Capítulo 17 - Hariel.

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— Júlio, da lá um jeito — peço para um dos seguranças apontando escada acima.

— Que ideia é essa? — Paiva me olha em reprovação. — Vacilão, hein.

Ignoro despejando o suco no copo.
Que merda eu fiz.

— Você tá brincando — ele continua. — Esconder um bagulho sério para não te machucar é uma coisa, mas ela nunca te traiu não viado.

Perdi a moral.

— Quem tá traindo aqui, Paiva? — encarei seu rosto ainda de sono. — Não é namoro, não tô traindo ninguém.

Que merda eu fiz.

— Tá irmão — ele se levanta e descansa uma das mãos no meu ombro quando diz: — Só não cobra consideração quando nem isso você tá tendo. Depois não diz que eu não avisei.

A ânsia me atinge forte quando bebo todo o suco.

...

Durante as duas semanas que se passaram, Made me mandava mensagens para nos encontrarmos. Quanto mais tempo passava, menos desculpas eu encontrava.

E ela sentia, ela sabia.
Não mandou mais.

Eu me sentia um infeliz, talvez estivesse com medo de sujar toda a sua pele frágil com toda a nojeira que me tornei.

Nas duas semanas tentei esquecer das garras de outras garotas, dos beijos e toques.

Joguei a cabeça para trás do banco enquanto encarava a enorme fila de carros que prolongava o trânsito.

"— Ela ainda não acordou? — Kiara sorriu assim que me juntei ao café.

— Dormindo como um anjinho.

— Que bom... — ela tentou manter o contato visual, mas perdeu assim que limpou a garganta. — Não imagino o quão difícil deve estar sendo para vocês dois.

Suas mãos foram até a garrafa de café, despejando na xícara.

— Helena me contou que ela tinha muita insônia antes de te conhecer — ela continua com um sorriso, fazendo meus dois amigos na mesa sorrir junto. Mas o seu rosto logo se entristece. — Devia ser apavorante acordar com o corpo morrendo enquanto tudo o que você quer é viver...

Junto as sobrancelhas, sem entender.

Será que ela já fumou o da manhã?

— Ah não — ela percebe a minha expressão. — Isso não vai mais acontecer você sabe né, mas só graças a quimioterapia.

Disfarço como o mundo pareceu girar mais rápido.

— Quimioterapia? — forço um sorriso. — Para que?

Ela me olha séria, dessa vez a exclamação está em seu rosto.

Kiara sobe os olhos até a figura que está ao meu lado. Helena balança a cabeça para um lado e para o outro, fechando os olhos.

— Eu pedi para ela contar.

— Contar o que? — me levanto perdendo o controle da minha respiração. — Helena.

— A Madelyin tem leucemia, Hariel. — Ela me encara nos olhos. — A Made tem câncer.

Meus lábios me traem, revelando a graça. Mas os meus olhos viajam para a mesa, onde agora João e Kiara evitam me olhar.

Meus amigos encontram objetos sem se quer repararem no que estão olhando.

"Putss" — os dois lamentam.

— Não — balanço a cabeça. — Claro que não, ela me contaria. Nao, não. Não tem o porquê esconder um bagulho sério desses. Não.

Respiro fundo, levando as mãos até a nuca. Olho mais uma vez para Helena, e depois para João e Kiara.

Não...

— Eu pedi ela em casamento... — Não havia percebido as lágrimas até elas se manifestarem. — Ela aceitou... — rio sem graça. — Ela aceitou.

Madelyin, a Made... A minha namorada tinha leucemia. Tinha leucemia e eu não sabia...

O que eu era?

Balanço a cabeça mais uma vez.

Que merda eu faço?"

A buzina canta o que parece ser várias vezes atrás de mim, fazendo afastar toda a memória de um dia ruim. Uma fase ruim. Lembranças ruins.

...

Mudei a capa. O conceito era os dois livros ter a capa com ele de costas, mas não estava legal...
XOXOX

HIPNOSE | 2Onde histórias criam vida. Descubra agora