Capítulo 44: Eu fiquei gripado, não surdo.

2.1K 297 38
                                    

Hermione

Pietro estava estranho. Não sabia se era porque estava cansado do trabalho ou preocupado com Alfredo, que não parava de tossir e fungar. Talvez fosse um pouco dos dois. Mas mesmo estando estranho, ele continuava me abraçando, beijando e sorrindo toda vez que eu dizia algo.

—Deveríamos ir ver um médico. —Pietro afirmou, enquanto abria a porta do carro para que eu entrasse. Alfredo fez uma careta antes de entrar no banco de trás do carro.

—Não, eu vou ficar bem. Só preciso dormir um pouco. —Alfredo afirmou, assoando o nariz, antes de colocar o cinto e afundar no banco de trás. —Eu só peguei um pouco de frio ontem a noite. Nada demais.

Nada demais. —Pietro repetiu, se sentando no banco e ligando o carro. —Amanhã se você não estiver melhor vamos no hospital. É melhor do que você ficar ai, com essa cara de quem tá morrendo.

—Tudo bem, mamãe. —Alfredo revirou os olhos e bufou, fazendo tanto eu como Pietro rirmos.

Ficamos em silêncio o restante da viagem até meu apartamento. As luzes dos postes já estavam acesas e a neve continuava caindo do céu, acumulando ainda mais no chão. Era minha época favorita do ano, apesar de eu não sair muito. Ou pelo menos não saia antes de Pietro. Mas sempre gostei de ver tudo coberto de neve, principalmente no Natal.

Agora não consigo parar de pensar em como vai ser o dia de Ação de Graças e depois a noite de Natal. Sempre passei com minha mãe ou com meu pai. Mas agora tinha Pietro. Nunca perguntei a ele onde ele passava essas datas comemorativas, mas imagino que possa ser na fazenda. Não sei se gostaria de voltar lá. Mas tenho certeza que quero passar essas datas com ele e com Alfredo.

Olhei para Pietro, vendo a atenção dele nos outros carros que passavam pela rua ao nosso redor. Como se soubesse que eu estava o observando, ele virou o rosto e me encarou, fazendo minhas bochechas corarem e meus olhos se voltarem para o chão. Sua risada me fez sorrir, mesmo que ainda estivesse tímida.

Olhei pra ele de novo quando o mesmo tirou uma das mãos do volante e segurou a minha, erguendo-a até os lábios para deixar um beijo.

—Eu vi o Cameron hoje. —Ele olhou de relance pra mim e depois para a rua de novo. Nossas mãos pousaram no seu colo, enquanto ele dirigia somente com a outra.

—Ele fez alguma coisa? —Indagou, um pouco sério demais.

—Posso amaçar a cara dele de novo se for necessário. —Alfredo comentou, antes de ter uma crise de tosse que me fez encolher no banco da frente.

—Ele não fez nada, está tudo bem. Eu estava fechando a floricultura quando ele passou pela rua com a mãe dele. —Afirmei, lembrando do momento completamente desconfortável.

Eu conhecia a família de Cameron. Gostava de todos eles. Eles também tentaram me convencer a voltar com ele. Evitei todos eles nos últimos três anos, porque não queria que viessem falar comigo sobre Cameron. Os únicos encontros por acaso que tive com eles foi estranho e constrangedores demais. Mais um dos motivos que me levavam a preferir ficar em casa.

—Eu cumprimentei os dois e fui embora. —Completei, sentindo a mão de Pietro apertar a minha. —Acho que a briga já deixou claro pra ele que é melhor ficar longe de mim.

—E você está bem? —Pietro indagou, olhando pra mim por alguns segundos antes de focar na estrada de novo.

—Sim. —Abri um sorriso, vendo ele erguer minha mão até seus lábios e a beijar de novo. —Perfeitamente bem.

[...]

Estava nevando mais do que o normal na manhã seguinte. Tanta neve que era praticamente impossível andar de carro pelas ruas. Me obriguei a caminhar até a floricultura de manhã, com minha mãe junto, pra proteger todas as plantas e flores. Mesmo lá dentro pode ser frio demais pra algumas delas.

Não costumava tirar Azeitona de casa nessa época. Frio demais sempre o deixava estranho e ele não parecia gostar. Então suas caminhadas necessárias eram pelos corredores e escadas do prédio. E o restante do tempo era ficar em casa sozinho, esperando eu voltar. Era solitário pra ele e pra mim.

—Está tão frio hoje. —Minha mãe resmungou, se segurando em mim quando escorregou no chão, quase caindo. —Se já está assim nessa época, imagine em janeiro.

—Vamos morrer congelados até lá. —Brinquei, vendo ela fazer uma careta, me fazendo sorrir.

Abri a porta, deixando que ela entrasse primeiro. Meu celular começou a tocar no mesmo segundo. Puxei o mesmo da bolsa e atendi quando vi que era Pietro.

Pietro — Ei, tudo bem? Está na floricultura?

Hermione — Sim, eu acabei de chegar. Só vou arrumar algumas plantas e voltar pra casa.

Pietro murmurou alguma coisa do outro lado da linha, soando um abafado pelo som da tosse de Alfredo ao fundo. Fiz uma careta, percebendo que ele não estava nem um pouco melhor.

Hermione — Alfredo não melhorou nem um pouco?

Pietro — Está pior. Não quis tirar ele daqui por causa do frio. Já liguei pra um médico, mas ele só pode vir a tarde. Eu preciso ir pra padaria, mas também não queria deixá-lo sozinho e...

Hermione — Eu posso ir aí e ficar com ele. Não ia abrir a floricultora. Posso cuidar dele enquanto você vai pro trabalho.

Pietro — Faria isso por mim?

Hermione — É claro que sim. Só vou arrumar umas coisas aqui e já vou ai, tudo bem? Preciso de uma meia hora.

Pietro — Tudo bem, meia hora. Obrigada, meu bem. Vou ficar eternamente grato por isso...

Ele hesitou, com a respiração um pouco rápida do outro lado.

Pietro — Queria muito abraçar e beijar você agora, sabia?

Alfredo — Nossa senhora que coisa mais fofa, princeso! Todo apaixonadinho pela namorada.

Soltei uma risada ao ouvir a voz de Alfredo mais ao fundo na ligação, sentindo minhas bochechas ficarem quentes ao mesmo tempo.

Pietro — Você não tá gritado, não? Se aquieta aí!

Alfredo — Eu fiquei gripado, não surdo. E você tá no meu quarto... Princesa, você tá vendo como ele me trata? Pelo amor de Deus vem aqui cuidar de mim!

Abri um sorriso muito grande, escutando a risada de Alfredo, junto com um resmungo envergonhado de Pietro.


Continua...

Docemente Apaixonados / Vol. 1Where stories live. Discover now