Capítulo 35: Nós podemos conversar?

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Minha mãe estava olhando para Alfredo como se ele fosse um alienígena. Não sabia se deveria achar aquilo engraçado, fofo ou preocupante. Pelo menos Pietro parecia estar se divertindo bastante com aquele almoço esquisito. Alfredo não parava de puxar assunto com a minha mãe, querendo saber o que ela fazia pra convencer alguém a comprar uma casa, já que trabalhava com isso. Minha mãe estava respondendo tudo, enquanto Alfredo prestava muita atenção, como se realmente estivesse interessado no assunto.

—Como estão as coisas na padaria? —Indaguei, tentando deixar a interação estranha da minha mãe com Alfredo de lado.

—Muito bem. Acho que em alguns dias vamos poder abrir. —Pietro estava com um sorriso muito grande ao falar aquilo. Não tinha como não perceber o quanto ele estava feliz por estar conseguindo aquele lugar. Um lugar dele. —Nem acredito que vou ter meu próprio negócio. Em algum momento eu me acomodei no café e não pensei mais em sair de lá.

—Mais um ponto para o super-herói Ian que te convenceu a fazer algo com esse talento. —Toquei a mão dele, vendo-o suspirar e entrelaçar nossos dedos.

—Sim, preciso agradecer muito a ele. Mas ainda vamos ser sócios. Agora, tanto da padaria como do café. —Ele ergueu minha mão e deixou um beijo nas costas dela. —Quero que você seja a primeira a ver tudo pronto.

—Eu? Por quê? —Indaguei, sentindo minhas bochechas corarem pela forma que ele me olhava.

—Você pintou as paredes comigo, esqueceu? Tem um pedaço seu lá também. —Ele se inclinou para perto de mim. —Inclusive, preciso da sua ajuda em algo.

—O que? —Ele sorriu, desviando os olhos para a comida em seu prato. —Vai me deixar no escuro igual com o presente?

—Sim, eu vou. —Ele voltou a comer, me lançando um olhar iluminado. —Mas posso te dizer que tem muito chocolate envolvido nisso.

—Chocolate? —Fiz uma careta, abrindo um sorriso. —Está inventando alguma coisa nova?

—Você vai descobrir. —Ele piscou pra mim, enquanto eu mordia o interior da bochecha, sentindo uma vontade absurda de abraçá-lo e beija-lo. Nosso único contato hoje foi um abraço demorado, porque ficamos super sem jeitos perto da minha mãe. Ela não precisava presenciar um beijo nosso. Pelo menos não agora.

Eu nem sabia o que tínhamos. Queria pensar que era sério. Mas também não queria me decepcionar.

—Aí, princesa, você precisa de um ajudante? —Alfredo apontou para si próprio. —Porque eu tô precisando muito mesmo de um emprego agora.

—Você já tem um emprego. —Pietro afirmou, antes que eu respondesse.

—Eu tenho? —Tanto eu como Alfredo fizemos uma careta. —Ian vai me dar um emprego?

—Não, eu vou te dar um emprego. —Pietro olhou pra ele, abrindo um sorriso pequeno. —Ainda é bom em exatas? Porque preciso de alguém pra cuidar da parte...

—Sim... Puta que pariu, sim! —Alfredo exclamou, se virando para minha mãe na mesma hora, quando ela se engasgou com a água. —Desculpa, tia. Juro que não fico falando palavrão na frente da sua filha! —Ele se virou para o irmão. —É sério?

Pietro soltou uma risada, balançando a cabeça afirmativamente.

—Por que não seria? Você é meu irmão. Sei que é inteligente pra caramba. Sou bom em cozinhar, não em administrar. —Pietro deu de ombros. —Acho que seria bom pra nós dois.

—Puta q... —Alfredo parou, se virando pra minha mãe com um sorriso sem graça. —Sim, sim, realmente muito bom. Não tem nada que eu possa querer mais. —Ele olhou pra mim, com um sorriso muito, muito grande. —Eu tenho um emprego, princesa.

—Eu vi. —Sorri de volta pra ele. —Com seu irmão.

—Sou muito sortudo, não? —Ele olhou para Pietro, com aquele sorriso imenso.

Lá estava, aquele brilho adorável nos olhos, que eu sabia que significava amor. Porque eles eram tudo um para o outro. E eu acho que também era muito sortuda por tê-los conhecido.

[...]

Puxei a chave da floricultura, enquanto observava com um pequeno sorriso minha mãe olhar desconfiada para Alfredo, enquanto Pietro parecia querer rir. Ela podia não o achar adorável, mas também era difícil não gostar dele.

—Você quer companhia, tia? —Alfredo indagou, logo depois que minha mãe disse que precisava passar no mercado.

—Não, pode ir fazer suas coisas. Obrigada. —Ela olhou pra ele com os olhos cerrados, ajeitando o cachecol no pescoço.

—Eu não tenho absolutamente nada pra fazer. Vou ficar muitíssimo feliz de acompanhá-la. —Ele parou ao lado dela, estendendo o braço em um gesto cavalheiro que me fez soltar uma risadinha.

—Eu posso ir sozinha. Não vou comprar muita coisa. —Ela o dispensou com um aceno de mão.

—Poxa, tia, estou começando a achar que a senhora não gostou de mim. —Alfredo levou a mão ao peito, enquanto fazia uma cara de quem ia chorar. —Eu sou tão amável, gentil e nem falo palavrões. Chamo até sua filha de princesa. —Minha mãe revirou os olhos. —Estou de coração partido, sabia? Pensei que a senhora tinha gostado de mim.

—Meu Deus, ele é sempre assim? —Ela se virou para Pietro, que estava se segurando para não rir.

—Assim como, tia? —Alfredo indagou, erguendo as sobrancelhas várias vezes pra ela. —Vai aceitar minha companhia?

—Tudo bem! —Ela soltou um suspiro derrotado, aceitando o braço. —Vamos logo, antes que eu me arrependa de ter aceitado. Mas você pare de graça, menino...

Alfredo abriu um sorriso vitorioso e acenou pra nós dois, antes de se afastar com a minha mãe, que não parava de tagarelar ao lado dele. Observei os dois desaparecerem na rua, sabendo que até o final do dia minha mãe já vai ter virado melhor amiga de Alfredo.

—Você precisa ir...

Eu me virei para Pietro, sendo interrompida pelos lábios dele que grudaram nos meus, enquanto ele me empurrava para dentro da floricultura. Seu beijo foi um pouco afobado, como se ele estivesse ansioso demais por aquilo que não conseguisse se conter. Ele soltou uma risada quando nós dois tropeçamos juntos e batemos contra uma das mesas, fazendo os vasos balançarem sobre ela.

Mas nenhum de nós dois se afastou. Pietro segurou meu rosto entre as mãos, me beijando com mais calma dessa vez, como se quisesse apreciar cada segundo daquele momento. O abracei pela cintura, tendo que ficar na ponta dos pés para alcançar sua boca.

—Senti sua falta. —Ele beijou minhas bochechas. —Meu dia está tão cheio, mas pensei em você o tempo todo, sabia?

—Eu senti sua falta também. —Ele me abraçou apertado, deixando os lábios encostados na minha testa. —Você vai estar ocupado a noite? Pode jantar lá em casa. Você e o Alfredo. Vou fazer algo que você me ensinou.

Ele abriu um sorriso, observando meu rosto com a cabeça um pouco inclinada para o lado. Mas em vez de responder, ele segurou minha nuca e me beijou de novo, me apertando contra si.

—Eu acho uma ótima ideia. —Ele me beijou de novo. Mas se afastou com uma careta quando seu celular começou a tocar sem parar. —Preciso ir, meu bem. O dia está meio louco hoje.

—Tudo bem. —Abri um sorriso triste, porque queria ficar mais tempo com ele.

Me lembro quando fiquei extremamente nervosa na primeira vez que ele foi na minha casa. E agora, mal ele foi embora e já quero ele por perto de novo. Pietro se despediu de mim, me enchendo de beijos. Fiquei observando ele se afastar na rua depois, antes de ser obrigada a atender a cliente que havia aparecido.

—Acho que estou apaixonada, Azeitona. —Falei, enchendo o potinho dele de ração. Azeitona me encarou por alguns segundos, me fazendo rir. —É assustador, sabia?

Azeitona soltou um choramingo e começou a comer, enquanto eu sorria e negava com a cabeça. Escutei o sino da floricultura tocar e me encaminhei para a frente da loja. O sorriso que estava no meu rosto morreu, ao mesmo tempo que minha alegria ia completamente embora.

—Oi. —Cameron abriu um sorriso, enfiando as mãos no bolso da jaqueta. —Nós podemos conversar?



Continua...

Docemente Apaixonados / Vol. 1Where stories live. Discover now