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Il Padre
Il Filio
Et Lo Spiritus Malum
Omnis Caelestis
Delenda Est

Fiquei de joelhos enquanto os ritos de comunhão acontecia, fiquei nessa posição observando todos ao meu redor, sendo absorvidos pelo poder curador de Deus e perdoados de seus pecados com o pão e vinho. Filas eram feitas para receber a hóstia, assim que o mesmo era feito, todos iam diretamente para seus lugares ou iam pra sala de orações particulares. Me levantei e tornei a sentar no banco mas senti que estava sendo observada, então virei a cabeça para checar quem estava me dando o sentimento desconfortável.

Nada. Ninguém. Apenas cristãos com as cabeças abaixadas, torcendo para que Cristo escutasse suas preces.

Virei meu olhar para o altar e lá estava Terzo me encarando fixamente, com aquele tenebroso olho branco. Minha respiração começou a ficar ofegante, me senti sufocada mas não consegui desviar o olhar. Por um momento, olhei para a imagem de Nossa Senhora e lhe pedi para que me livrasse de toda a sensação ruim que aquele Papa me dava. Mal percebi o tempo passar, parecia que estávamos tendo uma competição de olhares, e quem vencesse, sabe-se lá o que aconteceria.

-Oremos... - Todas a igreja se levantou em uníssono, prontos para escutar as preces finais e os avisos paroquiais.

Durante o resto da missa, não consegui focar em rezar, estava totalmente assombrada pelo Papa, só queria que aquilo terminasse logo para que eu pudesse jantar e ir dormir. Repentinamente, ouvi um trovão vindo do lado de fora da igreja, sinal que estava prestes a chover. E foi o que aconteceu. Fiz o sinal do Pai Nosso e saí de lá o mais rápido que pude, por sorte, ninguém tinha me chamado ou entrado no meu caminho. Fui a primeira a chegar na residência, aliviada por ter me desviado da vista de Terzo. Tinha algo nele que me intimidava, não sabia se ele era alguém de confiança, e eu não fazia ideia do porquê eu estava fugindo dele.

Tranquei a porta e rencostei nela, suspirando de alívio, mas me assustei assim que ouvi um trovão seguido de um brilhoso raio.

-Marianna? - Ouvi três batidas na porta e reconheci a voz de Irmã Cecília. - Papa Emeritus quer conversar com você.

Arregalei os olhos e mordi o lábio. Merda...

-Ele quer? - Abri a porta e Cecília assentiu com a cabeça.

-Eu sabia que ele iria gostar de você. Você só ficou nervosa, não foi nada de mais. - Mais um raio traçou os céus e pude ver o doce sorriso da Irmã.

Gaguejei sem saber o que falar, só fiquei perdida e congelada no mesmo lugar que eu estava.

-Apenas vá! - Ela me empurrou delicadamente no corredor. - Eu aviso a Ângela caso você se atrasar com o Papa.

-Irmã Cecília, eu não sei não...

-Não vai recusar o convite dele, vai?

Bufei e revirei os olhos, arrumando a batina, pronta para encontrar Terzo novamente. Atravessando a entrada da porta principal da igreja, apenas um lustre iluminava todo local, e o homem me esperava sentado no trono principal, onde á sua esquerda e direita ficariam os coroinhas.

-Me chamou, Emeritus?

-Queria te dar algo antes de todas vocês irem dormir. - Diminui o passo e parei na sua frente.

Abaixei os olhos até a região de seu torso e percebi que sua respiração estava pesada, levantando docemente sua casula preta. Papa Emeritus III se dirigiu lentamente em minha direção, me fazendo ficar com um frio gostoso na barriga.

-Quero te dar isso. - Dei um sorriso quando ele ergueu a mão, que segurava mais uma obra clássica de La Bouff.

Tomei com cuidado e passei o dedo pela capa de couro com as letras em relevo dourado. Eu tinha certeza que o Papa estava tramando algo para tirar aquele desconforto que eu tinha por ele, o mesmo parecia saber disso.

-Você vai gostar mais desse, tenho certeza. - Descendo os três degraus do altar, Terzo fica frente á frente comigo.

-Muito obrigada. - Aumentei meu sorriso para ele. - Não sei nem como retribuir.

-Como forma de retribuição, só peço que você sorrie mais, você combina com esse sorriso. - Ele também sorriu, mostrando seus dentes brancos.

Como esperado, meu coração acelerou de uma maneira inexplicável. Eu tinha certeza que eu estava com o rosto vermelho.

-Não acho motivos o suficiente pra sorrir, Papa. Esse lugar parece me manter numa gaiola. - Suspirei fundo, abraçando o livro.

-Tenho certeza que um dia irá surgir um motivo decente e verdadeiro, Marianna. Não se preocupe.

-A Irmã Cecília me disse a mesma coisa há alguns anos, ainda estou na procura. Mas nunca se sabe, não é? - Dei um sorriso amarelo.

Mais um trovão foi dado seguido de um raio, e o Papa pareceu se assustar com aquilo. Achei fofo e dei uma risadinha, tinha acabado de ter feito uma nova descoberta.

-Tem medo de trovões? - Olhei para um dos vitrais coloridos, observando a chuva forte.

-Não tenho boas memórias com trovões. Me deixou um trauma enorme na minha infância. - Ele riu, apesar da situação ter sido séria.

Com isso, ele levantou a manga da batina e mostrou uma cicatriz quase transparente, estranhamente formava a silhueta de um raio, não como em desenhos animados, mas várias linhas finas desenhadas aleatoriamente.

-Sinto muito por isso, Terzo.

-Não tem com que se preocupar, doçura. Agora virou uma memória engraçada de se lembrar.

Relaxei o rosto e analisei sua face. A forma de como fora pintado meticulosamente, de como sempre parecia que ele estava bravo, e estranhamente seus olhos marrom e branco me hipnotizavam. Fiquei perdida nos detalhes de seu rosto, e ele pareceu notar isso.

-...Marianna? - Papa me despertou e deu um sorriso.

Voltei á realidade e engoli em seco.

-Me desculpe. - Cocei o nariz, eu costumava fazer isso quando eu estava com muita vergonha ou estava desconfortável. - Acho melhor eu voltar para o dormitório, Irmã Ângela não vai gostar de saber que passei das nove. Obrigada pelo livro, Terzo.

Fiz uma reverência e voltei correndo para meu dormitório, onde pude surtar sozinha e raciocinar o que estava acontecendo naquele momento. Terzo estava jogando um jogo comigo, e eu não deixaria ele vencer tão facilmente.

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Pecado DesejadoWhere stories live. Discover now