Capítulo 9

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Sinto o meu corpo suado e frio.
Não, não é o câncer, repito para mim mesma.

Evito deixar as memórias invadirem o meu subconsciente, apesar de já saber que é só um sonho:

Estou na cama do hospital, meus pais estão ao meu lado. Helena está na ponta da cama, com um sorriso iluminado, grata por estar tudo bem comigo.

— Você é forte, aguenta tudo. — Ela diz se aproximando para me abraçar. — Eu te amo.

Acordo fraca. Passo a mão no rosto e sinto o suor na testa até a nuca.

Não foi só um sonho, isso já aconteceu.

...

— Eu não disse isso! — João coloca a mão na boca sem acreditar.

— E ainda disse "caiu na rede, é peixe". — Kiara o lembra.

— Cantada de biólogo, gente — Thalita gargalha sem parar, me fazendo rir junto.

Apesar de estar um clima muito pesado, ninguém tocou no assunto. Mesmo todos juntos, menos Helena, ninguém fez questão.

Até quem eu imaginava pensar tudo o que Helena disse, está aqui. De uma forma estranha de admitir, gosto de como Thalita faz todos rir e puxa o máximo de assunto possível, enquanto passa a mão nos pelos de Flyin.

Ela me lança alguns olhares, como: "está tudo bem?" ou... "estamos aqui, tá?".

Não que eu precise, mas é importante saber que eles não pensam como Helena.

O fim do meu tratamento completou um mês ontem, mas como era dia da semana, eles deixaram para comemorar hoje.

Todos já esperavam o previsto; O começo do tratamento iria acabar comigo, assim como acabou com a minha autoestima e psicológico, mas foi exatamente o que os médicos alertaram. Nos últimos meses foi tudo tranquilo, os efeitos colaterais diminuíram até não fazer mais efeito nenhum.

Eu me sinto nova. Me sinto viva.

No mês passado viajei até os meus pais, comemoramos juntos com um jantar, a energia vibrante.

Helena não foi.
Assim como não veio hoje.

...

— Parabéns, Doutora — Eden me cutuca com uma prancheta. — Como se sente?

— Ótima. — Mostro um sorriso largo. — Como soube?

Ele dá de ombros, dando a entender que eu já sei como.

— Ela contou tudo? — pergunto fingindo arrumar o carimbo.

— Nem precisou — ele se escore na parede ao lado. — Eu ouvi tudo lá na formatura.

Forço um sorriso, fixando os olhos no chão, evitando não chorar. Então ele continua.

— Enfim, não vim só dar os parabéns pelo tratamento... — Ele dá um soquinho no meu ombro. — Te vi com ele.

Meus olhos encontram os dele surpresa.

— Que?

— Helena pediu pra te procurar, quando te achei vocês estavam sumindo de vista. — Ele abre um sorriso quando percebe a minha reação de mais surpresa. — Relaxa, não contei para ninguém.

...

Quando saio do Hospital, tudo o que sei é que preciso desesperadamente da minha casa. Os meus olhos estão pesados e o corpo leve até demais.

— Ei! — me viro seguindo a voz.

Hariel sai do carro, vindo na minha direção.

— Oi! — Respondo surpresa.

Ele chega perto, mas ambos não sabem como se cumprimentar.

— Eu não sabia como entrar em contato, então...

— O meu número ainda é o mesmo — respondo,  tentando não ser grossa.

— Ah...

— Olha, eu adoraria poder conversar agora, mas eu estou realmente e extremamente cansada — sorrio sem graça, piscando os olhos lentamente algumas vezes.

— Fica de boa — ele coloca as mãos no bolso, erguendo o corpo. — Quer uma carona?

— Ah! Não precisa, fica tranquilo.

— Vamos Made, você está cansada, é perigoso voltar assim.

Abro a boca para argumentar, mas fecho logo em seguida.

Caminho até o carro, percebendo os olhos de Hariel em mim a todo momento.

Eu sei, é constrangedor ou alguma coisa assim. Mas quando tudo o que você deseja é a sua cama, você aceita até carona do seu ex namorado que te deixou deprimida por meses.

HIPNOSE | 2Onde histórias criam vida. Descubra agora