trinta e oito.

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Point of View: Maya.
[🦋]

Peguei a tinta marrom, pintando seus traços na tela. Realmente estava passando o desenho daquele dia pra tela, e estava ficando bem mais bonito do que imaginava.

Tirei os fones ao ouvir a campainha tocar, levantei, indo até a porta.

- Garota, o que é isso?

- Posso? - Ayla perguntou, com uma mochila nas costas e uma mala ao lado.

- Claro!! - Dei espaço e ela entrou, fungando. Assim que fechei a porta e nos olhamos, ela voltou a chorar. - Ei, calma. - Nos abraçamos forte, enquanto sentia suas lágrimas no meu ombro. - Vem cá. - Fomos até a cozinha e ela sentou na cadeira. - Temos água e vinho, pelo seu estado, vinho, né?

- Por favor. - Peguei a taça. - Não! Água, água. - A olhei, ainda pegando a taça, mas colocando água gelada, enquanto ela bebia.

Sentei na sua frente e a encarei, segurando sua mão.

- Irmã... O que aconteceu? Ele não fez o que tô pensando, né?

- Não... Não que eu saiba, né? Mas nós terminamos.

- Mas, do nada? Ou foi aquilo que nós conversamos? - Ela ia falar, mas colocou a mão no bolso da calça, colocando um teste de gravidez na mesa. Arregalei os olhos como nunca e peguei aos poucos, vendo o positivo. - Ayla...

- Tem mais. - Abriu o zíper da mochila, tirando mais três testes de marcas diferentes e um papel, com exame de sangue.

- Caralho... Eu não entendi nada desse, mas pelos de farmácia, não deve estar falando nada que não saiba. - Levantei o papel, enquanto ela ria fraco. - Mas, eu não entendo. Isso não é bom? Ele não gostou da notícia.

- Eu nem cheguei a contar. - A olhei com expressão de dúvida, arregalando os olhos em seguida.

- Não é dele???

- Maya! - Ela gargalhou. - Lógico que é dele, cara.

- Que susto. - Coloquei a mão no peito. - Ah parou a adivinhação, conta logo.

-Está... Estava tudo ótimo com a gente, como esteve esse ano todo, acho que é o ano em que estivemos mais estáveis. Eu ia conversar com ele sobre o que te disse aquele dia no carro, estava confiante, até porque, de uns tempos pra cá, ele tem se mostrado cada vez mais atencioso com o que tô sentindo.

- Han... - Soltei. - Calma, eu que preciso de um vinho. - Peguei outra taça, virando a garrafa, voltando a prestar atenção.

- De uns dias pra cá, comecei a me sentir mal, enjoo, dor de cabeça, aqueles sintomas que a gente sabe e mesmo estando perto de menstruar, sentia que tinha algo diferente. De qualquer forma esperei, e quando atrasou, já fui fazer o teste, e bom... ta aí o resultado.

- Fez hoje?

- No começo da semana. Depois que vi os positivos, virou uma chavinha na cabeça, irmã. Esses dias um cara chegou baleada, juro, era igualzinho ele. Balearam no peito, não resistiu e na hora que eu vi a família dele chegando, juro... - Passou a mão no rosto. - O Dr. Harrys avisando que ele não tinha sobrevivido, o estado que a mulher dele ficou, a carinha do filhinho deles de quem não estava entendendo, juro. Eu não quero isso pra mim, Maya. Muito menos pra esse serzinho aqui. - Colocou a mão na barriga, enquanto as lágrimas voltavam a cair.

- Meu Deus, Ayla... - Segurei as duas mãos dela.

- Se eu já não estava aguentando vivenciar tudo isso sozinha, imagina com um filho? Não quero criar alguém no meio disso. - Chorou mais.

- Eu nem imagino o que está passando na sua cabeça agora. Mas, o que você falou pra ele?

- Eu falei que essa vida não me cabia, que tinha cansado, que não aguentava mais.

- O que por um lado não é mentira né, irmã?

- Não, mas porra. Meu sonho sempre foi formar uma família com esse cara, que ele fosse pai dos meus filhos mas... não aqui. Não nessa realidade. Eu não ia aguentar ficar sem ele, mas ver meu filho perder o pai pra essa merda de vida, ia me matar por dentro.

- É, crescer nisso aqui gera muitos anos de terapia na vida adulta.

- Já dizia você e Kendrick Lamar, life is a bitch. - Dei uma risadinha.

- Bota bitch nisso. - Cada uma pegou sua taça e brindamos, as duas se afundando na cadeira. - E como ele ficou?

- Acho que pior que eu. Foi difícil, muito. Ver o rostinho dele enquanto eu falava tudo aquilo.

- E qual é o seu plano? Conversar com ele depois? Falar de gravidez e mudar de bairro?

- Não falar e ir embora com você?

- Ayla, não né?

- Irmã, é o plano perfeito. Quando você resolver todos os documentos da casa e quiser ir, nós vamos. Ou você não quer mais ir? Que agora você com o Oscar, vai saber?

- Irma, calma. - Segurei a mão dela de novo, enquanto ela ria. - Eu... Eu ainda vou. Sair do bairro pelo menos, mas não sei se vai ser agora, talvez só ano que vem consiga resolver tudo. E até lá como fica a barriga?

- Uso roupa larga? - A olhei. - Tá, eu vou pensar em uma solução. Mas por enquanto, é essa a minha decisão...

- E eu a respeito. Só não concordo com a decisão só futuro, mas a de agora eu entendo.

- Vai ser muito abuso pedir pra ficar aqui?

- Claro que não, irmã. Você sempre será bem vinda e minha casa é sua. Vocês, né? - A olhei, que riu, passando a mão no rosto. - Não acredito que vou ser titia... - Nos rimos.

- Imagine eu? Por Díos. - Colocou a mão na barriga e eu levantei, pegando um pote de sorvete. - Mentira que vai reproduzir os clichês de filme?

Arqueei a sobrancelha, esticando o pote, enquanto ela ria fraco, pegando o pote. Peguei duas colheres e sentei no sofá, enquanto ela abria, pegando uma colherada e encostando a cabeça no meu ombro, voltando a chorar.

Senti meu celular vibrar e olhei rapidamente, vendo mensagem do Oscar.

Oscar
Acho que nossa noite tá cancelada, né?

Ri fraco ao ver a foto do Sad sentado na cadeira da cozinha, virando uma garrafa de vodka.

Peguei uma colherada de sorvete também e encostei minha cabeça na dela, suspirando.

(...)

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Delito | Oscar DiazWhere stories live. Discover now