Você não está bem.

— É só um pouco de dor, Hanna... eu estou magnífica — ela abre um sorriso. Sei que ela está feliz porque o time foi classificado para Nova Iorque, mas seria egoísmo da minha parte ficar um pouco triste com sua partida? Não sei como vou fazer sem Lisa aqui, nunca fiquei tanto tempo longe dela, será tortuoso. E sei que quando acabar o colégio serei obrigada a ficar longe definitivamente, até porque vamos entrar na faculdade, mas a faculdade que Lisa quer ir não tem nada a ver com a minha... então será difícil. Só de pensar nisso minha garganta embola e tenho vontade de chorar.

Apoio os braços na borda da jacuzzi e fico de costas para ela, observando as estrelas, sentindo a brisa noturna. Eu estou cansada de ser tão antisocial, eu poderia ser um pouco menos... seria menos cansativo. Endureço dos pés a cabeça quando sinto Lisa escorar o corpo atrás do meu, apoiando o queixo em meu ombro, cafungando meu pescoço. Fico rígida, mas sei que ela está tentando decifrar meus pensamentos, ela sempre faz isto quando fico muito tempo quieta. Lisa cutuca meu abdômen, me tirando uma risadinha. Eu não me imagino em um mundo onde Lisa não esteja me irritando, ela sempre me tira do sério, a maioria das vezes quando dormimos juntas, ela simplesmente surta de manhã, então começa a correr atrás do meu irmão para gastar sua própria energia. Ela tem a personalidade de uma criança, é incansável, é por isso que investiu nos esportes, se ela não tivesse uma fonte para gastar energia não seria minimamente suportável ficar perto dela as seis da manhã.