Capítulo 7

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— Não quero ficar aqui — resmunga João enquanto fica na fila das bebidas, longe do palco.

— Eu fico! — Kiara grita com um sorriso alcoolizado.

— Não, eu fico — anuncio. — Vocês dois não podem ficar sozinhos para pegar bebidas, estão bebendo até as que eu peço!

Kiara concorda com a cabeça, ligeiramente bêbada, já sonolenta.

— São duas garrafas, Made. — João puxa Kiara para longe. — Não demora se não a Helena surta!

Reviro os olhos o ignorando. Helena mal falou com nós três desde quando chegamos.

Já se passaram algumas horas dês da cerimônia de formatura, tudo o que eu fiz foi cuidar dos dois.

...

Depois de quase uma hora na fila do banheiro,  finalmente me sinto liberta quando saio da cabine. Isso que dá beber muito.

Penso em me olhar no espelho antes de sair do banheiro feminino, porém, além de ter muita gente se espremendo para se ver, eu não tenho certeza se quero ver o meu estado.

Sinto o meu corpo suado e o meu cabelo grudando, mas me recuso a amarrar. Pego um pedaço de papel e passo perto do nariz afim de tirar toda oleosidade. Coloco o óculos que Kiara me deu, já que evitei usar a noite toda e saio.

— Aqui — João se aproxima com dois copos cheios quando volto. — Peguei um para você e esse é para a Helena — ele se apressa em avisar. — Tem um cara super gato me esperando.

Pego os dois copos enquanto ele sai em disparada para longe.

Dou um gole sem pensar duas vezes e ando em direção às meninas.

Meu corpo está pesado, mas a minha cabeça parece flutuar, sorrio com a sensação.
Poxa, estou muito bêbada.

Antes que eu possa dar mais um gole da bebida, uma das minhas mãos é atingida e tudo o que vejo é o líquido cair no chão sem que eu possa fazer nada.

— O meu filho! — Grito. — Não olha para onde anda, não?

— Se liga, você que estava andando sem olhar... — Assim que a voz se cala, eu me obrigo a olhar:

— Ah não... — fecho os olhos lamentando. — De novo. 

Sua respiração é forçada tão alto que nem o barulho de fundo abafa. 

— Você está em todo lugar? — Hariel revira os olhos. 

— Ah claro... É porque estou te seguindo — reviro os olhos com a ironia. — Agora eu estou sem bebida. 

Olho para uma das mãos vazia, tentando disfarçar o nervosismo. 

— E eu com isso? — Ele responde ríspido, saindo do caminho. 

— Qual é, Hariel? — Grito sem paciência. 

Shiiiii!!! — ele se vira, pegando o meu braço e me levando para atrás de uma van, para longe. — Não grita o meu nome.

É claro que ninguém podia vê-lo no meio da multidão, cai a minha ficha.

Assim que o meu corpo encontra a parede atrás, a minha respiração fica pesada. Sinto o seu antebraço na minha cintura, fazendo o meu peito subir e descer.  

Ele não diz nada, mas nem precisa. Os seus olhos viajam pelo meu rosto, fixando na minha boca. 

— Kiss-me? — ele sorri de lado quando lê o óculos, molhando os lábios vermelhos na altura do meu nariz, me fazendo sentir o cheiro de menta escondendo o cheiro de álcool.

Ele chega perto, roçando os lábios perto dos meus, me puxando pela cintura enquanto deixa o toque me arrepiar. Tudo o que consigo pensar é na minha boca na dele, no seu corpo ereto, me provocando enquanto se afasta devagar. 

Entro no jogo, ignorando todo o fato do porquê não estamos mais juntos, ignorando todo o tempo que passamos longe um do outro e, claro, a dignidade que me resta. Se é que me resta alguma. 

Molho os meus lábios e puxo os dele para perto, colocando a palma da minha mão na sua nuca, puxando de leve. 

— Foda-se. — Ele pressiona a língua para dentro da minha boca, enrolando na minha. 

Arfo quando o seu toque aperta a minha cintura contra o seu corpo, descendo a boca pela minha mandíbula, indo para o meu pescoço e voltando para a minha boca. 

Só quando o copo cai que eu percebo que estava com o outro copo ainda na mão. 

Ele respira contra a minha boca enquanto se afasta, hesitante. 

— Bom, parece que agora Helena também está sem bebida. — Falo mais para mim mesma do que para ele. 

Quando me aproximo novamente, ele segura o meu braço, evitando.

Meus olhos se arregalam com a brutalidade. Tiro o meu braço da sua mão com força, balançando a cabeça com os olhos sérios, sem entender. 

— Agora você me odeia? — pergunto com a voz falha, já sabendo a resposta. 

Ele respira fundo olhando para os lados até parar o olhos em um ponto fixo, sem falar nada. Sua boca ainda está vermelha, mas dessa vez forma uma linha.

Pisco os olhos algumas vezes, esperando por algum sinal. 

— Eu não sei o que estava esperando — falo. 

Ele balança os ombros, colocando a mão no bolso da calça, me olhando com pura decepção. 

— Me desculpa... — a minha voz sai mais como um sussurro tentando evitar que as lágrimas não caiam. Eu falho, claro. 

— Para... — ele olha para cima, evitando o mesmo. 

Respiro fundo, limpando o rosto e colocando o dedo para que futuras lágrimas não venham. 

Ele se aproxima, colocando as duas mãos no meu pescoço, me puxando para si. Inalo o seu perfume aconchegando o rosto na sua blusa, sentindo o calor do seu corpo vindo junto com algum tipo de conforto. 

Por mais que eu tente não chorar, ainda assim as lágrimas insistem em cair. Durante meses tudo o que eu queria era alguns segundos disso. 

Por fim ele se afasta lentamente, depositando um beijo na minha testa. 

— Podemos conversar? — pergunto. 

— Agora não — ele pigarra. — Preciso me apresentar. 

— Ok... — mordo a bochecha por dentro. — Quando? 

— Eu te procuro. 

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