Capítulo 34: Beijos, meu bem, no plural.

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Não pensei muito sobre aquilo. Fiquei observando a caixa por longos minutos, sentindo as lágrimas escorrerem pelas minhas bochechas. Sempre que eu olhava pra ela, tinha aquelas lembranças ruins. Mas agora tinha certeza que iria olhar pra ela e lembrar de Pietro.

"Às vezes, se apaixonar é a atitude mais corajosa que alguém pode ter.
A Coroa."

Peguei o primeiro post-it, segurando a caixa com a outra mão. Então fiquei de pé e comecei a colá-los pelas paredes livres. Não me importava se minha mãe odiaria aquilo. Mas eu precisava. Aqueles post-its eram partes de quem eu era. Não podia evitar.

"É em você que eu penso todas as noites antes de dormir e em cada momento que meus olhos se abrem ao amanhecer.
  Pietro."

Abri um sorriso, prendendo aquele post-it no meu espelho junto com os outros. Havia algo naquelas palavras que as faziam ter um significado muito maior do que só letras gravadas em um papel colorido. Eram partes do coração de Pietro. Eram os seus sentimentos. Eram tão reais quanto os meus.

"Meus sentimentos não podem ser reprimidos e preciso que me permita dizer-lhe que eu a admiro e amo ardentemente.
Orgulho e Preconceito."

"Gosto quando sorri. Mas gosto mais ainda quando eu sou o motivo dos seus sorrisos.
    Pietro."

"Você só vive uma vez. É sua obrigação aproveitar a vida da melhor forma possível.
Como Eu Era Antes de Você."

"Você é o sol dos meus dias cinzentos, meu bem. Independentemente do que aconteça, quero vê-la brilhar todos os dias.
   Pietro."

"Pode se encontrar a felicidade mesmo nas horas mais sombrias, se a pessoa se lembrar de acender a luz.
Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban."

"Você é boa demais pra esse mundo, Hermione. E eu sou sortudo demais por ter conseguido um pouco da sua atenção.
  Pietro."

Limpei minhas lágrimas, sorrindo ao ver todo meu quatro coberto por post-its de novo.

O que você está fazendo? —Minha mãe parou na porta, arregalando os olhos ao ver os post-its agora espelhados pelas paredes do quarto. —Hermione, nós já falamos sobre isso.

—Já falamos. E espero que entenda que o quarto, assim como o apartamento, são meus. —Falei baixinho, vendo ela me encarar com o rosto petrificado. —Não vou mudar só porque você não gosta do meu jeito.

—Eu amo o seu jeito! —Rebateu.

—Se amasse mesmo, não reclamaria de eu colar essas coisas nas paredes. —Afirmei, vendo ela soltar uma respiração pesada. —Não tire nada do lugar, mamãe. Essas coisas me fazem bem.

—Assim como o Pietro? —Indagou, me observando com atenção. Abri um sorriso e balancei a cabeça positivamente.

—Sim, ele me faz muito bem. —Soltei a caixa e olhei ao redor, sentindo que meu quarto parecia ainda mais acolhedor naquele momento. —Gosto dele. Gosto dele de verdade.

—Deveria contar...

—Por favor, não vamos falar disso de novo. —Pedi, mordendo o interior da bochecha. —Só quero ser uma pessoa normal.

—Você é uma pessoa normal. —Ela entrou no quarto, olhando o que estava escrito em cada papel. —E se ele gosta de você como parece gostar, não vai se importar com um detalhe como esse.

Ela tinha razão. Eu sabia que tinha. E por mais que ela estivesse certa, eu não tinha coragem o suficiente para tocar no assunto com ele. Não importa quanto tempo passe, parte das pessoas ainda vai achar que você é um problema na sociedade.

[...]

—Por que você conta as coisas pro seu pai e não pra mim? —Minha mãe indagou, me fazendo encolher os ombros. —As vezes eu me sinto excluída, sabia?

As vezes eu me sinto sufocada, mãe. É terrível.

—Eu contaria se você não surtasse o tempo todo por qualquer coisa. —Falei, dando de ombros, escutando ela soltar um barulho de incredulidade com a boca.

—Eu sou sua mãe, não me chama de doída. —Retrucou, me fazendo soltar uma risada inevitável. Por mais que ela me sufocasse as vezes, eu ainda amava aquela mulher com todo meu coração.

Parei o que estava fazendo e olhei para a tela do meu celular quando ela acendeu, revelando as mensagens de Pietro que estavam chegando naquele momento.

Pietro — Almoço no restante dos Willis em meia hora?
Tenho só algumas horas livres, mas quero pelo menos te dar um abraço hoje.
Alfredo está ansioso pra rever você.
A propósito, ele já sabe.

Hermione — Encontramos vocês lá.
Sabe o que?
O beijo?

Pietro — Beijos, meu bem, no plural.
Gostou do presente?
Pode me pagar com mais um "beijo no plural".

Meu rosto corou e eu olhei para minha mãe, apenas para ter certeza que ela não estava prestando atenção em mim naquele momento.

Hermione — Obrigada pelo presente.
É sério, nem todos os beijos do universo vão ser capazes de dizer o quanto estou grata por aquilo.
Você não tem ideia do quanto isso significou pra mim.

Pietro — Só estava tentando consertar o que aqueles babacas haviam feito.
Você é boa demais pra esse mundo, Hermione.
Mas acho que você já sabe que penso isso.

Soltei um suspiro, fechando meus olhos por alguns segundos, enquanto absorvia aquelas palavras dele. Pietro era bom demais pra mim. Bom demais pra qualquer pessoa desse planeta.

—Mãe, nós vamos almoçar todos juntos hoje. —Falei, parando ao lado dela, que estava enfiando terra em um vaso. Ela parou, erguendo os olhos pra mim.

—Nós quem? —Ela levantou as sobrancelhas.

—Eu, você, o Pietro e o irmão mais novo dele. —Abri um sorriso, vendo ela fazer uma careta. Não havia contado muita coisa sobre Pietro a ela. Apenas a parte que ele me ensinou a cozinhar algumas coisas durante as últimas semanas e que isso aproximou nós dois até esse ponto.

—Nem sabia que ele tinha um irmão. —Ela voltou a atenção para o que estava fazendo e eu me perguntei se sua versão legal já teria ido embora. Esperava que não, porque queria mais do que tudo que ela continuasse se dando bem com Pietro.

—Alfredo. Ele tem a minha idade. É adorável, tenho certeza que vai pensar o mesmo. —Abri um sorriso pra ela, que pressionou os lábios em desconfiança.

—Se você diz. —Deu de ombros, enquanto eu pegava minha bolsa pra sairmos dali, com um sorriso muito grande nos lábios.

[...]

Minha mãe achou tudo, menos Alfredo adorável.



Continua...

Docemente Apaixonados / Vol. 1Where stories live. Discover now