3.1 - Enterro Conturbado

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Ao redor da Praça da Penetração, encontram-se vários estabelecimentos comerciais como restaurantes, lanchonetes, lojas e, claro, cabarés. A maioria é propriedade de Marcele, mas há um estabelecimento em específico que não lhe pertence. Trata-se da Funerária Descanso Eterno, cujo dono está à beira de um ataque de nervos:

— Mas que saco, meus caixões já estão se enchendo de poeira! — Passa o dedo. — Não aguento mais ver tantos velhos quebrando a economia desse país! — Ele soca um manequim de idoso a tal ponto que a representação humana cai sem cabeça. — Eles precisam morrer pra eu poder lucrar!

Bufando de raiva, ele avista pela vidraça alguém chorando lá fora sentado na calçada e decide ir ver.

— Ei, jovem!

— Oi, moço... — Otrom responde tentando engolir o choro.

— Por que você tá chorando? — Alfred indaga com olhar de preocupação.

— Porque minha mãe foi esmagada por uma pedra e ela era a única pessoa que me amava na vida!!! — Ao dizer isso, suas lágrimas começam a escorrer muito rápido.

— Coisas ruins acontecem e não podemos fazer nada pra evitá-las, certo?

— Mas comigo é direto! — o jovem fala com a voz aguda devido aos prantos. — Meu pai me abandonou, minha tia só liga pros próprios filhos e agora minha mãe morreu!

— Olha, você já é adulto — Alfred pondera. — Pode muito bem se virar sozinho.

— Mas eu gosto de ter uma companhia — diz em tom manhoso —, apesar que pelo visto, faço pouco sucesso entre as mulheres...

— Pouco ou nenhum? — o homem murmura olhando distante.

— O que disse?

— Nada! — Alfred sorri para então sugerir. — Que tal fazer um velório bem bonito pra você se despedir da sua mãe?

— Boa ideia, mas onde eu vou arranjar um caixão?

— Conheça a Funerária Descanso Eterno — anuncia puxando o jovem pelo braço para entrar —, venha aproveitar nossas promoções imperdíveis!

Dentro do estabelecimento, Otrom depara-se com caixões não só destinados a humanos, mas também a animais de estimação, selvagens, insetos e até objetos.

— Temos bastante variedade. — Alfred apresenta os modelos extra GG.

— Por que você tá me mostrando caixões gigantes como se minha mãe fosse obesa? — o rapaz pergunta ainda choramingando.

Numa rápida reação, o vendedor pega Otrom pela cintura e o coloca diante de caixões menos espaçosos:

— Aqui estão os menores. Apesar que se sua mãe foi esmagada por inteiro, não faz tanta diferença o tamanho do caixão, porque ela deve ter ficado só o bagaço.

— POR QUE VOCÊ DISSE ISSO?! — Litros voltam a escorrer pelo rosto do jovem. — BUÁÁÁÁÁÁÁÁ!

— Calma, desculpa! — Alfred levanta as mãos como se estivesse se rendendo. — Não foi minha intenção!

— Tá... — Ele soluça e funga com o nariz. — Mas agora só de birra eu vou comprar o maior caixão de todos!

— É aquele ali roxo. — O vendedor aponta. — Tem certeza? É o mais caro, custa 50 mil. Sem contar que a decoração do velório mais a viagem até o cemitério são 5 mil.

— Não estou preocupado com preço — ele responde sério e convicto. — Estou preocupado em dar o melhor velório possível pra pessoa que me botou nesse mundo!

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