Capítulo 24: Meu bem.

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Pietro chegou antes de mim, o que me deixou surpresa já que a praça era mais perto da floricultora do que do café. Deixei minha mãe cuidando de tudo, com a explicação de que iria levar Azeitona para dar uma volta. Não estava pronta para tocar no assunto Pietro com ela de novo.

Ele estava sentado em um banco no meio da praça, com os cotovelos escorados nos joelhos e o rosto entre as mãos, enquanto fitava as floresta brancas no canteiro ao lado de uma fonte. Ele ergueu os olhos assim que Azeitona latiu na sua direção. Observei ele ficar de pé, dando uma boa olhada em mim, como se esperasse encontrar alguma coisa errada.

—Ei. —Ele abriu um daqueles seus belos sorrisos, que me deixavam com o rosto corado. Alfredo tinha um sorriso igual ao dele. Era o mesmo. Mas não surtiam em mim o mesmo efeito que os do irmão mais velho.

—Oi. —Observei ele se abaixar para agradar Azeitona, que estava quase babando na sua calça. —Sinto muito por não ter respondido suas mensagens. Eu estava só... não sei. —Abracei meu próprio corpo, envergonhada. —Obrigada pelo donuts.

—Obrigado pelo cacto. Agora eu tenho dois. Estou cuidando muito bem do outro. —Ele deixou Azeitona de lado e parou bem na minha frente, observando meu rosto. —Sua mãe brigou com você ontem?

—Hm... mais ou menos. Acho que entendo sabe. Ela queria fazer uma surpresa e em vez disso ficou o dia todo me esperando, sem notícias. —Dei de ombros, engolindo em seco. —Mas eu não tinha como imaginar, então...

—Sinto muito, Hermione. Foi eu quem te convidei. E ontem nem foi tão legal assim. —Ele se encolheu, parecendo muito triste com o fato.

—Não, eu gostei de ontem. De verdade, eu gostei. —Balancei a cabeça, soltando um suspiro. —Foi bom passar o dia todo com vocês lá. Não me importo com o que sua mãe disse. Quer dizer... nem sei o que ela disse.

—Quer que eu te ensine a falar italiano? —Pietro indagou, em meio a uma risada. Olhei pra ele por alguns segundos, surpresa com aquele convite.

—Você faria isso?

—É óbvio, não? Eu adoraria. —Afirmou, fazendo meu rosto esquentar mais ainda com o seu sorriso.

Olhei para as flores brancas ao meu lado, agarrando o tecido da calça jeans para não começar a estalar os dedos e ele perceber meu nervosismo. Pietro deu outro passo na minha direção, me fazendo voltar a encara-lo, de súbito. Eu estava pronta para dar um passo para trás, sentindo meu coração acelerar. Mas me detive quando ele aninhou meu rosto entre suas mãos.

—Ei, o que foi? —Os olhos dele fitaram cada cantinho do meu rosto, enquanto seus polegares acariciavam minhas bochechas. —Você parece tão tristinha hoje. O que está havendo? O que posso fazer por você?

Pisquei várias vezes, com um tremor percorrendo todo meu corpo ao ouvir aquelas palavras. As vezes, tinha quase certeza que Pietro podia ler minha mente. As vezes, tinha quase certeza de que ele podia ver meu interior, quem eu sou de verdade.

Estou transbordando e acho que nunca me senti assim antes.

—Eu não... eu não sei. Eu só estou... —As palavras sumiram e eu pisquei várias e várias vezes, enquanto ele aguardava. Pense, Hermione. Apenas fale. —Você já teve aqueles dias em que acorda e simplesmente não tem vontade de fazer absolutamente nada? Não aconteceu nada para te deixar triste ou desanimado, mas você sente isso. Sente que o mundo está estranho, que o dia está acinzentado e triste? Estou feliz que minha mãe está aqui. Estou feliz por tê-la por perto. Já tivemos brigas piores. Mas estou me sentindo tão vazia hoje.

Ele balançou a cabeça, mordendo o lábio enquanto me observava, sem deixar de acariciar meu rosto, sem deixar de olhar pra mim um segundo sequer. Nunca tive tanta atenção assim de alguém. Queria saber tanto o que ele pensa sobre mim.

—Eu te entendo. Já me senti assim. Muitas e muitas vezes. —Ele hesitou, como se quisesse dizer algo, mas não querendo dizer ao mesmo tempo. —O que posso fazer por você? —Repetiu a pergunta de antes. —Pode me pedir qualquer coisa. Juro, qualquer coisa.

Fechei meus olhos por alguns segundos, sentindo aquelas palavras perfurarem meu coração. Meu estômago estava acesso, como se borboletas estivessem dançando dentro dele. Gosto dessa sensação. Gosto desse frio na barriga.

—Acho que... —Eu hesitei, envergonhada, tímida. —Acho que eu só quero um abraço.

Ele soltou uma respiração tão pesada. Me puxando para os seus braços antes que eu tivesse tempo de raciocinar sobre meu próprio pedido. Seus braços deslizaram pela minha cintura, me aninhando contra seu peito. Sua testa tocou a minha por tempo o suficiente para eu perceber que ele estava encarando meus lábios. Quase me desfiz com essa percepção, sentindo meu coração martelando no peito.

Mas ele desviou os olhos, fechando os com força, antes de trazer a mão até minha cabeça e a puxa-lá, até meu rosto estar contra a curva do seu pescoço, sentindo o cheiro doce do seu perfume. Meus braços se enroscaram na sua cintura e eu podia dar certeza que era o melhor abraço que eu já havia ganhado em toda minha vida. Tinha cheiro de lar.

—Quantos abraços você precisa, meu bem? —Pietro perguntou contra minha orelha. —São todos seus. Todos os abraços que precisar e desejar, são seus.

Eu me aninhei ainda mais nos braços dele, sentindo aquele dia cinzento ficar iluminado. Poderia morar naquele abraço se ele permitisse. Aquele aperto no peito que estava comigo desde a manhã foi embora, como se o universo quisesse deixar claro que Pietro era tudo que eu precisava.

—Obrigada por estar aqui. —Afirmei baixinho, sentindo ele me apertar mais contra si, afundando o rosto nos meus cabelos.

—Obrigado por entrado na minha vida. —Ele suspirou, deslizando a mão pelas minhas costas. —Quer saber o que eu penso todas as noites antes de dormir?

—O que? —Fiquei subitamente ansiosa pela resposta dele.

—Fico me perguntando, porque nunca falei com você antes daquele dia na frente do café. Eu via você todo dia lá. Servia você e nunca tentei conversar. —Ele afastou o rosto, apenas para me encarar. E parecia muito, muito decepcionado consigo mesmo. —Você estava lá esse tempo todo, Hermione. Ao alcance das minhas mãos. E eu demorei demais.

—Eu era só a esquisita que pedia sempre a mesma coisa. —Rebati baixinho, vendo ele rir e negar com a cabeça. —Não tinha porque você falar comigo.

—Não, você sempre foi mais do que isso. —Ele me abraçou de novo, mais apertado. —Você não tem ideia do que significa pra mim, meu bem.

Meu bem.

Acho que gosto desse cara. Acho que gosto muito, muito mesmo desse cara.



Continua...

Docemente Apaixonados / Vol. 1Onde as histórias ganham vida. Descobre agora