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Naquele mesmo dia, a previsão do tempo marcara chuvas fortes com possíveis granizos. Esse tipo de chuva me deixava assustada desde criança, lembro-me bem da vez que pedras enormes de gelo estouraram o vidro da minha adorada casa onde passei minha infância. Em compensação, decidimos aproveitar a tarde chuvosa para pensar nos planos da missa de Páscoa, a grande ressurreição de Cristo. Eu sabia que as crianças amavam essa data festiva devido a abundância de chocolates que costumávamos dar ao fim das missas, posso confessar que quando sobrava, eu roubava alguns para comer mais tarde.

Ângela, eu e mais algum amontoado de Irmãs nos reunimos na sua sala de reunião para decidir o tema pascal daquele ano, as eucaristias e algumas coisas a mais que seriam utilizadas durante a celebração.

-Não podemos chegar á uma decisão final sem o Papa, não é mesmo? - A Irmã-maior comentou. - Mas houve alguns imprevistos e ele está... - Ela conferiu deu pequeno relógio de pulso. - sete minutos atrasado.

Olhei a mesa grande e redonda, notei que haviam apenas dois lugares restantes: um ao meu lado e o outro, do lado oposto da mesa. Torcia para que Terzo sentasse de lá, para que ele não me provocasse no meio da reunião. Começamos a discussão antes mesmo dele chegar, debatemos sobre o tema da eucaristia principal e a cor do tempo pascal estava dividida entre branco ou dourado. Conhecia o Papa o suficiente para saber que ele iria escolher o dourado, que iria combinar perfeitamente com sua batina negra e mitra também dourada. Meu coração acelerou assim que a porta se abriu e revelou um Papa Emeritus III vestido com seu conjunto de blazer preto e branco, com um broche roxo não identificado preso á seu peito.

-Me desculpem o atraso, senhoritas. Tive uma breve conversa com Padre Leonardo. - Ajustando sua blusa, aconteceu o que eu mais temia: ele havia se sentado ao meu lado.

-Não se preocupe, Papa. Acabamos de começar o debate, precisaríamos de sua afirmação antes de terminamos. - Com um simpático sorriso no rosto, Ângela se explica.

Em silêncio, escutei todas ao meu redor conversarem sobre o tema, mas logo eu me desligaria e focaria em outra coisa além do debate. Brinquei com os fios soltos da toalha de mesa cor de creme, sem me importar com o que estava acontecendo. Meu corpo tomou um choque relutante quando senti a mão enluvada de Papa em minha coxa. Tentando agir naturalmente, olhei para os lados pelo canto do olho, torcendo para que nenhuma das Irmãs visse o que estava acontecendo. Um frio invadiu minha barriga quando ele apertou fortemente minha coxa através de meu hábito.

Olhei para ele e o homem estava focado em continuar a conversa com Ângela. Sem aviso prévio, a mão subiu para minha coxa e se aproximou de minha virilha. Parecia que Terzo havia mil e uma maneiras de me provocar em público, e sem exceções, eu gostava de todas. Meu peito subia e descia, procurando por ar e tentando se controlar, mas aquele moço parecia deixar tudo impossível. Na sala, olhei para o crucifixo dourado, sabendo que Cristo estava me julgando por aquilo. Dei graças aos céus pela toalha da mesa estar cobrindo toda a parte debaixo de meu corpo, assim não seria tão fácil das outras Irmãs notarem.

-...temos que pensar nas crianças. O que iremos dar para elas? - Eu admirava muito o sotaque forte italiano da Irmã-Maior, sempre ficava encantada.

-Pensei em... - Mais um apertão em minha coxa. Por pouco não atropecei em minhas palavras. - Chocolates estampados com girassóis. Podemos mandar confeccionar.

-Parece uma ótima ideia. Mais alguma sugestão?

Um silêncio pairou no ar. A mão de Papa relaxou e apoiei a minha em cima da sua, fazendo com que nossos dedos de cruzassem levemente.

-Ótimo. Temos que fazer o melhor possível, não podemos deixar nada estragar a grande ressurreição de Cristo. Será um dia memorável, não é? - Ângela ergueu as mãos. - Terzo, estamos de acordo ou há algo que queira mudar?

-Vocês fizeram um ótimo trabalho. - O polegar dele acariciou docemente sobre minha pele coberta pelo tecido do hábito. - Não será necessário fazer alteração alguma, Ângela. Por mim está tudo ótimo.

-Perfeito! Irmãs, vocês estão liberadas. - Com um aceno de cabeça, ela ordena para que todas saiam.

Ia me levantar mas a mão de Emeritus me impediu de fazer aquilo, me puxando de volta para a cadeira.

-Se importa se eu usar sua sala uns instantes, Ângela? - Com uma voz mansa e doce, ele pergunta para ela. - Preciso conversar com Irmã Marianna.

-Fique a vontade, Papa. - Antes de sair, a mulher me lançou um olhar matador, como se ela soubesse do que estava acontecendo. Do que havia acontecido na noite anterior.

Engoli em seco e apertei a mão de Terzo. Assim que ela fechou a porta, pude respirar melhor.

-Fiz algo de errado? - Perguntei baixinho.

-O que? Claro que não, doçura. - Ele se virou na cadeira, ficando frente a frente comigo. - Só quero conversar sobre algo.

Finalmente livres, ele leva nossas mãos entrelaçadas por cima da mesa, juntando suas duas mãos entre a minha, formando tipo um sanduíche.

-Quando Deus une duas pessoas, Ele sabe o que faz. Nos encontramos por um acaso, minha doçura.

Levantei uma sobrancelha, tentando entender o que ele queria dizer.

-E o amor é uma coisa ridiculamente forte, as vezes nem você mesma pode contê-lo. - Ele franziu o cenho e fez muxoxo.

-Por favor, vá direto ao ponto. - Lhe pedi, ansiosa pela sua resposta.

-Quero que assista á um casamento que irei celebrar, logo depois do dia da Páscoa. Terei uma surpresa para você.

Confesso que minhas expectativas foram altas, mas não iremos relevar sobre isso. Vindo dele, eu já sabia qual seria a surpresa. Talvez ele superasse minhas expectativas novamente.

-Eu... - Procurei pelas palavras certas. - Não sei nem o que dizer. Que horas será o casamento?

-Ás sete. Esteja lá em ponto. Assim que acabar, me encontre no altar. - Ele apertou minha mão e mostrou levemente os dentes. - Não esperava que eu fosse dizer isso?

-N-na verdade não. - Bufei, encarando nossos dedos. - Você é uma grande caixinha de surpresas.

Ele soltou uma risada doce, um som agradável de se escutar.

-Te vejo no jantar, Mari.

Terzo pegou em minha bochecha e depositou um beijo casto em meus lábios, e saiu sem dizer mais nenhuma palavra, me deixando ali, sozinha.

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Adivinha quem voltooou

Pecado DesejadoWhere stories live. Discover now