Capítulo 17: Fazenda.

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Hermione

Não sei porque eu aceitei ir com eles. Não me pareceu uma boa ideia em nenhum momento. Toda a família dele estaria lá para comemorar o aniversário de casamento da mãe com o padrasto. O que significa que vai ter muita gente e muito barulho. Duas coisas específicas que eu faço de tudo para evitar. Mas não consegui dizer não a Pietro quando ele estava bem na minha frente, me encarando com tanta intensidade que em deixava sem graça.

Agora eu estava ali, sentada no banco de trás do carro, fazendo uma lista mental de coisas que eu deveria evitar quando estivesse lá. Nada de comidas com corantes. Nada de ficar perto de coisas propensas a sons muito altos. Nada de conversas que podem acabar sendo direcionadas a minha vida pessoal.

Na verdade, essa é uma lista que está presentes nos post its colados nas paredes da minha casa. Não posso lembrar de fazer isso apenas nesse tipo de evento, mas todos os dias.

Por algum motivo que eu não entendia, Pietro e Alfredo estavam em silencio desde o início da viagem. Não sou de reparar, mas a tensão no ar estava me deixando desconfortável. Sei que eles tem problemas com a mãe, mas sinto falta de vê-los interagindo juntos, rindo e brincando um com o outro. Comecei a pensar que não vou gostar da mãe deles. Não vou gostar nem um pouco dela.

—Pietro me disse que seu pai está na Itália. —Alfredo abriu a boca depois de vários minutos em silencio. O visual da cidade já havia dado lugar as florestas e campos, além das montanhas no horizonte. —Ele está gostando de lá?

—Ah, sim. Ele me disse que é um dos lugares mais lindos que já visitou. E ele já visitou muitos lugares. —Afirmei, escutando uma risada dele. —Vocês nunca mais foram pra lá depois que se mudaram?

—Não. Não tínhamos muito tempo para viagens. Nem mesmo nas férias. —Pietro respondeu, lançando um olhar que eu não entendi a Pietro. —Mas acho que esse ano vamos mudar isso.

—O que quer dizer? —Indaguei, fazendo uma careta. —Vocês vão viajar pra Itália?

—Estamos pensando nisso. —Foi Alfredo quem respondeu, com um sorriso muito grande nos lábios, que parecia significar muito mais do que aparentava. —Planos futuros, princesa.

Fiquei em silencio, voltando a observar a paisagem pela janela. Aquilo parecia algo de Alfredo e Pietro, que eu definitivamente não precisava entender. Na verdade, estava começando a perceber que estava com saudades de Azeitona. Ele havia sido deixado com um Ian muito sorridente, mas eu ainda ficava preocupada.

—Ei, Hermione? —Olhei para o espelho, vendo que Pietro estava me observando por ele, apesar de estar dirigindo. —Já te falei algumas coisas sobre a minha família. Minha mãe é um pouco complicada, mas ela é uma boa pessoa. Se ela for desagradável com você em algum momento, me fala, está bem? Ela tende a ser um pouco...

—Narcisista? —Alfreto tombou a cabeça na direção de Pietro. —Egoísta? Desagradável? Grossa? Irresponsável?

—Tudo bem, cara. A gente já entendeu. —Pietro afirmou, fazendo Alfredo soltar uma risada e se ajeitar no bando, dando de ombros.

—De qualquer forma, princesa, você pode fazer como a gente. —Ele se virou no banco para me olhar, me lançando um grande sorriso, com os olhos brilhando. —Se ela for desagradável, você tenta ser mil vezes pior que ela. Isso costuma deixá-la sem palavras.

—Ou mais irritada. —Pietro deu uma cotovelada em Alfredo, que resmungou algo indecifrável. —Apenas seja você mesmo, Hermione. Você é incrível. Até ela vai perceber isso.

[...]

A fazenda parecia... Bem, ela parecia o que uma fazenda deveria parecer. Havia uma casa imensa de dois andares que parecia um chalé. Cercas brancas que dividiam a estrada de terra dos campos verdes repleto de vacas e ovelhas. Um celeiro vermelho onde eu podia ver dois cachorros correndo atrás de um grupo de crianças. Um lago refletindo o céu azul antes da linha das árvores.

Me encolhi no banco ao ver os vários carros estacionados na frente da casa e alguns grupos de pessoas na varanda. Pessoas demais para cumprimentar e conhecer. Sentimentos demais para absorver. Ali estava o motivo que me fazia ficar em casa com Azeitona, em vez de confraternizar com pessoas de verdade

—Vamos enfrentar a fera! —Alfredo exclamou, assim que Pietro estacionou o carro.

Tirei o cinto, ao mesmo tempo que Alfredo já havia descido do carro e estava dando a volta para nos esperar. Esperei Pietro descer também, só então me sentindo confortável para sair do carro. Observei que algumas pessoas estavam olhando na nossa direção com um misto de expressões, mas desviei os olhos deles e foquei em Pietro, que estava olhando pra mim e sorrindo.

—Obrigada por ter vindo. —Afirmou, me fazendo abrir um sorriso tímido e apertar o tecido da jardineira que eu usava.

A mesma jardineira que eu usei quando pintamos juntos aquelas paredes. Ela estava manchada de tinta branca em vários pontos, mas eu a achava ainda mais fofa de usar daquele jeito. E Pietro ficou olhando pra ela quando me viu essa manhã. Esperava que ele também se lembrasse daquele dia como eu costumo lembrar.

Quero dizer a ele tantas coisas, mas nunca sei como.

—Vamos cumprimentar todo mundo e ai podemos dar uma volta pela fazenda, está bem? —Indagou, enquanto eu assentia com a cabeça, abrindo um sorriso um pouco ansioso.

—Espero que esse convite me envolva também, princeso. —Alfredo bateu no ombro dele, antes de caminhar em direção a casa. —Não vou ficar aguentando todos eles sozinhos.

—Tenho certeza que você vai sobreviver. Temo pela vida deles que vão passar tempo demais com você. —Pietro afirmou, fazendo o irmão resmungar alguma coisa e rir.

Segui os dois um pouco sem jeito, subindo os pequenos degraus da varanda e os vendo cumprimentar todo mundo que estava ali. Fui apresentada diversas vezes, sorrindo minimamente e tentando parecer o mais normal possível, enquanto aquelas pessoas velhas e novas falavam sem parar, perguntando coisas sobre mim e me elogiando. Outros falavam coisas em italiano que eu não fazia ideia do que significava e que Pietro respondia em meu nome.

Mas então nós três finalmente chegamos a porta de entrada, depois de uma rodada de apertos de mãos e abraços estranhos. Tudo bem, não foi tão ruim quanto eu esperava, porque Pietro ficou do meu lado o tempo todo, tocando minhas costas de leve e me guiando com cuidado pelo meio daquele grupo de pessoas.

Pensei que os dois iriam entrar na casa, mas bati nas costas de Pietro sem querer, quando os dois pararam de andar. Fiz uma careta e abri a boca para perguntar se haviam mais pessoas a cumprimentar, mas parei quando vi a bela mulher com aparência jovem que vinha caminhando de forma elegante pela sala em direção aos dois.

A mãe.
A famosa mãe.

Não estou ansiosa para conhece-la. Na verdade, acho que prefiro o grupo de pessoas na varanda a ela. Mas ela já me viu. Ela já está olhando pra mim, parada entre seus filhos. Uma garota de jardineira azul clara manchada de tinta e tranças no cabelo.


Continua...

Docemente Apaixonados / Vol. 1Where stories live. Discover now