Chá

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Pov Jennie:

Já se passava das quatro de tarde, quando eu cruzava a cidade para fazer não sei o que na casa da Sn, mas eu realmente queria ver como ela estava.

Ao lado do condomínio dela, havia um parque onde eu passei na frente, e por um breve segundo, vi Sn deitada na grama, e ao seu lado, tinha um cachorro.

Dei meia volta com o carro, e estacionei não muito longe e desci, indo até ela.

-Achei que estivesse doente.

Parei a sua frente, a garota estava de óculos escuros e com uma máscara, o cachorro estava quase igual, lhe faltava apenas a máscara, e ambos estavam com a barriga para cima, esparramados na grama.

-O sol é meu melhor remédio.

Ela diz, e então retira seu óculos, e se senta na grama, me abaixo e ela da duas batidinhas, me convidando para sentar ao seu lado.

-O que veio fazer aqui?

Sua pergunta não veio ignorante, senti que ela estava apenas curiosa, e me observava atentamente.

-Me senti mal por ontem, eu vim trazer um pouco de comida para você.

Retiro da pequena bolsa, uma garrafa transparente, dentro havia suco de laranja.

-Vitamina C.

Ela concorda com a cabeça e abre, bebendo um pouco.

Pego também um pote de tamanho médio dentro da bolsa, e lhe dou.

-Salada de frutas?

Ela observou bem, e então pegou um pequeno palito que eu havia colocado ali no meio da salada.

-Sim, tem kiwi, abacaxi, morango, laranja, acerola e limão, coloquei um pingo de mel nele, por causa do limão, espero que não se importe.

Digo rápido e com vergonha, e tudo que recebo, é um sorriso sincero por parte dela.

-Eu não me importo não, obrigada!

Ela diz e então começa a comer as frutas, e come com gosto, sorrio para isso.

-Os seus pais não cuidam de você quando está doente? Por que está aqui no chão com esse cachorro, pode pegar alguma bactéria.

Percebo que, gradativamente, o seu sorriso some, e então ela adota uma feição mais mórbida.

-Meus pais só trabalham, eu acho que eles foram viajar... Não vejo eles tem mais de duas semanas, e eles também não me dizem nada, sobre onde estão, tudo o que tenho é dinheiro, a qual eles me mandam, como forma de recompensar suas faltas em minha vida, e não se preocupe, eu cresci no meio dos bichos e plantas, na verdade, o que me deixou doente não foi a chuva.

Confusão era eufemismo para mim, e quando ela percebe isso, logo trata de se explicar.

-É febre emocional!

Ela diz indiferente, então volta a comer.

Com calma, eu começo:

-É por causa do seus pais?

Ela para novamente de comer, e me olha, então uma alta gargalhada se faz presente.

-Não Kim! Eu não ligo para os meus pais, estou com saudades da minha vó, mas não poderei visitá-la até às férias começar.

Profere e então suspira.

-Minha vó está no Brasil, cuidando da minha bisa, meus pais queriam pagar uma instalação ótima para a bisa, mas minha vó insistiu em ficar perto da mãe, eu acredito que logo ela não estará mais entre a gente.

Assinto e então pego a sua mão.

-Caso for a hora dela, não fique triste, isso acontece com todos.

Ela concorda e então continua a comer.

-Como ontem eu arrumei a sua bicicleta, tive que ir até a oficina de meu pai, aquele lugar estava repleto de poeira, e eu tenho rinite, junte os dois, e você já sabe... Não há loratadina que aguente.

Ela fala de maneira engraçada, e então eu acabo rindo, e ela me olha com falsa indignação, mas depois começa a rir também.

-Sn, você não fuma não né?

Ela faz uma careta estranha, e então nega com a cabeça, terminando sua salada de frutas, e me devolvendo o pote.

-Acredite ou não, eu tenho alergia a tabaco, pode ser uma benção, mas as vezes, é uma maldição.

Ela diz, e então, ao nosso lado, passa um senhor fumando, ela coloca a mão no nariz rapidamente e só depois de o homem estar longe o suficiente, ela retira a mão de lá.

-Deve ser difícil morar em um lugar onde 30% da população é fumante.

Digo e ela concorda.

-Pelo menos a maioria deles respeitam o uso do cigarro, em local apropriado, no Brasil, você podia estar andando na rua, que do seu lado, vai ter umas duas ou três pessoas fumando, e elas não tem respeitam.

Ela diz com graça, e eu apenas a observo.

-Ah, esqueci de dizer, eu trouxe também chá de gengibre, mel e limão para você.

Dei a ela a garrafa que ainda estava na bolsa e vi ela não fazer uma cara muito feliz.

-Ehh... Obrigado, eu acho.

Ela diz e então abre a garrafa, aspirando o sabor e então colocando a mão na boca, logo em seguida.

-O que? Não está tão ruim assim, eu sou uma cozinheira de mão cheia.

Disse ofendida por tal reação, mas ela logo se pronuncia:

-Não, não é isso... Eu só... Odeio chá.

Diz e então eu abro a boca, desacreditada.

-Uma vez, antes de eu descobrir que tinha rinite, meu pai achou que eu estava doente, ele me fez tomar mais de um litro de chá de alho com limão, eu nunca passei tanto mal na minha vida, depois disso, acabei pegando trauma de qualquer coisa que se relacione a chá.

Confessa e então suspira triste.

-Eu não queria que você pensasse isso, então agora eu vou tomar.

Ela diz e então abre de novo a garrafa, a virando em sua boca rapidamente.

-Sn, você não precisa fazer isso.

Nada a faz mudar de opinião, mas vejo o sofrimento que ela está fazendo para tomar aquilo, olhos bem pressionados, juro que até consegui ver uma lágrima saindo deles.

Alguns segundos depois, ela retira rapidamente de seus lábios, a garrafa, e então tosse um pouco, virando para o lado para respirar com calma.

Percebo que seu ato, acabou assustando o cachorro, que acordou de um possível sono, e então nos observou, enquanto eu batia de leves em suas costas, para lhe desengasgar.

-Tá bom Sn, já se provou, pode me dar a garrafa, não farei você tomar algo que não goste.

Ela estende a garrafa pra mim, e eu a guardo, logo em seguida, ela termina o restante do suco de laranja, bebendo com gosto, e me devolve o vasilhame.

-Tenho certeza que amanhã estarei melhor, Jennie, obrigada.

Ela diz, e o cachorro com óculos escuros me encara, depois vem ate mim, e começa a me cheirar.

-Eu acabei nem apresentando vocês, Jennie, esse é Pachel, Pachel, essa é Jennie, como se diz garoto?

Ele late e vem até mim, por um momento fiquei com medo, mas quando percebi que era só para receber carinho, cedi e fiz carinho nele.

-Você é um fofo, hum?

Logo o cachorro se aconchegou em minhas pernas, e ali ficou.

-Bem... Acho que já fui trocada.

Dita Sn, e eu não posso deixar de rir.

[IMAGINE] O abismo entre: Amor e AmizadeWhere stories live. Discover now