2.2 - Estresse Pós-Roubo

55 19 127
                                    

Ela não conseguiu.

Izolda sempre foi muito sedentária num nível que se der três passos correndo já é suficiente para ela ficar exausta. E assim, Abelardo, mesmo com peso elevado, consegue desaparecer rapidamente na névoa.

Frustrada e nervosa, a senhorinha faz o caminho de volta para casa em passos mais lentos dos que deu quando ia ao beco. Ela pensa em gritar por ajuda, para que liguem para a polícia e assim o faz. Porém, enquanto grita ouve tiros repentinos que a interrompem.

A coitada faz o possível para chegar logo à sua casa, temendo que aqueles fossem os disparos contra a sua filha. Na própria residência, ela se senta à mesa e se entope de biscoito Cream Cracker até amanhecer.

Por volta das quatro da manhã, ela adormece com a cabeça virada para trás no encosto da cadeira. Na mesa e também no chão, diversos pacotes vazios e farelos.

Minutos após o sol resplandecer, Izolda ouve um grito do seu esposo chamando pelo seu nome lá do lado de fora. Cheia de olheira e com cara de zumbi, ela vai se arrastando até a porta.

Quando abre, não vê apenas Veloso, mas a família principal inteira. Inclusive Dídala em carne e osso.

— Filha, você voltou do inferno!?

— É o quê, mãe? — As sobrancelhas ruivas ficam mais arqueadas do que já são.

— Você não tinha morrido?! — Os olhos azuis da mãe só faltam saltar da cara.

— Nada disso, eu estou vivíssima! — diz a moça, com os braços cruzados e olhar altivo. Porém, em seguida, passa a se estressar: — Mas desde quando a senhora acha que eu vou pro inferno? Eu venho aqui lhe fazer uma visita e você me vem com isso?!

— Deixa pra lá! — Izolda joga as mãos para frente num gesto de despreocupação. — O importante é que você está viva.

— Começou, agora termina! — Dídala ordena, com a sua voz imperiosa e então indaga: — Por que você achou que eu tinha morrido, mãe?

— Ai, tá! — A idosa revira os olhos e começa a se encher de nervosismo novamente. — Ontem à noite um bandido me ligou e ficou me ameaçando dizendo que ia te matar se eu não entregasse todo o dinheiro da aposentadoria de Veloso.

— E por acaso a senhora entregou?!!!! — Dídala indaga, com um tom e olhar assombrosos.

— Eeerr... — Izolda engole seco.

— Mãããããããe....

— Entreguei...

Esta breve resposta causa em Veloso uma dor como se mil agulhas furassem o seu coração ao mesmo tempo. E então, começa a arfar desorientado:

— Ai! Ai, meu Deus! Minha pressão baixou!

— Calma, pai! — diz Dídala ao tentar segurá-lo. — Vai dar tudo certo. E se não der, eu faço dar.

— Desmaiei. — Subitamente o senhor se joga no chão para sentirem pena dele.

Dídala considera absurda a atitude tomada pela mãe e não hesita em recriminá-la:

— Meu Deus do céu, mãe! Você foi muito burra!

— Para de me criticar! — Os olhinhos claros de Izolda começam a expelir lágrimas de nervosismo. — Eu tava sob pressão com aquele desgraçado ameaçando te encher de tiro!

— Mulher, me poupe! — Dídala balança a cara em negação, num gesto de descaso. — Era mais fácil ele morrer pra mim do que eu morrer pra ele.

— Na hora eu não consegui raciocinar direito! Era muita pressão em cima de mim! — a idosa exclama com a voz trêmula.

ProblemáticosWhere stories live. Discover now