Capítulo 1

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Capítulo 1.

— E o senhor consegue ir sozinho? — pergunto com as mãos sobre o ombro do senhor, indicando a direção da saída.

— Consigo sim, minha cara — ele me lança um sorriso por cima da coluna corcunda. — O rapazinho infelizmente não conseguiu entrar como o meu acompanhante, mas disse me esperar no estacionamento.

— Quer que eu acompanhe o senhor até lá?

— Ah não, não. Não precisa — ele gesticula com a mão. — A doutora é muito ocupada.

Sorrio com a palavra Doutora, me sentindo.

Felizmente, não são todos os motoristas que deixam as vítimas de acidentes de carro sem prestar socorro. Infelizmente quase todos abandonam as vítimas em frente aos hospitais. Não me surpreenderia se o rapaz ao qual o senhor mencionou tenha o deixado sozinho.

— Se o senhor quiser eu posso pedir um motorista no aplicativo. — Dou a opção assim que chegamos no estacionamento.

Tento fazer um escudo com o braço do vento em meio ao frio da noite de São Paulo.

— Não precisa — ele sorri agradecido. — Insisti para o rapaz não pagar com nenhum custo então ele me ofereceu a carona.

— Que insensível, ele que empurrou o carro contra o senhor. Sem querer, mas foi ele.

— Ah não, não. Foi o outro motorista, ele estava atrás.

Como eu suspeitava.

— Ok, me ajuda a ajudar o senhor a achar o carro. — Indico com a cabeça para o estacionamento adentro.

Ele concorda com a cabeça, segurando o meu jaleco como suporte enquanto caminhamos.

— Ali — ele aponta para o carro todo preto — , ali está o danado.

Sorrio com a forma que ele chama uma pessoa que conheceu a pouco tempo.

Assim que viro o rosto, a fumaça branca e o cheiro forte de maconha são trazidos com o vento forte, me fazendo balançar a mão em frente ao rosto.

Assim que respiro o ar fresco novamente, parece que perco o ar com a imagem à minha frente.

— Mocinho, você não pode continuar com isso, faz muito mal a saúde — o senhor da a volta no carro, indo até o lado do motorista, onde Hariel tem a touca do moletom preto sobre a cabeça.

Ele me olha como se decifrasse alguma coisa, com a pele pálida e o nariz vermelho do frio ele coloca uma expressão neutra no rosto e encara o pequeno senhor que já está a sua frente.

— Como ficou esse braço, senhor Yuind? — a sua voz é rouca, do mesmo jeito que me lembro há um ano atrás.

— Ah esse velho braço ainda tem muita história para contar, graças a loura que costurou muito bem. — Ele me olha com um sorriso largo, fazendo Hariel se forçar a me encarar.

Talvez tenha se passado um longo tempo com os dois me olhando, como se esperassem pelo meu pronunciamento.

— Como eu expliquei para o senhor, daqui 7 dias precisa voltar para tirar os pontos. — Respondo olhando para Yuind, sem nenhuma coragem de encarar Hariel.

— E vai ser a doutora mesmo que vai tirar?

— Não senhor, talvez uma de nossas enfermeiras, mas se o senhor procurar por mim, talvez eu esteja e te atenda.

Dou o meu melhor sorriso lançado apenas para o pequeno idoso cujo sotaque e aparência sejam coreanos.

— Obrigada doutora, até daqui 7 dias.

Concordo com a cabeça e dou um leve tchau com a mão, a enfiando novamente no jaleco por conta do frio.

Saio o mais rápido do estacionamento, ainda ouvindo o senhor falar sobre as suturas. Tudo o que eu mais desejo é sair do campo de vista de Hariel.

Assim que entro no hospital, vejo a imagem da expressão fria e indiferente de Hariel. Mesmo tão chocado quanto eu, ele ainda soube manter o equilíbrio, já eu deixei bem amostra o meu pavor só pelas palavras falhando.

HIPNOSE | 2Where stories live. Discover now