Capítulo 14: Covinhas.

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Estávamos parados na frente da área de desembarque. Pietro olhava a hora no relógio do pulso várias vezes seguidas, como se estivesse impaciente. Azeitona estava sentado entre nós dois, observando o movimento das pessoas no aeroporto e chamando a atenção das pessoas que passavam.

—Você está bem? —Pietro se virou pra mim, erguendo as sobrancelhas ao me encarar. Fiz que sim com a cabeça, apesar de estar super ansiosa. —Você está nervosa.

—Não. —Menti, vendo ele pressionar os lábios e inclinar a cabeça na minha direção.

—Está sim. Você fica estalando os dedos quando está nervosa. Já reparei nisso. —Afirmou, com o canto dos lábios se repuxando em um sorriso quando parei de estalar os dedos.

Não era proposital. Na maioria das vezes eu nem notava que estava estalando os dedos. Era como uma resposta automática do meu corpo ao nervosismo. Mas Pietro havia notado isso. Ele havia entendido.

—Não fique nervosa. Alfredo vai adorar você. —Comentou, com o corpo voltando a posição de antes, quando ele foi checar a hora de novo. —É impossível não adorar você.

Olhei pra ele, com minhas bochechas ficando quentes e meu coração dando um salto no peito. Não tive tempo de absorver o elogio. Pietro estava com um sorriso muito grande quando começou a se afastar de mim, caminhando em direção a um rapaz que era uma cópia mais jovem dele.

Quatro anos mais novo que Pietro. Alfredo era da minha idade. Mas enquanto eu estava com minha floricultora aberta trabalhando todos os dias durante a semana, ele estava na faculdade. Minha mãe certamente ficaria realizada se eu fizesse direito em Harvard. Mas eu não sou nada do que ela esperava. Nunca fui.

Observei os dois se abraçarem, em meio a palavras abafadas e risadas. Eles pareciam tão, mas tão felizes em estarem se vendo. Os abraços longos e os sorrisos trocados. Pietro bagunçou o cabelo do irmão mais novo, falando alguma coisa em tom baixo pra ele, que o fez sorrir ainda mais.

Soltei a coleira de Azeitona quando ele choramingou, indo direto até os dois. Meu pai sempre diz que para saber a moral de uma pessoa, você precisa ver como ela reage aos animais em geral. E Alfredo se abaixou, abrindo um sorriso muito grande pra Azeitona, antes de esfregar a cabeça dele e o dar um abraço desajeitado no cachorro.

Nossa, acho que já o adoro por isso.

Agarrei a alça da minha bolsa para não voltar a estalar os dedos, agora que Pietro sabia o que eles significavam. Alfredo estava olhando pra mim. Ele parecia curioso, mas então se virou para o irmão e murmurou algo que fez as bochechas de Pietro ficarem graciosamente vermelhas.

Alfredo se levantou e então veio na minha direção. Engoli em seco e tentei abrir um sorriso, percebendo que nunca me senti tão tensa antes, depois daquele primeiro jantar com Pietro. Meus músculos ficaram rígidos e eu congelei por completo, arregalando os olhos quando Alfredo simplesmente me abraçou.

—Hermione! —Soltei o ar com força quando ele me abraçou com tanta força a ponto de tirar meus pés do chão. —É um prazer finalmente te conhecer. Meu irmão fala muito de você, sabia?

—Alfredo! —Pietro fez um barulho com a boca, parecendo reprovar a frase do irmão. Respirei aliviada quando ele me soltou de volta no chão, abrindo uma sorriso muito grande ao encarar meu rosto. —Eu disse pra você não fazer isso!

—Ignora ele, princesa. Ele costuma ser um pouco ranzinza pra idade que tem. —Ele segurou minha mão, me puxando para sairmos dali. —Vem, vou te contar todos os podres do meu irmão.

Olhei para Pietro por cima do ombro, com meu rosto pegando fogo, vendo ele puxando Azeitona para nos seguir. Quando viu que eu o observava, apenas sorriu e deu de ombros, enquanto o irmão dele tagarelava sem parar ao meu lado.

[...]

—Então é isso que vocês fazem todas as noites, ficam cozinhando e conversando sobre tudo e nada ao mesmo tempo? —Alfredo indagou, enquanto mexia em uma das panelas sobre o fogo.

—É, eu disse que era isso que fazíamos. —Pietro olhou pra ele com uma careta que fez Alfredo rir. —A mãe dela vai passar alguns dias aqui em Aspen e a Hermione quer surpreendê-la.

—Sim, você tinha me dito isso. —Alfredo olhou pra mim, com um sorriso pequeno, enquanto eu dava de ombros.

—Minha mãe costuma ser um pouco... dura em relação a minha forma de cozinhar. —Comentei, abrindo um sorriso sem graça. —Deixei queimar um bolo uma vez. Ele ficou completamente duro e a casa cheia de fumaça. Ela pensou que eu ia colocar fogo na casa. —Curvei a cabeça de lado e voltei minha atenção pra salada. —Ainda pensa isso, na verdade.

—Ah, mas isso acontece. Já deixei queimar um miojo. E olha que tudo que eu precisava fazer era colocar água e aguardar. —Afirmou, me fazendo rir e olhá-lo, vendo ele apontar dele para Pietro. —Algumas pessoas não tem talento pra isso, princesa, e outras tem de sobra.

—E que talentos você tem? —Indaguei, vendo ele abrir um sorriso muito, muito grande.

—Posso mostrar a voc... —Alfredo não terminou de falar, porque um pano de prato atingiu seu rosto em cheio.

—Não seja babaca! —Pietro agarrou o pano quando Alfredo jogou de volta pra ele, explodindo em uma risada. —Vai constrangê-la desse jeito.

—Era só brincadeira, princeso. Não precisa ficar com ciúmes! —Ele se afastou rindo quando Pietro fez menção de jogar o pano no rosto dele de novo. Não entendi absolutamente nada, mas acabei sorrindo ao acompanhar a risada de Alfredo, antes do mesmo parar ao meu lado. —Ei, eu estava brincando, está bem? Não daria em cima da garota do meu irmão.

—Alfredo! —Ouvi a voz de Pietro do outro lado da cozinha. Olhei pra ele, vendo que ele estava com as bochechas coradas enquanto encarava nós dois, o que o deixavam muito fofo.

—O que foi? —Alfredo soltou uma respiração pesada, levando a mão ao peito. —Não posso falar nada nessa casa. —Ele saiu marchando da cozinha, parecendo muito irritado, mas eu podia ver que ele estava sorrindo. —Vou deixar os pombinhos a sós. Mas por favor, sem nudez na cozinha enquanto eu estiver no quarto, crianças.

Alfredo correu no instante que o pano de prato atravessou a cozinha voando, acertando um quadro na parede ao lado do corredor, onde Alfredo estava segundos antes. Só consegui ouvir a gargalhada dele, antes de uma porta se fechar e abafar o som.

—Me perdoe por isso. Alfredo não costuma ter muito filtro e gosta de implicar. Mas não é proposital. Ela só é...

—Divertido. —Afirmei, me virando para Pietro, que agora estava bem no meu lado. —Ele não me deixou constrangia, não se preocupe. Eu o achei adorável.

—Adorável é tudo que o Alfredo não é. —Rebateu, soltando uma risada. Acabei rindo alto também, porque não estava esperando que aquela noite fosse tão boa quanto estava sendo. Ver Pietro e o irmão juntos estava sendo meu passatempo favorito, porque me faziam sorrir o tempo todo.

—Ai meu Deus! —Pietro soltou, se virando pra mim do nada.

—O que foi? —Meu sorriso morreu, enquanto eu me virava assustada pra ele, olhando para as panelas na sua frente. —Você se queimou?

—Não. —Ele me olhou, com um sorriso muito grande. Um sorriso que iluminava todo seu rosto, deixava seus olhos pequenos e as bochechas cheias. —Você tem covinhas. —Fiquei surpresa. Ainda mais quando ele se aproximou e segurou meu rosto entre as mãos, aquecendo minha pele. —Sorria pra mim de novo. —Quando não fiz, ele completou. —Por favor?

Com um calafrio percorrendo todo meu corpo, abri o maior sorriso que conseguia pra ele, vendo os próprios olhos de Pietro se iluminarem.

—Hermione Mitchell, você é a coisa mais adorável que eu já vi na minha vida. 



Continua...

Docemente Apaixonados / Vol. 1Where stories live. Discover now