Capítulo 26

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— Estão todos falando de vocês, sabe — Kiara alisa os pelos de Flyin.

— O que? Como?

— Ele é o Hariel, Made. É claro que iriam saber com quem ele está saindo — seus olhos fixam nos meus. — Ele deve sofrer bastante pressão, né?

— Como assim?

— Sei lá... Shows, eventos, entrevistas, parcerias, propagandas... essas coisas.

— É... — Limpo a garganta. — Ele não fala dessas coisas comigo.

— E sobre o que vocês conversam?

— Ah, de tudo. Mas eu acho que, bom... não sei, ele tenta manter o profissional longe quando está comigo. Eu acho bom, parece que é o momento de paz de nós dois.

— Fico feliz por vocês, mesmo que não tenham oficializado nada — seus olhos somem nas sardas da bochecha quando ela sorri. — Ambos merecem.

É impossível não sorrir.

...

— Hey — dou um saltinho quando os braços de Hariel se abrem. — Que saudade.

O cheiro, o conforto do seu abraço... paz.

— Também estava — seus dedos viajam pela raiz do meu cabelo, fazendo carinho enquanto nossos corpos se apertam.

— Como foi em Manaus? — pergunto caminhando para saída do campus. — Não sabia que iria vir.

— É caminho para casa — ele aperta o meu corpo de lado.

— Nunca mais fui...

— Made! — A voz do Guilherme ecoa pelo caminho de paralelepípedos. — Desculpa interromper — ele nos encara sem fôlego. — Aqui está tudo sobre a grade do próximo semestre que me pediu.

— Ah — agradeço deixando os meus olhos viajarem até Patrick, que espera o amigo em uma distância considerável... intrometida. Patrick não perde a oportunidade de nos encarar curiosamente com as mãos no bolso. — Não precisava me entregar hoje, mas obrigada.

— Sem problemas, se eu deixasse para amanhã, esqueceria — Guilherme cumprimenta Hariel com a parte superior do corpo para baixo; o jeito certo de se cumprimentar alguém, segundo a sua cultura coreana. — Prazer.

— Prazer — Hariel sorri estendendo a mão. Ambos apertam a mão um do outro com sorrisos simpáticos.

— Vamos? — Aperto o braço de Hariel. — Tchau Gui, obrigada.

Ele se despede indo até Patrick novamente.

Hariel não pergunta, mas me encara a todo momento.

— O que foi? — faço careta abrindo a porta do carro.

— Eu não disse nada.

— Mas tá me olhando assim. O que foi?

— Nada, só fiquei curioso. Quem é ele?

— Quem? O Guilherme?

— Não, o outro — suas mãos vão até o volante.

— Patrick?

— U-hum.

— Ele é da minha turma.

— Parecia bem preocupado com quem você estava — ele sorri de canto. — Antes de perceber quem sou eu.

— Convencido — fixo os olhos balançando a cabeça. — Amanhã todo mundo já vai saber com quem eu estava. E acho pouco provável ser o Guilherme quem vai contar.

— O coreano?

— Sim.

...

— Como está tudo diferente... — meus dedos tocaram os novos móveis.

A casa de Hariel ainda era a mesma; incrível. Mas estava mudada.

A última vez em que estive aqui, era tudo vazio e sem vida. Agora, na enorme sala de entrada, sofás claramente caros e um enorme piano ocupam o espaço. Algumas plantas de decoração e quadros, exalam um ótimo bom gosto para arte.

Ao mesmo tempo que é tudo tão claro, por conta das entradas de vidros e os mármores brilhantes, por algum motivo é confortável, aconchegante.

— Mudei tudo nos últimos meses... — Hariel indicou a escada. — Eu... bom, eu quis deixar exatamente como me lembrava de você. Sabe?

Subi as escadas de vagar, encarando o rosto suave de Hariel.

Ele percebeu a confusão no meu rosto.

— Você é limpa Made, é fora da minha realidade — ele continuou. — Na primeira vez que dormiu aqui, quando o dia nasceu, a primeira coisa que vi foi o seu cabelo; perfeitamente loiro caído sobre os seus ombros, a sua boca bem desenhada entreaberta, suas sardas nos braços... Nossa! Eu queria te pintar, compôr uma música daquele momento, sei lá, registrar.

Sabe aqueles momentos que você sente que pode eternizar para sempre na memória? É esse. Mas não atrapalhei, deixei que ele continuasse.

— Eu precisei fumar muito naquele dia, só para te afastar da minha cabeça. — Seu corpo se escora na parede ao fim da escada com as mãos no bolso da calça e os olhos presos nos meus. — Foi tão rápido, fui tão acelerado quando estava com você... Foi tudo tão certo e errado que eu só queria te falar "ei, eu te amo. Preciso de mais momentos assim, preciso mais de você comigo. Não vai".

— Por isso me pediu em casamento...

— Foi. — Seus olhos desviaram do meu. — Hoje eu sei que te cobrei muito. Você estava passando por tantas coisas, eu era novo na sua vida. Por mais apaixonado que estivesse, não tinha o direito de te... — Sua língua limpou os lábios. — Exigir alguma coisa.

— Estávamos juntos nessa — minhas mãos foram até o seu rosto. — Só demos passos muito longos.

Os olhos de Hariel se fecharam a cada toque em seus rosto.

— Mas eu ainda te amo. — Suas palavras foram como um choque na minha pele, todo o meu corpo se arrepiou. — Nunca deixei de te amar.

Seus lábios viajaram até os meus, e com um sussurro ainda sobre os meus lábios: — Não é para você reagir com o que eu disse, é só para saber.

HIPNOSE | 2Where stories live. Discover now