Capítulo 28

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— Qual setor? — Pergunto me aproximando de uma das enfermeiras junto a um paciente. — Está autorizada?

— Como? — Ela arqueia uma sombrancelha.

— Desculpe, posso conversar com você? — Peço para a enfermeira que está paralisada.

Ela força um sorriso, deixando o paciente sozinho na sala.

— Está maluca? — Seu tom de voz muda. — Chamando a minha atenção na frente do paciente, qual é a sua?

— Por isso pedi para conversar longe dele. — Explico. — Quero que me explique o porquê o seu paciente está sendo encaminhado para a medicação? No prontuário não pede nada.

— Ele é meu paciente! — Ela muda o peso de uma perna para outra. — O médico responsável que me mandou.

— E não deixou registrado? — Meu tom fica autoritário.

— Você não sabe o caso! Você é só uma estudante, o que acha que está fazendo?

Meu sangue esquenta.

— Não sei, talvez eu esteja pergunta para uma das enfermeiras de um dos centros médicos mais importante do estado o porquê está levando um paciente, aparentemente saudável, para tomar medicamento? — Meu espanto é claro.

— O Doutor responsável pediu. — Seus olhos procuram qualquer canto que não seja os meus olhos.

— Quem?

— Como?

— Qual Doutor? — Mantenho o tom de voz firme. — Se esse é o problema, me fala quem é e eu não faço mais perguntas.

Um, duas, três vezes. Seus olhos piscam rápido demais, procurando por nomes.

— Não ouviu a Doutora? — Doutor Oliver pergunta assim que entra no nosso campo de vista. — Qual foi o Doutor que te orientou, enfermeira?

Ela se mexe, desconfortável, negando com a cabeça lentamente.

— Me desculpe...

...

Durante o trabalho da faculdade com Patrick, minha cabeça não para de pensar em Taila, a enfermeira.

— Acha errado uma pessoa ser exonerada do cargo por envolver o profissional com o pessoal? — Pergunto para o meu colega de turma.

Seus olhos tiram a atenção das anotações para mim.

— É claro. — Ele responde de imediato, me encarando em seguida. — Mas qual o caso?

— Dar medicação para um familiar viciado dentro do hospital, sem prescrição médica nenhuma.

Sua postura fica ereta na cadeira.

— Ah... calma. — Guilherme, na outra mesa me encara seriamente. — Não foi você, foi?

— Não! Claro que não. Qual o seu problema?...

— Não sei, eu não sei — ele responde rápido levantando as mãos em rendição. — Você namora um funkeiro... Hariel é viciado, todo mundo sabe.

— O que?! — Choque.

— Cara? — Patrick encara o amigo boquiaberto. — É sério?

— Nossa, que idiota — Tiffy balança a cabeça enquanto sai da mesa. — Deveria pedir desculpas. Isso é crime, sabia? Assim como você sofre racismo e preconceito, quem tá no funk sofre o mesmo. Hipócrita.

— Meu Deus gente, eu só perguntei! Não estava mentindo — ele olha para nós três. — Mas me desculpa Made, se fui ofensivo.

— É claro que foi — fixo os olhos com tamanha hipocrisia.

Tiffy sai de perto do amigo, sentando ao meu lado na nossa mesa — minha e de Patrick.

— E não, não é errado uma pessoa ser exonerada do cargo por isso — Patrick responde com os olhos nas anotações. — É o certo.

...

— Que vacilão — Hariel balança a cabeça indignado enquanto se concentra na estrada em frente. — Que cara vacilão, como ele fala uma coisa dessas para você?

— Eu pensei que seria Patrick quem faria comentários escrotos assim...

— É sempre quem menos esperamos.

Encosto a cabeça no banco, observando a estrada.

— É triste pensar nisso; como as pessoas vêem o funk.

— É até normal... — Hariel ri sem nenhuma graça. — Mostramos como realmente são as pessoas que moram nas favelas. São trabalhadores, pessoas que venceram, pessoas que perderam, fome, desemprego, educação escassa... Tudo isso é o que cantamos, mas eles só vêem o tráfico.

Concordo com a cabeça.

— Se eles soubessem...

— Eles sabem, só não fazem nada para mudar.

HIPNOSE | 2Où les histoires vivent. Découvrez maintenant