Hoje é um dia muito especial na Rua dos Cornos, pois Izolda e Veloso completam 30 anos de casamento. Isso poderia até ser algo normal, mas dado o lugar onde eles moram, em que, constantemente, relacionamentos acabam devido a brigas e traições, pode-se considerar um recorde os velhinhos terem passado três décadas juntos.
Ciente de que Dídala mal deve se lembrar do aniversário matrimonial, Izolda decide informar à moça, que se encontra na área de serviço lavando suas próprias calcinhas fio-dental em uma grande bacia.
— Bom dia, filha! — a senhora cumprimenta emanando positividade.
— Não tem nada de bom! — Dídala resmunga ao passo que faz mais força para esfregar suas roupas íntimas.
— Credo, calma! — Izolda franze o cenho. — Que estresse é esse?
— Mulher — Dídala apoia as mãos na pia —, você acredita que um cavalo cagou bem na nossa calçada?
— E daí? Hoje é aniversário do meu casamento com Veloso! — Com os dedos entrelaçados, os olhos da senhora viram estrelas de tão animada que está.
— Grande bosta. - Dídala faz cara de tédio. — Só não é tão grande quanto a que tá lá fora. Pense num tolete enorme! — Ela usa as mãos para ilustrar. — É três vezes o tamanho dessa bacia!
— Ai, que saco! Eu querendo falar de coisa boa e você aí falando de merda! — Izolda reclama de braços cruzados.
— Então sai daqui, sua cabra velha! — Dídala se irrita e vira a cara.
— Ei, eu sou sua mãe! — a velhinha ergue seu corpo, ficando de ponta de pé para chegar perto da cara da filha e intimidá-la.
— Sim, e eu não sou mais criança! — Dídala logo retruca. — Enquanto eu trabalho em casa e no meu emprego, a senhora passa o dia todo comendo e dormindo. O jogo virou, então agora eu dou as ordens.
— Mas você só chegou até aqui graças a mim e ao seu pai que lhe demos uma criação muito boa! — Izolda argumenta apontando o indicador repetidas vezes.
— E hoje em dia, vocês dois só têm uma vida digna graças a mim, porque se dependesse de Rosa, vocês estariam comendo reboco de parede! — Dídala fala ao mesmo tempo que se dirige ao quintal com a bacia em mãos.
— ... — a senhora fica amuada e abaixa a cabeça.
— Pois é. Como sempre, eu estou certa — a mais jovem se enaltece e em seguida espreme uma calcinha de renda.
— Pensando bem, você é uma ótima filha, Dídala — Izolda elogia bem atrás dela.
— Verdade, sou mesmo.
— É uma filha tão bondosa que poderiam existir dez iguais a você!
— Hum — Dídala arqueia uma sobrancelha —, fala logo o que você tá querendo pedir.
— Eerr... — Izolda fica sem saber como começar, mas logo desenrola. — Eu só queria que você fizesse um bolo de seis andares com recheio de prestígio, cobertura de chocolate, morangos, chantily, granulado, M&M, 30 velas e uma foto minha com Veloso gravada em cima do bolo.
— Pra vocês, eu não faço nem um bolo de ovos! — Dídala responde com o braço erguido e o indicador levantado.
— Valha, mulher... — Izolda se espanta. — Por quê?
— Eu vou lá fazer bexiga de bolo pra velho! — Dídala resmunga com desdém enquanto estende uma calcinha no varal.
— Ou, filha... Por favor! — A senhora junta a palma das mãos.
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Problemáticos
ГуморUm conjunto de histórias de humor protagonizadas principalmente por Dídala, a pessoa mais arrogante do mundo, pois não nasceu para ter paciência com gente lerda, dramática ou preguiçosa. Ela mora na Rua dos Cornos, um lugar completamente maluco porq...